Não bastassem os fatos e boatos a envolver os filhos do presidente na vida pública brasileira, sempre de forma nebulosa ou confusa, entra e cena agora a primeira-dama Michele, que sofreria constantes surras do marido, segundo relato do deputado paraibano Julian Lemos, do União Brasil. Michele, disse o deputado, muitas vezes está ausente de solenidades como a do discurso-relâmpago de dois minutos do marido depois das eleições no qual não admitiu nem reconheceu o resultado das urnas, porque tinha hematomas visíveis.
Verdade ou não, o irmão de Michele, Eduardo Torres, desmentiu a denúncia com a rapidez de quem está afobado e sem ter estudado a fundo o texto. Pode falar a verdade, no entanto não sei se merece crédito, nunca li seu nome em nenhuma notícia nem vi foto dele em almoço da família ou festa de aniversário.
Na realidade, a questão toda se resume a fofoca de alcova cuja importância pouco ultrapassa as quatro linhas do quarto de dormir de um dos dois, pois não coabitam há tempos a mesma peça. Por que, então, o escândalo? Primeiro porque o presidente está por baixo no momento, na maré de azar que começou quando viu os sinais de derrota nas pesquisas da campanha eleitoral.
Em segundo lugar, porque sua fama nunca foi boa e não foram só os 53% de rejeição que anunciaram o fracasso, mas queixas e reclamações à boca pequena entre sua equipe, a insistência em descumprir conselhos dos marqueteiros e também os maus-bofes que gosta de exibir presencialmente ou nas lives semanais para seus seguidores e que lá atrás fizeram assessores cochichar que ele perderia a reeleição para si mesmo.
Mas o presidente bate na primeira-dama? Alguém aí assistiu? Viu-a chorando lágrimas de esguicho pelos corredores palacianos? Ouviu a inconfidência de alguma aia inconformada com as surras constantes? Não, nada disso, apenas o deputado Julian Lemos, correligionário de primeira hora, ex-coordenador da campanha no Nordeste, sabe e fala sobre o assunto tão delicado. E por mais desavisado que seja, está ciente de que a fidelidade conjugal (não apenas a sexual) sempre foi tempero principal das intrigas e brigas palacianas na história, nem sempre retratando a verdade.
Aqui mesmo nas quatro linhas do Brasil, quando a imperatriz Leopoldina morreu, em 1826, muito se comentou sobre a briga que tivera com o marido por causa de sua amante Domitila de Castro, na casa da Quinta de Boa Vista, na qual teria sido empurrada escada abaixo, grávida, causando o aborto do irmão mais novo de Pedro de Alcântara, herdeiro do trono (mais tarde Pedro II). Leopoldina tinha 29 anos. Uma história e tanto, não é mesmo?
Estudos médico-arqueológicos do início deste século, entretanto, comprovam que a imperatriz provavelmente sofria de erisipela, causa do aborto aos três meses de gravidez, que agravou o estado de saúde e a levou à morte apenas oito dias depois, em 11 de dezembro de 1826. Leopoldina sofreu vários abortos espontâneos nos nove anos de casamento com imperador, que estava em viagem à Cisplatina revoltada desde o mês anterior. Ou seja: segure sua língua, Julian Lemos, porque é sempre possível que Michele tenha tropeçado e batido com o olho na maçaneta da porta.