Mais do que a vontade de “encher de porrada” a boca do repórter manisfestada pelo presidente Jair Bolsonaro ontem, 23, perto da catedral de Brasília, o que mobilizou a opinião dos internautas até o fim do domingo foi saber por que ele não respondeu a pergunta sobre os depósitos de R$ 89 mil de Queiroz na conta bancária de sua mulher Michelle. Segundo levantamento foi feito pelo pesquisador Fábio Malini, da Universidade Federal do Espírito Santo, em 24 horas foram mais de 1 milhão de mensagens únicas no Twitter – até as 23h49 deste domingo.
Segundo Malini, os dados indicam um “comportamento automatizante”, com todos em uníssono repetindo a mesma mensagem e marcando a conta do presidente. Isso significa que boa parte das publicações ocorreu sem o compartilhamento de influenciadores da rede, como costuma ocorrer no Twitter, mas com tuítes próprios dos usuários em seus respectivos perfis, um modus operandi que passou a ser mais utilizado pela direita e apoiadores do bolsonarismo a partir de 2015, segundo o pesquisador, e até então inédito na oposição ao presidente.
“Publicar algo implica dar mais ênfase a sua voz ainda que se tenha poucos seguidores. Essa voz é mais fortalecida quando é questionadora diretamente na caixa de comentários de quem tem poder, porque ali não importa quantos likes vá se ganhar. A mesma pergunta publicada muitas vezes por muitas outras pessoas não influentes liga o alerta vermelho do político, porque ele percebe que não se trata de fãs reagindo, mas de gente de carne e osso. De modo massivo, acossando diretamente as contas do presidente, é a primeira vez”, explicou.
Malini destacou que um indicador do tamanho da repercussão da mobilização e como afetou a popularidade política online do presidente é que muitos usuários reclamaram de terem sido bloqueados pela conta de Bolsonaro:
“Um dos indicadores mais simples para identificar se a repercussão afeta a gestão da popularidade política online é quando os administradores das contas de políticos começam uma roleta russa de exclusão de comentários, principalmente, no Instagram e Facebook. Um trabalho desmedido, já que eles têm de banir milhares de pessoas manualmente ou usando filtros semânticos. E foi o que ocorreu ontem. Muitos usuários reclamavam do “delete” recebido, o que estimulou neles o desejo de reescrever o mesmo comentários, até que foram banidos da conta.