Mães de alunos veem riscos em volta às aulas na Bahia

Sala de aula em escola pública na Bahia pré-pandemia - Foto da internet

As aulas em escolas e universidades na Bahia, suspensas desde março, não têm previsão de retorno, apesar da pressão feita pelos representantes da rede particular de ensino, sob a alegação de que já existem medidas de segurança adotadas pelas escolas. A volta às aulas na região metropolitana de Salvador está prevista para a terceira fase do protocolo de reabertura das atividades não essenciais, cuja primeira fase ainda não foi iniciada.

Para Catarina Assis, moradora de Massaranduba, em Salvador, mãe de dois filhos, “é muita imprudência a atitude dos empresários, o ano letivo está comprometido, mas é o dinheiro que rege, e eles estão tentando convencer a população com a ilusão de uma falsa segurança para o retorno das aulas”. Catarina é empreendedora, tem conseguido se manter perto das crianças enquanto toca o negócio de artigos infantis, mas está sendo difícil toda essa situação, e está recorrendo a ajuda de outros profissionais para garantir a integridade dos filhos, sem correr o risco deles ficarem doentes. Ela sabe que outras mães não tem o privilégio de ficar perto dos filhos enquanto trabalham.

Nesse dilema sobre o retorno das aulas, estão os estudantes, as famílias, que em muitos casos, são mantidas por mães, na sua maioria sozinhas e precisam trabalhar sem ter onde deixar os filhos, pois além das escolas, as creches também estão fechadas para crianças menores de cinco anos. Em sua maioria são os estudantes das escolas públicas que estão em desvantagem, diante da vulnerabilidade existente, incluindo a dificuldade do ensino na modalidade virtual.

Vanoelia dos Santos, moradora do Bairro da Paz, também na capital baiana, atualmente desempregada, tem uma filha de 9 anos, no ensino fundamental, e compreende que “os assuntos que seriam transmitidos não serão mais, então não teria motivo para o retorno nesse momento, sem falar na falta de segurança que não a deixaria exposta ao contágio”. A falta de segurança é um ponto que tem deixado muitas mães apreensivas com a pressa para o retorno das aulas, não apenas na capital, mas em cidades próximas.

O que se percebe diante desse cenário é que as famílias estão inseguras. Se as medidas de restrição não estão causando o efeito esperado na população, dificilmente as escolas estarão protegidas, até pela falta de investimento na escola pública em muitas cidades. Os professores, por sua vez, tentam cumprir um cronograma bem atípico e também não se sentem tranquilos para retornar às escolas por enquanto.

Nadja Lopes, que reside no bairro dos Humildes, em São Sebastião do Passé, região metropolitana de Salvador, tem um filho no ensino fundamental e é professora: “Não vale a pena arriscar a vida dos estudantes e dos profissionais apenas para cumprir uma carga horária formal do ano letivo, se o conteúdo oferecido à distância não está satisfazendo e não há condições emocionais para retornar. Melhor perder o ano do que a vida”.

Deyse Nery mora no Barbalho, em Salvador, também tem um filho em idade escola e considera que a suspensão das aulas precisa ser mantida, “infelizmente não é uma decisão fácil, dizer que não irei permitir que meu filho vá para a escola ainda este ano, principalmente sabendo da importância da escola no desenvolvimento da criança, e percebendo que o aprendizado está prejudicado, apesar dos esforços dos professores em manter as atividades”.

Todas as mães comungam da mesma opinião sobre o retorno às aulas presenciais, que consideram prematuro e reforçam a necessidade de medidas seguras para seus filhos voltarem à escola. Como dificilmente isso acontecerá ainda este ano,  dizem que não vão liberar suas crianças e também vão exigir que não sejam prejudicadas por faltas. Elas dependem de terceiros para trabalhar e isso também é um fator que as deixa apreensivas, apesar de tomarem todas medidas possíveis de segurança e proteção contra o coronavírus.

Para o secretário municipal de educação, Bruno Barral, uma das medidas que poderão ser adotadas para um possível retorno das aulas em setembro, seria em formato de rodízio, tanto para funcionários quanto estudantes, “segunda, quarta e sexta, com uma turma. Terça, quinta e sábado, com outra turma, para que a gente possa, neste período de pandemia, que o menino não está na escola tenha a atividade monitorada pelo professor ou coordenador pedagógico. A gente não precisa ser tão conteudista nesta situação. Neste mesmo momento, inicia uma avaliação, que não tem caráter somativo. Temos que pensar no ciclo pedagógico 2020/2021 para que a gente faça um currículo contínuo, para evitar reprovação e desestímulo”.