Juventude periférica e engajada nas soluções climáticas: formação online une teoria e prática

Último encontro online com o grupo de jovens. Foto: Captura Zoom

O clima da periferia está cada vez mais tenso. À primeira vista esta frase pode parecer ter um sentido conotativo da violência urbana, mas devemos observar pela ótica da mudança climática. São as mudanças climáticas que fazem os bairros periféricos alagarem com a chuva de verão, trazendo doenças e destruição. A crise climática é responsável pelas bruscas mudanças de temperatura, secas extremas e pode transformar recifes aquáticos em cidades fantasmas – segundo estudos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Pensando nessas problemáticas, o time formado por: Bruna Valença, Nayara Azevedo, Karina Muniz, Vitória Rodrigues e Felipe Sá, após conversas sobre a falta de diversidade e representativa na agenda climática, elaboraram o Brota No Clima. Na qual surgiu a vontade de fazer algo para catalisar uma mudança. Com a ideia consolidada,  o programa de educação e comunicação climática visa incentivar a luta por justiça socioambiental de jovens periféricos e favelados que estejam a fim de fortalecer nos seus territórios.

Felipe Sá, 24 anos, coordenador do Brota no Clima, explica que, “o processo todo foi muito desafiador, muito colaborativo. Não existia nada parecido. Fazer algo pela primeira vez sempre demanda uma coragem, uma força e por isso foi muito desafiador – no bom sentido. Construir o Brota com 4 mulheres fenomenais foi enriquecedor, porque garantiu a diversidade de ideias que queríamos que o programa tivesse. A nossa parceria deu muito certo e é a razão do sucesso. Nosso objetivo era levar a formação para todos os cantos, principalmente pelos espaços que são sistematicamente esquecidos. Por isso ver a juventude mobilizada é uma alegria imensa porque dá esperança. São lideranças que se reconhecem como lideranças em que estão na luta por um futuro mais justo”, finaliza.

Metodologia

O projeto foi desenhado para 25 pessoas, jovens e adolescentes, mulheres e homens, não-binários, negras e negros, LGBTQIA+ e de baixa renda. Em que não tinham muito conhecimento sobre a agenda Climática. O Brota no Clima desenvolveu uma metodologia para que os participantes pudessem estar alinhados com as temáticas aproveitando todos os momentos de forma equitativa. Divididos em 5 ciclos distintos: científico, territorial, advocacy, radar jovem e mão na massa. O “Mão na massa” contou com mentoria dos coordenadores do programa e produção de podcast, redação e redes sociais. Para impulsionar, todos os produtos de comunicação receberam um recurso de capital semente. 

Geovanna M, universitária de 20 anos, moradora de São João de Meriti, participou da formação ativamente desenvolvendo suas habilidades desenvolvendo o “O preço do seu luxo”. O curta documentário apresenta uma visão holística de 5 mulheres jovens sobre a situação da poluição e do lixo em seus bairros. “Durante a produção do “O Preço do Seu Luxo”, nós, as produtoras, aprendemos diversas formas de mostrar às pessoas os nossos pensamentos e críticas. Vou levar pra vida tudo que eu aprendi produzindo o documentário. Assim, Aprender sobre diferentes localidades da Região Metropolitana do Rio de Janeiro e perceber que nós temos vários pontos em comum, é um sinal de que nós, a periferia, os afetados por toda a situação da falta de saneamento básico, devemos ser a fonte da mudança”, conta.

O Brota no Clima faz parte da organização Engajamundo e recebe o apoio da Samambaia Filantropia, ao longo de 6 meses – final 2020 e início 2021, o projeto realizou encontros e oficinas virtuais. Ainda enviou para cada participante um kit ativista que o conteúdo era de copos ecológicos a luminária de led.

Outra Brother – assim são chamados os participantes da formação, Evelyn Batista, 20 anos, Jovem Aprendiz administrativo no meio ambiente, descreve como foi participar da formação, “muito enriquecedor. Tivemos palestras e oficinas com uma galera inteligente, magnífica que estuda muito. Conhecer esses movimentos, esse meio ativista, eu como ser tão pequenina no meio do universo posso fazer a diferença gerando impactos seja positivo ou negativo. Tive oportunidade de conhecer projetos de pessoas maravilhosas, fazer parte e desenvolver também. Eu tenho muito orgulho de fazer parte, torço para que tenha próximas edições. Apesar de sermos tão jovens, temos uma responsabilidade grande com a natureza. Porque a geração passada prejudicou o meio ambiente mais do que ajudou. Estamos aqui e precisamos fazer algo para ontem, senão não teremos um amanhã. Consegui ter essa visão com o Brota, eu tinha essa visão mas de forma cotidiana, muito clichê, não jogar lixo na rua, trazer seu lixo da praia… precisamos buscar mais conhecimento para conhecer o problema da crise climática a fundo”, reflete.

O fato é que o programa está colhendo frutos com os integrantes da formação, “após o Brota no Clima, eu e minha família nos voltamos à situação do local em que vivemos. A começar, estamos nos movimentando para a revitalização da nossa vizinhança. Infelizmente, a Prefeitura de São João de Meriti não está nos ajudando com isso: Apesar de toda semana ligarmos para que a prefeitura nos ajude com a coleta de lixo e entulho do local, todos os dias, no Instagram oficial da prefeitura de SJM, o prefeito posa de bom moço que ajuda o povo. É vergonhoso alguém assim se reeleger e tratar a população como invisível. Espero que essa situação futuramente mude” relata Geovanna Melo. 

Área abandonada antes em São João de Meriti. Foto: Geovanna M
Área revitalizada em São João de Meriti. Foto: Geovanna Melo

Ainda não existe a possibilidade de novas formações, porém recentemente o Brota no Clima ganhou o Prêmio Descarbonário, na categoria presente, através da Climate Reality Brasil.

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