Andando cedo pelas ruas do Centro e lamentando mais uma vez o grande desperdício de dinheiro público com as remoções dos paralelepípedos dos Arcos da lapa e ainda, a descaracterização de um espaço sagrado que deveria estar sendo tombado e protegido, e jamais violado dessa forma imbecil, acabei por me deparar com a maior das tristezas da nossa cidade. Essa não pode ser considerada maravilhosa enquanto mais pais e mães tiverem que enterrar seus filhos vítimas desse estado de exceção e vítimas ainda da impunidade que se arrasta até as malditas prescrições.
Na calçada em frente ao prédio do Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação, exatamente de fronte para o Quartel General da Polícia Militar me deparei esta manha com um protesto, uma legítima afirmação solene solitária de um pai bastante emocionado com o assassinato de seu filho, de apenas 2 anos, que depois de 15 anos não viu nada acontecer em alento a sua tristeza. Era impossível ser indiferente e me jogaria no inferno se passasse direto fingindo não ver o óbvio. E me parece que está mais do que patente a necessidade de lutarmos contra as injustiças e impunidades, que destroem seres humanos a todo o momento.
Chorando em clima de tristeza, de um Rio de Janeiro que hoje poderia chover sangue misturado com lágrimas, José Luiz, de 56 anos, me contava a história de terror, de um 15 de Abril de 1996, que poderia jamais ter existido. Seu filho Maicon de Souza da Silva, de apenas 2 anos, foi assassinado na porta da sua casa enquanto brincava há 15 anos atrás.
Contou-me que policiais militares faziam uma operação no Complexo do Acari, no Amarelinho, quando Maicon foi alvejado por uma rajada de metralhadora, na porta da sua casa. O policial acusado, foi expulso, voltou e hoje é major do Batalhão. Disse- me ainda que existe um inquérito em aberto, mas que em breve o fato vai prescrever.
Podemos lembrar aqui os mais recentes casos, envolvendo inclusive comunidades pacificadas, onde jovens estão morrendo todos os dias. Vamos lembrar do Juan de Moraes, André Ferreira, Julio César de Menezes, Deividson Evangelista, Maxwill de Souza, Yasmin Kely Barbosa da Silva e Julia Andrade de Carvalho, Felipe dos Santos, José Carlos Barbosa entre tantos outros jovens, centenas, que morreram em circunstâncias tenebrosas.
Para o pai de Maicon, mais do que a polícia, a culpa é do Estado. Um Estado que não tem leis, não tem regras, não existem direitos e que tem uma estrutura que não serve para nada. Concordo plenamente com esse guerreiro, que é José de tantos outros Josés de nosso país que, infelizmente, é o Brasil matando o Brasil.
Qual é a próxima história…? O que faremos…?