Dos mais de 130 mil moradores do Complexo da Maré – conjunto de 17 favelas da zona Norte do Rio de Janeiro – um deles mora no Morro do Timbau. Dos milhares de autores da própria vida, um deles decidiu contar uma história. Com e para crianças, a narrativa do livro Moleque Piranha, de Renato Cafuzo, acontece também em uma favela. O primeiro dos três lançamentos acontece hoje, na Favela da Maré.

Desenhista desde criança e escritor desde esse livro, o autor nos lembra como a arte pode nos ajudar a (re)escrever nossas memórias. Em uma narrativa onde todos os personagens são negros – e apenas dois são adultos – grande parte da história se passa na escola.

Revisitando sua própria trajetória, Cafuzo traz nos versos a potência das infâncias negras e a importância da educação como forma de criar outras possibilidades de futuro.

Enxergando cada criança como um mundo em expansão, o autor nos mostra como ser parte e ser visto por uma comunidade, expande as nossas possibilidades de ser e existir com humanidade.

Versão positiva da favela

“Não acho que seja fantasioso contar uma história bonita na favela, mas quando faço é na esperança que tenhamos mais dias assim. E demonstrar que isso é possível pras nossas crianças é importante. Alguns traços do racismo partem basicamente do que você pode ou não pode fazer. E isso, numa fase de desenvolvimento como a infância, se traduz em como você pode ou não pode se desenvolver”, reforça o autor.

O livro ainda irá compor o acervo de 20 bibliotecas comunitárias da Baixada Fluminense, e de mais de 50 escolas no Complexo da Maré. Além disso, como forma de ampliar a acessibilidade e a experiência do público com a obra, uma versão gratuita em audiolivro, com audiodescrição, também será lançada no dia 11 de março, e ficará disponível no canal do autor no Youtube.

A narração será feita pelo artista circense Vicente Barbosa, de 6 anos. Ele faz parte da terceira geração de palhaços de sua família, e integra a Chirulico, companhia de Palhaçaria e Arte Pública criada por seus pais, Anthony Brito e Aline Barbosa. A partir desta mesma data, o livro poderá ser adquirido no site da editora Oriki.

Moleque Piranha, quem é?

“Uma expressão da rua para a própria rua”, é como o autor define o “moleque piranha”, personagem que dá nome à narrativa.

O desenho teve como influência os cartoons, e à medida que a relação do autor com a cidade ia mudando, o “moleque piranha” também se adaptava em suas diferentes expressões.

Foi no trajeto da zona Oeste à Sul do Rio de Janeiro, há quase uma década, que a caminho do trabalho, Renato, que à época tinha acabado de se tornar pai, aproveitava o percurso para se expressar pela cidade adesivando o desenho pelas ruas.

Homenagens

Duas grandes homenagens compõem a narrativa. Uma para o amigo de adolescência do autor, o cineasta Cadu Barcellos, e outra para a vereadora Marielle Franco.

Assim como Renato, ambos são crias do Complexo da Maré, e marcam a história do conjunto de favelas com uma trajetória de luta contra o racismo, dando voz às narrativas que definem as periferias como um lugar onde os sonhos são possíveis.

Três dias após a primeira data de lançamento do livro, completa meia década do assassinato de Marielle Franco. E uma pergunta segue atual: “quem mandou matar Marielle?”.

Como “cria não morre, vira lenda”, Cadu e Marielle, na história, Carlinhos e Tia Mari, ficam eternizados na memória através dos traços e narrativas de Renato Cafuzo.

Serviço

Lançamento em 11/03

Local: Pontilhão Cultural (Maré)

  1. Praia de Inhaúma, 39, Maré – RJ

Horário: 11h30

Entrada: gratuita

16/03

Local: Biblioteca Maria Lina

Rural, 11, Corumbá, Nova Iguaçu – RJ
Horário:14h
Entrada: gratuita. Sujeita a lotação

22/03

Local: Biblioteca Parque
Av. Presidente Vargas, 1261,  Centro – RJ

Horário: 10h30
Entrada: gratuita. Sujeita a lotação

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