Mais uma morte em operação policial: a história que se repete

Moradores fecharam a estrada Grajaú-Jacarepaguá em protesto _ foto: vídeo divulgado pelo canal de comunicação independente A Voz do Lins

Após pouco mais de um mês da chacina do Jacarezinho, o que temos é quase um texto pronto, que poderia ser facilmente copiado e colado alterando apenas os nomes dos envolvidos.
No caso de hoje, a vida tirada pela polícia foi de Kathlen Romeu, 24 anos, grávida de 14 semanas e moradora do Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio de Janeiro.
As características de gênero, raça e classe social se repetem tanto nas vítimas dos noticiários que suas mortes se tornam naturalizadas pela sociedade, como se cada ser humano não tivesse sua importância singular e seu direito de existir.

A “bala perdida”, resultado de uma operação policial, encontrou não só um, mas dois corpos. Kathlen foi levada ainda em vida para o Hospital Municipal Salgado Filho, mas segundo nota da Secretaria Municipal da Saúde, faleceu assim que chegou ao local.
Em protesto ao ocorrido, moradores do Lins fecharam por 1h30 a autoestrada Grajaú-Jacarepaguá.

Rafael Sousa, ativista do A Voz do Lins, publicou um vídeo em sua rede social onde lamenta profundamente o ocorrido, mas reitera o fato de que não se trata de um caso isolado, mas sim de algo que se repete com muita frequência nas periferias no Estado do Rio de Janeiro. Em suas palavras, ele afirma que a única política pública que existe nesses territórios é a política da bala, e que o Estado não pode jamais deixar de ser um garantidor de vida para as pessoas. No entanto, para isso, precisa agir de forma planejada e com segurança, que significa o contrário do que vem acontecendo.

Joice Berth, arquiteta e escritora colunista da ELLE, se posicionou sobre a “Guerra às Drogas”, onde quem morre são pessoas, não drogas. Ainda segundo ela, a guerra é na verdade contra o pobre, preto e favelado, “pois se houvesse interesse em erradicar as drogas, elas seriam tratadas na categoria “Saúde Pública” e não “Segurança Pública”, já que o sistema adoece as pessoas e as faz procurar por alívios externos, principalmente substâncias químicas.” Destacou também, que quem lucra de verdade com essa “roleta comercial do tráfico de drogas” não mora nas favelas e periferias, nestas está apenas a “massa de manobra”.

De acordo com dados divulgados pelo Mapa da Violência, a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, majoritariamente moradores de favelas e periferias. Pessoas que lutam diariamente para sobreviver, seja por “bala perdida”, pela fome, falta de saneamento básico, pela exclusão, silenciamento, opressão, ou ainda pela exposição ao risco de contaminação por covid-19, em transportes públicos precários e lotados.
Tudo para continuar fazendo a máquina do capital funcionar.

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