Libertos para inglês ver

(reprodução de site acritica.com)

1888.
Ano em que findou-se o açoite.
Era o que eu pensava até hoje.
Meu nome é Lucas.
Vou te contar coisas absurdas.

É triste quando a cor da pele vale
mais que o tom dos corações.
Historicamente, fomos colocados em prisões:
Físicas, morais, desde os tempos de nossos ancestrais.
Libertos por carta, mas 80 tiros em “carro de bandido”?
Não mataram nossa fé, amigo.
Não abalaram nem um terço.
Lutamos desde o berço.

 
Somos mortos por falarmos que temos direitos;
Somos mortos por acharmos que o Brasil tem jeito.
Jogadores que são presenteados com bananas em
gestos preconceituosos.
Racistas não medem esforços.

Pouca representação em programas e reclames.
Senzala social: pesada, infame.
Discriminados em portas de banco, ativistas perseguidos,
professor negro barrado onde seria palestrante…
Ah…
O senhor pode me dar um instante?
Preciso de um gole d’água.
Enquanto choramos, nos levantamos.
Somos mais que cotas, mais que cordas.
Nosso grito transborda.

Fui pego por algo que não fiz.
Me prenderam em uma
“coincidência” infeliz.
Liberdade para inglês ver.
Não é só isso. É muito pior.
Mas delegado, por aqui encerro
meu depoimento neste B.O.

Israel Sant’Anna Esteves