Kaê Guajajara canta no Espaço Favela (Foto: Wellington Melo/ANF)

Kaê se apresentou no palco do Espaço Favela no penúltimo dia de evento

No último sábado (21), uma nova história foi escrita no Espaço Favela. Kaê Guajajara se tornou a primeira artista indígena a se apresentar em um palco do Rock in Rio. A cantora, que saiu de sua aldeia e se mudou para o Complexo da Maré aos sete anos, se apresentou ao lado do DJ Totonete e do Dance Maré.

Kaê empolgou o público com seu show, que misturou diversas vertentes do funk e do hip-hop com a cultura indígena. Em entrevista à ANF, ela explicou como essa fusão pode ajudar o público a compreender melhor a cultura dos Povos Originários. “É muito importante trazer, principalmente o funk , porque muitas pessoas pensam ‘nossa funk indígena? como assim? O que está acontecendo?’ E justamente acho importante a gente pautar esse espaço como também sendo nosso, porque as pessoas acham que nós não estamos nesses espaços e a gente já tem hoje várias estatísticas aí para confirmar que, infelizmente, a maioria dos povos originários estão nas favelas e nas cidades. Então a gente precisa começar a falar sobre isso, para que exista cada vez mais políticas públicas nesses espaços”, diz Kaê.

Kaê Guajajara (Foto: Wellington Melo/ANF)

“quando a gente fala que a artista indígena está em todo lugar, é porque a gente também quer que as políticas públicas acompanhem nossos corpos, e não só os territórios, porque ainda são poucos os territórios demarcados.”

Kaê Guajajara

A cantora também menciona sobre a importância de artistas indígenas estarem presentes em espaços como o Rock In Rio. “É muito importante termos cada vez mais artistas indígenas nestes espaços, porque a narrativa que a gente traz é de originalidade do território, e muitas pessoas já esqueceram completamente disso. Ouvem mais coisas que vêm de fora acabam apagando as coisas que são originalmente daqui. Então é muito importante que tenha cada vez mais artistas indígenas nesse espaço”, complementa.

Kaê também fala que o uso da música para contar sua história e a de seu povo permite que as pessoas conheçam e compreendam a luta dos Povos Originários. “Quando a gente canta nesses ritmos, com hip-hop, rap e pop, as pessoas pensam ‘nossa, eu gosto disso que eu tô escutando’, mas aí quando vai prestar atenção na letra, está vendo que a gente está falando sobre a preservação da nossa própria vida, sobre nossa história e sobre histórias apagadas. Então isso gera aquela curiosidade e vontade de conhecer a própria história, porque muitas pessoas nem sabem. Então eu acho que é muito sobre isso, de trazer essa consciência não só da natureza, mas da própria identidade também, além trazer essa questão da originalidade”.