As operações quase diárias deflagadas pelas Polícia Civil e Militar na Favela do Jacarezinho, Zona Norte da capital fluminense, tem deixado inúmeros prejuízos para os moradores. Além das constantes denúncias de excesso na conduta dos agentes de segurança publica, eles também podem ter contribuído para danificar o sistema de rede elétrica da comunidade, deixando cerca de 4.500 pessoas sem luz, segundo cálculos da Associação de Moradores local. A Light afirma que só vai voltar a fazer os consertos quando houver segurança na região.
Desde o início do ano, o Jacarezinho enfrenta episódios de falta de energia. 13 transformadores foram perfurados a bala na favela nas últimas semanas. No domingo, 14, quando agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) chegaram a fazer de um helicóptero disparos que quase atingiram a base da UPP Jacarezinho, técnicos da Light estavam na comunidade para fazer os reparos e precisaram se abrigar dos tiros, o que mais uma vez interrompeu os trabalhos. Um carro da empresa chegou a ser alvejado. O mesmo aconteceu na quarta-feira, quando um tiroteio interrompeu a atuação dos técnicos.
Na mega operação desta quinta-feira, 18, que levou três mil homens do Exército e das polícias para ocupar Jacarezinho, Mandela, Manguinhos e Arará à procura dos assassinos do delegado Fábio Monteiro, mais quatro transformadores de energia teriam sido atingidos por projéteis, piorando o problema – a Light afirma não sabe quantos, de fato, foram danificados. No momento, são nove ruas sem luz, atingindo quase cinco mil pessoas. A região mais afetada é o Largo dos Tubas, palco de frequentes tiroteios.
Moradores reclamam que estão perdendo alimentos como carne, queijo e leite, além de medicamentos, que não resistem ao intenso calor de verão que tem feito no Rio de Janeiro. “Estamos vivendo dias tensão e pavor, além de não conseguirmos dormir durante a noite por conta do calor insuportável. Nossas crianças são as mais afetadas”, conta uma moradora que preferiu não se identificar. Algumas casas também chegaram a ficar sem água. A solidariedade de quem está por perto ameniza um pouco a situação: vizinhos que têm luz em casa abrem espaço nas suas geladeiras para ajudar os afetados.
A Light afirma não ter previsão para terminar o conserto, pois alega não ter como garantir a segurança de seus funcionários. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Jacarezinho, Leonardo Pimentel, 50 deles teriam sido disponibilizados para atuar na favela ontem, mas os trabalhos foram interrompidos, mais uma vez, pela troca de tiros.
Colaborou Julianne Gouveia.
Atualizado em 19/01/2018, às 10h42.