Kelson’s, uma favela entre a cruz e a espada

Entrada da favela Kelson's - Foto-arte Anderson Vieira.

A pandemia provocada pelo novo coronavírus colocou aproximadamente 17.000 moradores da favela da Kelson’s, no Complexo da Maré, zona norte da capital carioca, entre a cruz e a espada.

A comunidade foi fundada por oito famílias de pescadores que ali ergueram palafitas. Atualmente, conta com um comércio de pequeno porte. Metade dessas pessoas está adotando a medida de isolamento social. Já a outra diz que precisa trabalhar. Grande parte dos moradores vive do trabalho informal e não está obedecendo à recomendação dada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo elas, a justificativa é que se não trabalharem, vão morrer de fome.

Recentemente postei no Facebook a seguinte pergunta “Vocês são contra ou a favor do isolamento social?” Os comentários foram aparecendo e mostrando o quanto as opiniões (e visões acerca da pandemia) estão divididas. Algumas pessoas falam que preferem arriscar a vida do que o emprego, já outras dizem exatamente o contrário.

Ana Paula Ribeiro: “Sou contra! Acho que tem que isolar somente as pessoas de risco. O resto da população tem que voltar a trabalhar, mas todos de máscaras, rua higienizadas, e ônibus com pouca gente”.

Diego Nunes: “Sou contra! Quero ver até quando vão ter pessoas ajudando os desfavorecidos. Uma hora a ajuda acaba, e vamos viver de que?”

Karla Pacheco: “Sou a favor! Infelizmente, não há hospitais suficientes. Isolamento”.

Monique Araújo: “Sou a favor! O grande problema do isolamento vertical (defendido pelo presidente) é que muitas pessoas moram com seus familiares. Vão sair pra trabalhar, e podem voltar contaminando seus familiares que estão no grupo de risco. Dá pra recuperar a economia, mas a vida não”.

Pelos comentários, podemos perceber que os moradores estão, de fato, entre a cruz e a espada. Enquanto uns não querem morrer na fila do SUS, outros não querem ter a carteira de trabalho assassinada.