Com iniciativa da ONG CEDAPS no Brasil, moradores de favelas e periferias participam do Programa Jovens Construtores, para desenvolvimento pessoal e profissional de jovens.
Gabriel Fernandes tem 21 anos, morador do Morro do Borel, na Zona Norte do Rio de Janeiro, conseguiu uma grande oportunidade para investir na área acadêmica e profissional. Ele participou do Programa Jovens Construtores, que na edição que aconteceu na comunidade teve formação teórica e prática na área de Educação e Prática Profissional aplicadas à construção civil. Logo após concluir o curso, Gabriel foi um dos jovens que, através do programa, participou do Intercâmbio YouthBuild – Rio de Janeiro e Boston. A iniciativa levou oito jovens de periferias para a capital do estado de Massachusetts, um dos principais polos educacionais dos Estados Unidos.
Com oito anos, na terceira série em um colégio estadual, Gabriel presenciou uma cena que, segundo ele, foi um ponto de virada na sua vida. “A minha professora perguntou qual era o sonho da vida de cada aluno. E eu me lembro de ter falado que meu sonho era sair do país e fui motivo de chacota. Eu entendi que precisava fazer o contrário do que todo mundo pensava. Eu não esperava que um curso de construção civil fosse realizar os meus sonhos”, disse o aluno do Programa, que é realizado na comunidade em parceria com o Instituto de Cidadania da Unidos da Tijuca.
O Programa Jovens Construtores é uma tecnologia social voltada para a formação profissional de jovens moradores de favelas e periferias. Originalmente concebida pela organização americana YOUTHBUILD e implementada no Brasil pelo CEDAPS – Centro de Promoção da Saúde. Os alunos colocam a mão na massa para exercer na prática tudo o que aprendem na educação profissional, oferecida pelo Programa, deixando um legado para o território onde vivem. Esse ativo, que pode ser uma reforma, construção ou ações sociais, é financiado pelo curso, deixando um bem comum na comunidade, mostrando capacidade e produtividade.
O intercâmbio foi financiado pela Fish Family Foundation (EUA) e teve uma agenda extensa: ao longo de 14 dias, os brasileiros participaram de atividades juntamente com jovens americanos, também do programa YouthBuild no país. Para Gabriel, a experiência foi o ápice da sua vida acadêmica. “Esse intercâmbio foi a maior oportunidade da minha vida. Quando eu era criança eu sempre tive o sonho de andar de avião, sair do país e, curiosamente, eu sempre quis conhecer Harvard. Através do intercâmbio eu realizei três sonhos de uma vez só. Mas lá, pude perceber um problema comum enfrentado pelos jovens brasileiros e americanos, a evasão escolar. Isso atrapalha muito a carreira profissional. E eu vou trazer esse debate para a minha comunidade”, disse.
Nos Estados Unidos, Gabriel conheceu a Lesley University (onde o grupo ficou hospedado), Harvard e o MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Lá ele trocou experiências com outros brasileiros que estudam no Instituto, o que despertou o desejo de estudar em uma instituição como aquela. Em Boston, o jovem ainda conheceu a Chelsea Collaborative, que trabalha com a garantia de direitos de imigrantes e refugiados; e a Roca, que atua junto a adolescentes e jovens egressos do sistema prisional e jovens mães. Na Prefeitura de Boston com John Barros, chefe de Desenvolvimento Econômico da cidade, e o brasileiro Álvaro Lima, Diretor de Pesquisas, Gabriel participou de um debate sobre políticas públicas para minorias.
Entre outras atividades, como a visita ao Museu de Belas Artes e um show do Blue Man Group, uma das etapas do intercâmbio dos Jovens Construtores aconteceu na cidade da Filadélfia, lugar onde eles viveram experiências marcantes. Lá, eles participaram de um ativo em uma horta comunitária que fornece alimentos saudáveis para os moradores da comunidade local. As diferenças entre as periferias dos dois países foram minimizadas pelo jovem. “A diferença da minha comunidade e as comunidades que visitei nos EUA é somente o espaço físico, porque as diferenças sociais são as mesmas. O racismo e preconceito são presentes e as periferias são muito iguais. Eu voltei muito mais maduro e focado em terminar meu curso de inglês” finalizou Gabriel, que agora está se dedicando para realizar o sonho de estudar fora.
O Programa Jovens Construtores começou a ser implementado no Brasil em 2009 e, desde então, foram formados 320 jovens, passando pelas comunidades: 29 de Março, em Campo Grande, Complexo do Alemão, Morro dos Prazeres, Borel, Mangueira, Cidade de Deus, uma turma no bairro da Pavuna, voltada para comunidades da região, e a primeira fora do Rio, no estado do Pará. No Borel, o curso foi realizado em parceria com o Instituto de Cidadania da Unidos da Tijuca.