Lena Tranças: empreendedorismo além da estética, resistência e sobrevivência

Sindarlene Silva, 40 anos, conhecida como Sida ou Lena, moradora do Conjunto Frei Damião, em Sousa, interior da Paraíba, empreendedora no ramo de tranças, com fibras sintéticas e fios de cabelos naturais.

Lena tentou fazer magistério, teve algumas experiências em sala de aula, participou do Pré Vestibular Solidário, e passou para o curso de História, em 2007, neste período já estava grávida de 5 meses, de Ana Luiza, transplantada há 14 anos e 8 meses. 

“Eu já entrei na faculdade com licença maternidade, mas, pra minha surpresa, minha filha nasceu com um problema no fígado (atresia das vias biliares ), e precisava de toda minha atenção, fomos para o Hospital Universitário, em Campina Grande-PB, em junho de 2008, Ana Luiza estava com 2 meses de vida.

Após 1 mês, fomos enviadas para o Hospital Universitário Oswaldo Cruz, em Recife, onde minha filha fez a primeira cirurgia. Em julho do mesmo ano, pensei que com essa cirurgia o problema dela seria resolvido, então voltei pra faculdade – estudava pela manhã e pagava aulas à noite, tudo estava entrando nos eixos. Após receber os resultados de alguns exames com o diagnóstico que minha filha tinha que fazer um transplante, naquele momento, meu mundo caiu”, comenta Lena.

Lena comunicou ao professor de Filosofia da Educação, que estaria viajando para Recife, pois sua filha tinha que fazer um transplante e a partir daquele momento, ela era considerada desistente do curso, pois a prioridade do momento era sua filha. 

O início da mudança 

“Eu já usava tranças, às vezes me arriscava em colocar em algumas pessoas, mas não dava tanta importância porque eu ainda queria trabalhar em sala de aula, fiz alguns cursos na área de Educação Infantil, pra ver se me encaixava no mercado de trabalho, fiz auxiliar de biblioteca, auxiliar de creche e contador de histórias, na época, oferecidos pelo Pronatec”, . 

Lena, percebeu que através das tranças poderia ser uma maneira de trabalhar em casa e cuidar dos meus filhos e de sua mãe, com 80 anos. “Amo trabalhar com tranças, e percebi que está crescendo muito esse ramo de trancista,  e é o que sou, tento aprender sempre mais,  pois a gente trabalha com a auto estima das pessoas, então procuro dar o meu melhor”, enfatiza

Assim surgiu o “Espaço Lena Tranças” , um espaço adaptado dentro de casa, mas aconchegante e agradável os clientes. Além de trançar, Lena vende os produtos, tanto sintéticos, orgânicos, bio fibra, bio proteína, jumbo, linha e miojinho. E também faz procedimentos como entrelace, crochet braids, tranças soltas e tranças com cachos.

Infográfico utilizando dados históricos: produção Maria Rita Rolim /Em Pauta

Estatísticas

Segundo o IBGE: 51% das empreendedoras brasileiras são responsáveis pelo sustento da casa

Mais da metade das empreendedoras brasileiras são também chefes de domicílio. O percentual alcançou 51% no ano passado em 2022, o maior nível desde 2016, quando o levantamento começou a ser feito pelo Sebrae, com base em dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

51% dos empreendedores brasileiros são negros, ou seja, pretos ou pardos segundo a definição de cor ou raça do IBGE. É o que mostram os dados do estudo Empreendedorismo negro no Brasil, feito pela Preta Hub, em 2019. Isso quer dizer que mais da metade dos negócios brasileiros são dirigidos por pessoas negras. 

Apesar do número significativo de afroempreendedores no país, o mesmo estudo mostra que 46% deles foram para os negócios por necessidade. Em outras palavras, o empreendedorismo foi uma alternativa para a geração de renda por falta de emprego. 

Em 2009 a ocupação de Cabeleireiro Étnico e Trancista ganhou o reconhecimento do Ministério do Trabalho, abrindo novas perspectivas para esses profissionais como uma grande conquista para o setor, levando em consideração a dimensão que consumidores negros representam no mercado de consumo brasileiro.

De acordo com o IBGE os negros correspondem a 53,6% da população brasileira e consomem 800 bilhões de reais por ano (ETNUS, 2016). Atentos a este mercado em expansão, uma pesquisa do Sebrae (2015) apontou o crescimento dos empreendedores negros, que passaram a representar 50% dos donos de negócios no Brasil.

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Políticas Públicas

Para a  presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice da Comissão de Reparação, a vereadora Ireuda Silva (Republicanos), que inclusive, tem em tramitação projetos que visam tornar a arte trancista patrimônio cultural a níveis local, estadual e nacional.

“Por meio do seu ofício, essas profissionais dão contribuições para a autoafirmação por meio da estética afro, uma das ferramentas fundamentais no combate ao racismo”. Ireuda Silva. 

Ireuda luta, no âmbito nacional, pela regulamentação da profissão de trancista, questão que o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, prometeu analisar com prioridade.