A nova rodada da pesquisa de coleta de dados do “Painel de monitoramento com lideranças comunitárias sobre os impactos do avanço da pandemia do Covid-19”, promovida pela Rede de Pesquisa Solidária, ouviu, identificou e sistematizou problemas críticos relatados por lideranças de mais de 70 comunidades, bairros, territórios e localidades de alta vulnerabilidade social em diferentes regiões metropolitanas do país.
Entre as questões observadas, destaca-se que o poder público, em seus diferentes níveis, é tratado com desconfiança e descrédito e sua ineficiência ou ausência estimulam a formação de redes de moradores e entidades voltadas à sobrevivência nas comunidades. Além disso, o aumento das mortes pela Covid-19 tornou-se flagrante para as comunidades: os relatos foram de 0% na primeira para 16,5% nesta segunda rodada de entrevistas. A expansão do contágio, que havia marcado 5,6% dos informes, saltou para 30,4% nesta segunda onda de monitoramento.
Para este 12º Boletim da iniciativa foram contatadas as mesmas lideranças da primeira onda de monitoramento consolidada no Boletim 7, assim como novos representantes de outras regiões metropolitanas, o que aumentou a abrangência territorial da pesquisa. Desta vez, além de seis regiões metropolitanas de Manaus, Recife, Distrito Federal, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo, foram incluídos relatos de lideranças das regiões de Campinas, Salvador, Joinville e Maringá.
As entrevistas foram feitas entre 25 de maio e 5 deste mês e, como na primeira onda, os resultados foram colhidos do depoimento direto de 79 lideranças (de um total de 108 contatadas), que responderam perguntas rápidas e padronizadas por meio de aplicativos de celular.
A nova coleta de dados do Painel aponta que os problemas materiais causados pela pandemia – fome e dificuldade de acesso à renda e emprego – figuram novamente como os mais citados entre as lideranças comunitárias de dez regiões metropolitanas do país. Cerca de 67% delas apresentaram relatos sobre fome e privação de alimentos. O acesso a trabalho e renda é novamente o segundo problema mais citado, agravado pelas dificuldades de acesso ao Auxílio Emergencial do governo federal, apontado por cerca de 30% dos informantes.
Mas o tema que emergiu espontaneamente nessa nova coleta foi o aumento da insatisfação com a atuação do governo no enfrentamento da crise sanitária, também reiterando relatos recorrentes de falhas e lacunas no acesso a políticas públicas diversas. “As duas ondas de monitoramento registraram ausências e falhas significativas na oferta de serviços de saúde, nos benefícios emergenciais que não chegam e na descontinuidade e imprecisão de ações de informação e de prevenção contra o vírus. Apesar dos esforços das inúmeras redes de solidariedade e de ajuda ocasional do próprio poder público, 40% das lideranças relataram que a doação de alimentos não é suficiente e apresenta problemas de coordenação e logística de difícil solução”.
Frente a isso, 88% das lideranças e dirigentes de associações de bairro e de coletivos populares citaram a disseminação de iniciativas desenvolvidas pelas próprias comunidades para aplacar as necessidades materiais ou para educar e informar a população sobre as medidas mais adequadas de cuidado e prevenção contra a Covid-19.
O décimo segundo boletim traz ainda: novos problemas identificados na pesquisa com as comunidades, iniciativas que vêm sendo adotadas pelas lideranças comunitárias e recomendações.
Confira o documento na íntegra em: redepesquisasolidaria.org
(Originalmente publicado por Rejane Romano, do Instituto Ethos)