Na última quarta feira, 15, cerca de 150 jovens de diversas regiões, do subúrbio até a orla, se reuniram em um ato contra a repressão que as rodas culturais têm sofrido nos últimos meses. A ação acontecem em frente à sede da Prefeitura do Rio. Essa não é a primeira vez que uma série de rodas ficam proibidas de acontecer. Isso demonstra o quanto o rap está difundido na cidade e que a prática das rodas de rima se alastrou.
Xandy MC, que circula por diversas rodas e é residente de Manguinhos, onde acontece a Roda do Pac’stão (junção de PAC, do programa de aceleração de crescimento, com o Paquistão, país do Oriente Médio conhecido pelos confrontos intensos), compartilhou sua impressão sobre o dia:
– Pra mim, foi mais um dia de luta. A gente fez um manifesto que é diário, de toda roda cultural. Essa prefeitura complicada que temos hoje deu uma travada em várias rodas culturais que a gente tem pela pista. A partir disso, a galera se juntou pra poder fazer um ato com o que a gente sempre fez nas rodas, mas na frente deles – afirma.
A arte tem o poder de provocar diversas reações em nós. E ela não se afasta da política, mesmo que o artista não seja ou não se entenda enquanto politizado. Até porque esse entendimento de que só quem tem estudo e formação pode se posicionar reflete uma visão colonizadora e racista. Vivência é algo muito intenso e enriquecedor. Por sinal, Xandy é jovem, preto, favelado e estuda Pedagogia – mais um pra cobrar o que é nosso.
Ano passado, conversei com uma galera da Vice, importante portal de cultura urbana dos Estados Unidos, sobre as rodas de rima e o rap no Rio dentro do contexto político daquele momento: um impeachment ilegítimo no Governo Federal e o Jogos Olímpicos vendendo a cidade como maravilhosa. Afirmei (e reafirmo) que as rodas tomarem as ruas faz parte de um processo natural, pois a rua é o ponto de partida dessa cultura.
O fato de as rodas culturais terem se espalhado pela cidade foi um dos grandes marcos da cultura carioca dos últimos anos. Ter um lugar para se expressar toda semana, onde não se paga para entrar, mas se pode trocar uma ideia ou fazer uma rima é o maior sinal de pulsação de vida nas ruas. Senti isso diversas vezes por todas as rodas aonde fui.
Depois de reformas em praças, alguns fomentos à cultura, Lei do Artista de Rua e etc., ver as rodas mais uma vez sofrerem com embargo é um nítido retrocesso para a cidade. Desde as rodas de samba de 100 anos atrás até as rodas de rap, fica evidente que aglomerar gente (principalmente, gente preta) é sinal de incômodo. Vale lembrar que nossa atual secretária de cultura Nilcemar Nogueira é mulher, preta, favelada e criada no partido alto.
Toda força para as rodas de rima, que levam a juventude e a vida pras ruas com arte, cultura e transgressão.