Foto:Adriano Almeida
Concentração para o ato

Moradores das comunidades do complexo de favelas da Maré organizaram em parceria com diversas entidades, um ato em protesto por conta das quatro mortes que aconteceram nos últimos dias. Os moradores se concentraram até ás dez horas da manhã em frente ao CIEP Hélio Smith, quando foram distribuídas várias cruzes e cartazes com charges que expressavam a falta de segurança para as favelas. Grande parte dos presentes usavam camisas brancas com charge do cartunista Latuff.

Foto:Adriano Almeida Parada nos fundos do 22º BPM

Foto:Adriano Almeida
Manifestantes mostram a faixa para o comandante do BPVE

A manifestação seguiu pelas favelas Parque União, Nova Holanda e Baixa do Sapateiro. A primeira parada, após a saída dos manifestantes, foi em frente aos fundos do vigésimo segundo Batalhão da PM, quando uma faixa com os dizeres "MARÉ CONTRA O EXTERMÍNIO", foi virada para o comandante do Batalhão de Policiamento de Vias Especiais. Um bumbo acompanhou durante todo o percurso a manifestação que seguiu durante quase todo o tempo em silêncio.

 

Fotos:Adriano Almeida

A manifestação seguia em silêncio

Após mais alguns minutos de caminhada, os moradores se solidarizaram aos parentes das vítimas, que saíam para o sepultamento de seus familiares em um ônibus. Durante o percurso, algumas personalidades se juntaram ao evento: O Sociólogo Ignácio Cano, o Advogado João Tancredo, o Historiador Guilherme Vargues, entre outros. Moradores olhavam o ato, do alto se suas casas, de maneira tímida, ao mesmo tempo em que manifestantes distribuíam panfletos explicando os motivos da caminhada. Tudo isso acontecia como de maneira ensaiada, alguns seguravam uma cruz, outros cartazes e alguns puxavam palavras de ordem como: "Chega de chacina, polícia assassina!" ou "Criança quer brincar, Cabral não quer deixar!"

 

Foto:Adriano Almeida

Os manifestantes percorreram várias favelas

Logo que chegaram na altura de uma passarela da Avenida Brasil, perto do Museu da Maré, os manifestantes se depararam com um micro ônibus do Batalhão de Choque da Polícia Militar, que ao avistarem a caminhada, desceram do veículo e se colocaram em posição de confronto. A faixa foi novamente virada para o pelotão da PM, enquanto a caminhada seguia. Ao ser questionado sobre o porquê daquela ação, o Tenente Araujo, que estava comandando o pelotão disse: "Isso é uma demonstração de força!"

Foto: Adriano Almeida

Um minuto de silêncio

 

Foto: Adriano Almeida Homenagem ao pequeno Matheus

Logo após o encontro com a tropa da PM, os manifestantes chegaram ao Museu da Maré, fizeram um minuto de silêncio e entraram nas dependências da instituição, depositando ali uma homenagem ao pequeno Matheus. Um quadro foi pendurado pela mãe do menino em uma das salas do Museu, com trabalhos escolares, lápis e fotos da criança assassinada.

Foto: Adriano Almeida

 Manifestantes ocuparam meia pista da Avenida Brasil

Foto: Adriano Almeida

 

Policiais de fuzis escoltam a manifestação

Após esse momento, um dos organizadores do ato disse: "Vamos continuar que ainda temos muito pela frente". A caminhada seguiu em direção à Avenida Brasil, quando os manifestantes tomaram meia pista da via. Nesse momento, o comandante do Batalhão de Vias Especiais comandava pessoalmente o desvio do trânsito. Diferente das passeatas organizadas na zona sul ou até mesmo no centro da cidade, pelo menos cinco policiais, se mantinham ao lado da manifestação com fuzis em punho. Nesse momento os integrantes do ato começaram a gritar: "Cabral a culpa é sua, o extermínio continua" e "Não, não, não, não quero caveirão, eu quero meu dinheiro pra saúde e educação!"

Foto: Adriano Almeida A manifestação volta para a favela              

Após passarem pela Avenida Brasil, a caminhada se dirigiu novamente para o interior da Baixa do Sapateiro. Após alguns instantes os manifestantes pararam em frente ao PPC – Posto de Policiamento Comunitário, exibindo mais uma vez a faixa para os policiais. Alguns metros depois, o ato terminou em frente à casa do Matheus, com orações e palavras de solidariedade e afirmação de luta por justiça.

Matheus era uma criança de oito anos, que foi morta por um tiro até agora não foi identificado. A criança havia ido ao colégio e como não teve aula, voltou para casa. Ao sair para comprar pão, ás oito horas da manhã, foi e não voltou mais. O advogado João Tancredo, do Instituto de Defensores de Direitos Humanos, está acompanhando o caso.

André Fernandes