“Quem, melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora?” Foi com a citação de Paulo Freire que a diretora do Colégio Estadual Clóvis Monteiro, Andreia Queiroz, em Manguinhos, iniciou sua fala ontem, na aula inaugural da segunda turma de formação do PréVest Clóvis, que neste ano tem como objetivo o foco no curso de medicina. De acordo com a diretora, “quem passa em medicina, passa pra qualquer curso, porque é o que exige a maior pontuação”.
Numa manhã ensolarada, com poucas nuvens, os alunos chegavam pra assistir a inauguração do pré, que teve a presença do senhor Bezerra, 71 anos, morador de Manguinhos, ex-aluno do colégio e aposentado, mas com alegria pela realização dos organizadores. “Fico muito satisfeito e feliz por saber que existe uma galera com visão da realidade e promove uma ação como essa”, disse.
Felipe Francisco é formado em medicina e falou sobre os menos favorecidos terem acesso a graduação do curso:
– Em resumo, os cursos de medicina hoje possuem nitidamente um perfil elitista e isso é puramente proposital, dificultar o acesso do pobre a cursos que são historicamente da classe rica, média. Não é jogo para a burguesia que o pobre ocupe um lugar que antes era exclusivo a eles, contou Felipe.
Quem também falou a nossa equipe foi a bióloga e mestre em Ciências Naturais pela Fiocruz, Flávia Divino:
– A universidade é um espaço para todos e nossa resistência é fundamental. Competição para um espaço de conhecimento é desumano e, infelizmente, estamos num meio diferente do Uruguai onde o conhecimento no ensino público é aberto a todos sem distinção. Gratificante demais participar de um movimento em Manguinhos, disse.
Flávia passou uma temporada estudando no Uruguai e chegou a se emocionar com a desigualdade na educação pro nosso país devido ao tamanho da nação.
A inauguração teve a presença de Matheus da Silva, 19, que pretende cursar Arquitetura. No ano passado, representou a escola numa feira de ciências, a única pública da competição, onde foi preciso enfrentar o nervosismo por ser exceção. O Colégio Clóvis Monteiro foi o quarto colocado da Olimpíada Brasileira de Robótica.
– Tivemos aulas teóricas durante três semanas com os alunos “em geral” da nossa turma, mas só três pessoas poderiam representar a escola na Olimpíada, no caso fui um deles, contou.
O professor Paulo Roberto é formado em História e veio de Cabo Frio, Região dos Lagos, para falar aos alunos a importância do PréVest. “Acho este projeto bem interessante por oferecer aos alunos a chance de almejarem seguir carreiras que antes não pensariam”, acredita o professor.
Em uma casa do Jacarezinho, que tem oito moradores, está Victor Hugo, que tem 18 anos e sonha em cursar Geografia. Ele está participando do pré vestibular pela segunda vez, mas disse que não vai desistir, e mesmo se for aprovado quer continuar visitando.
O Colégio Estadual Clóvis Monteiro fica na Avenida dos Democráticos, 271, Manguinhos. As aulas acontecem aos sábados das 10h às 18h. Esse ano vai contar com um laboratório de Ciências para aulas práticas como forma de aplicar o que está sendo ensinado.
