Em um palco montado no Largo de São Sebastião, no centro histórico de Manaus, um local simbólico e culturalmente rico, o local foi palco do Funk Mineiro, com a apresentação do “Centro Cultural Lá da Favelinha”, em turnê por todo o país, em busca de habilidosos dançarinos do estilo, considerado atualmente uma verdadeira febre em todo o mundo. O Largo de São Sebastião é conhecido por seu calçadão com as emblemáticas calçadas de duas cores, que remetem às ondas do encontro das águas dos rios Negro e Solimões, um fenômeno natural icônico da região. Além disso, o evento contou com a vista de fundo para o famoso Teatro Amazonas, um dos cartões-postais da cidade e um marco da cultura local.
O evento aconteceu no último dia 15/03, e a escolha desse local para o evento reforça a intenção do funk em reivindicar seu espaço cultural na capital amazonense, mostrando que o gênero musical, muitas vezes associado às periferias, também pode ocupar e dialogar com os espaços centrais e históricos das cidades. Ao realizar o evento em um local tão emblemático, o movimento não só valoriza a cultura funk, mas também busca agregar forças com os pólos culturais e musicais do NORTE, onde o funk tem uma expressão em desenvolvimento e reconhecimento.
Essa iniciativa demonstra uma estratégia de fortalecimento e legitimação do funk como uma expressão cultural importante, capaz de transcender fronteiras regionais e se integrar ao cenário cultural nacional. Além disso, o evento pode ser visto como uma forma de resistência e afirmação, mostrando que o funk tem seu lugar na história e na identidade cultural de Manaus e do Brasil como um todo.
História do FUNK
O funk é um gênero musical e movimento social que surgiu no Brasil nos anos 1970, refletindo a realidade das periferias. Originado nos EUA nos anos 1960, em comunidades afro-americanas, o funk chegou ao Brasil na década seguinte, evoluindo para um estilo próprio. Mistura Blues, jazz, soul e black music, com ritmo lento, dançante e letras repetitivas. É uma forma acessível de expressão artística com mensagens impactantes. O funk dá voz aos jovens das periferias, permitindo que expressem suas realidades e enfrentem o silenciamento social.
Longe de representar uma ausência de pudor, o funk se consolida como uma expressão artística que reflete os principais desafios enfrentados nas periferias, questões que permeiam o cotidiano de seus habitantes, como o tráfico de drogas, a violência armada e a falta de políticas públicas efetivas para as favelas. Essa manifestação cultural pode assumir um caráter distracional, de escape, mas também libertário, na medida em que busca, em muitos casos, um sentido político e contestador.
Não seria exagero afirmar que, ao desafiar normas sociais estabelecidas, o funk explora temas como o erotismo e utiliza linguagens carregadas de sexualidade e duplo sentido, refletindo, ao mesmo tempo, as influências do ambiente em que está inserido, incluindo as tradições e os costumes das comunidades. Dessa forma, o funk transcende o entretenimento, tornando-se um espelho das vivências e das lutas das populações marginalizadas.
Mais do que um simples apelo, o funk é uma poderosa forma de expressão artística, uma voz legítima dos verdadeiros habitantes das periferias. Ele transforma em arte a realidade crua e complexa dessas comunidades, tornando-se um reflexo de sua força, resistência e criatividade.
ANF entrevista:
Em entrevista à Agência de Notícias de Favela, a integrante do grupo Miuk (Mulher trans) fala que ocorre uma “DISPUTA NERVOSA” que é uma batalha de funk e tá fazendo seletivo em oito estados do Brasil onde as pessoas são selecionadas em cada um dos estados nessa seletivo e o ganhador vai para Belo Horizonte com tudo pago disputar o prêmio na final de r$ 15.000; segundo ela, a disputa nervosa é uma batalha de funk do centro cultural da favelinha que é um coletivo de Belo Horizonte – Minas Gerais na Favela de Serra.
Revela que antes da disputa nervosa acontece, uma aula de dança como se fosse um preparativos, um aquecimento dos passinhos de Belo Horizonte – BH, do jeito que é feito naquela cidade. Ela adiantou, que no dia seguinte ocorre o espetáculo “Brinco de Ouro”, a ser realizado com os mesmos integrantes que compõem o “Grupo Favelinha Dance”, no Teatro Amazonas.
A dançarina Tiphany Gomes, que é membro do corpo de danças, relata que é moradora de BH e faz parte da Favela da Serra, uma das maiores do país, que teve contato com alguns componentes do coletivo e gostou de participar do projeto social.
Ela faz parte do grupo da favelinha há 7(sete) anos, que a “Favelinha” é um centro cultural que está fazendo 10 anos este ano e que sempre trabalhou como a perspectiva de show; conforme o tempo foi passando sentiu a necessidade de ir para um outro lado além da execução dos movimentos e do entretenimento tinha mais coisas a passar a serem ditas: “…o nosso corpo é o maior instrumento disso.”
A partir disso nasce o “Brinco de Ouro” na perspectiva de falar do funk no modo geral, sobre um funk de maneira geral , do atravessamento do funk, coisas que as pessoas passam por esse processo quanto pessoas pretas e periféricas e aí são percebidas e transmitidas essas perspectivas sobre a ideia de movimentos específicos, essas ideias são concebidas em um ambiente artístico e transformadas para o palco, disse serem os componentes, dançarinos e coreógrafos, nesse ambiente são feitos alinhamento de todas as ideias onde são transmitidas e transportadas para o palco sob a direção de Leo Garcia.
Segundo Tiphany, é muito importante estar em Manaus para apresentação desse espetáculo, e que estão fazendo uma turnê nacional passando por oito estados e está sendo muito bonito conhecer um pouco do país em que cada um dos seus estados levando o funk de BH para cada pedacinho do país e ver o retorno dessas pessoas.
Ela relata ainda que todos eram já dançarinos profissionais da dança mas praticavam dança de forma separadamente e a favelinha foi um projeto que fez a união de todos, onde eles passaram a se encontrar na “Companhia Favelinha”, onde todos se encontram para construir em um trabalho coletivo. Cada um já tinha e continua tendo o seu trabalho individualmente também e quando se juntam começam a desenvolver um novo projeto.
Reafirma ser esse coletivo da companhia da favelinha, um centro cultural periférico, e que no espetáculo os artistas não querem falar só das favelas na perspectiva das mazelas, e sim falar muito sobre o que é bonito sobre ser feliz e sobre a felicidade que se encontra no ambiente da favela sobre a felicidade de : “…sermos quem nós somos!”. Ressalta ser inegável que aconteçam atravessamentos, que a vida não é tão fácil, mas que precisa ser enfrentada não somente sob a perspectiva do sofrer.
Continuou dizendo que o momento que for falar se houver tristeza que ela seja bonita, então se for para falar de coisas que não são boas, que se consiga falar de uma forma da forma mais bonita e artisticamente aceitável. O espetáculo “Brinco de Ouro”, é um espetáculo que coloca no palco a vivência que todos os componentes do grupo, que têm quanto favelados e quanto pessoas, e conclui dizendo ser um espetáculo que tem muito muito funk.
No espetáculo são trabalhadas várias vertentes do funk com “Passinho de BH”, assim como também um pouco do funk do Rio, do funk de São Paulo, mas muito do funk de BH. Nele é trabalhado também sobre vivências periféricas, atravessamentos relacionados a racismo, malandragens das pessoas periféricas negras, aquelas que têm convivência com o ambiente.
Sobre impressão em relação à cidade ela disse ter sido a primeira vez em Manaus chegaram em pouco tempo e não pode ainda ter uma percepção geral, e ver tanta coisa pertinente, mas já foi preparada pela rede social, afirma que o funk é um movimento artístico que está dominando o mundo com certeza, e que já está em Manaus e não é de hoje.
Cita por exemplo estarmos tendo aula livre ali em pleno centro de Manaus e perceber perceber que existem muita gentes participando dela, curtindo, se divertindo e que em seguida na disputa da seletiva, irá descobrir como está o funk em Manaus, e qual o seu nível.
Segundo Carlos Eduardo Costa dos Anjos, multi-artista, músico, produtor de moda, ator, poeta e arte educador, mas que atende por Kdu dos Anjos. Criador do Centro Cultural “Lá da Favelinha”, o “Projeto Favelinha na Estrada”, é uma turnê bem parecido com um círculo de antigamente em que as pessoas pegavam a estrada com sua trupe para mostrar a sua arte que traz para Manaus e oito capitais do Brasil por meio de uma “batalha”, uma batalha de passinhos funk.
Segundo ele, a disputa nervosa onde os campeões locais irão se encontrar no mês de agosto em Belo Horizonte , a disputar o campeonato nacional. Além disso, traz o “Brinco de Ouro” que é o espetáculo de funk. Ressalta que em Manaus está sendo uma das melhores capitais, segundo ele sem “puxar sardinha”. E brinca dizendo: “ou melhor, sem puxar o pirarucu (risos)!”

Segundo ele, o povo local é bastante envolvido nas questões culturais, além de serem muito receptivos, parecida com as pessoas de MG. Reitera ter sido uma das melhores aulas acontecidas agora a pouco, e que na sequência haverá a disputa e ter certeza que será tão grandiosa quanto a aula.
Quando perguntado que era Kdu dos Anjos, o mesmo relatou ser um jovem de 35 anos nascido em Belo Horizonte no “Aglomerado da Serra” que é a maior favela de MG, na qual começou cedo a fazer batalhas de rap e na sequência criou o movimento de poesia “Sarau Vira-Lata” de onde surgiram vários artistas incríveis da nova cena do rap e do funk de BH. Por conta dessa trajetória entrou para o “Grupo Giramundo” teatro de bonecos, trabalhando com o grupo por 6(seis) anos, quando percebeu que precisava plantar algo em sua comunidade.
Passando a criar o “Centro Cultural Lá da Favelinha” em 2015, para ser oficina de rap e virou biblioteca, a partir daí “do nada” o movimento ficou muito grande, com o surgimento de várias oficinas de: dança, funk, customização de moda, balé, espanhol, percussão, em seguida vieram as criações dos coletivos, nos quais as mulheres fazem roupa de moda, nasce então o “Favelinha Fashion Week” para desfilar essas roupas; na sequência cria o coletivo de arquitetura “Levante” com o qual são feitas reformas da favelinha e o coletivo começa a ganhar muitos prêmios no mundo todo.
Com isso, constroi a sua própria casa que, segundo ele, “era para ser só sua casa”. E se transformou na casa do ano pela revista ArchDaily, maior portal de arquitetura do mundo.
Então, segundo ele, tem o Oscar da arquitetura e manda um recado bem humorado para Fernanda Torres: “Não é só você, Fernanda Torres!(Risos)”. Atualmente ele está circulando com espetáculo de disputa nervosa, mas existem vários outros projetos na favelinha. Que esse ano nasce o “Cineclube”, a “Galeria de arte Torre de Bebel”, uma cooperativa de roda de bordado de mulheres da comunidade que estão ganhando com o empreendimento de artesanato delas e por aí vai.
Finaliza agradecendo a Agência de Notícias de Favelas – ANF, “uma agência incrível, que leva notícias e acessibilidade em primeira mão para as periferias do Brasil”.
ArchDaily, maior portal de arquitetura do mundo