“Somos roubados porque a máquina pública convida ladrões a roubar”, dizem os pensadores e os filósofos de botequim. Basta olhar em volta para analisar – é preciso frieza para não desanimar – que o caos instalado criou raízes e já dá seus frutos, os quais alimentam um sistema com fome de destruição.
Enquanto, na educação pública básica, educadores sustentam o ensino nas próprias costas e bolsos, sem remuneração justa, assistimos universidades também públicas sendo desmontadas sorrateiramente, destruindo todo o conhecimento científico produzido pelo país. Se, de um lado, as aulas retornam em 2018 quase um ano após pararem suas atividades, do outro, temos universitários em uma jornada acadêmica de oito anos, o dobro do previsto quando ingressaram.
A Uerj resiste. Quantos alunos pobres precisam aumentar a jornada de trabalho e diminuir a de sono para ingressarem academicamente em instituições privadas?
“Sigo na luta pelo convencimento de que a universidade pública é amor. Quero ver a garotada preta e pobre toda na Uerj. Não se esqueça de lutar pela universidade pública”: as mensagens trocadas com uma amiga, via aplicativo, me fez repensar mais uma vez em todo esse ciclo que parece interminável provocado pela falta de educação consistente e relevante.
Você já teve a experiência de vivenciar um dia de diálogo em uma das unidades do Degase, o Departamento Geral de Ações Socioeducativas, que executa as medidas judiciais aplicadas aos adolescentes em conflito com a lei?
Então, preste atenção no dado a seguir: segundo o IBGE, a evasão escolar no Ensino Médio acontece entre jovens de 15 e 17 anos, curiosamente a mesma média de idade de jovens que ingressam no crime e consequentemente no sistema que citei anteriormente. Em uma das unidades do Degase, bem na entrada, vê-se um banner gigantesco de Paulo Freire, conhecido por suas inovações na educação popular, o que chega a ser incoerente com a precariedade do sistema hoje, em todos os territórios que relatei aqui.
Eu me questiono se realmente alguma coisa faz sentido, se esses jovens que já estão na linha da marginalidade vão encontrar ressocialização saudável para ter uma nova chance de recomeçar. Talvez, eu esteja sendo pessimista em dizer que não – não no atual cenário onde nos encontramos.
Entre uma resposta e outra a e-mails com educadores pedindo reforço nas unidades onde lecionam, me vejo tentando não perder a crença positiva de que vamos um dia ver tudo isso entrando nos eixos.
Seguimos com a única certeza de que somos roubados diariamente das nossas perspectivas e metas, sonhos e objetivos. Não dá tempo para fazer planos mais concretos enquanto a máquina pública definitivamente convida ladrões a roubar o que ainda nos resta.