Tereza Santos, fotógrafa, da Rede de Mulheres Negras, ex- diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações -SINTTEL, 63 anos, sua filha Cristiane Santos, estudante de Serviço Social e arte educadora, 45 anos, e sua neta Oruanda Karina Santos, estudante, 8 anos, saíram cedo de casa, em Mussurunga, na última quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, para participarem da Marcha de Mulheres 8M, partindo da Lapinha, às 13h, ao Pelourinho em Salvador.
Elas representam bem as diferentes gerações de mulheres baianas presentes no ato que reivindicam igualdade de gênero e acesso à direitos sociais.
Em sua quinta edição, a Marcha 8M esse ano levou para as ruas de Salvador o tema “Bicentenário da Independência da Bahia: Mulheres insubmissas e protagonistas da Democracia”. A mobilização foi construída por mais de sessenta coletivos de mulheres, dentre eles: Tamojuntas, União Brasileira de Mulheres-UBM Bahia, Marcha Mundial de Mulheres, Frente de Mulheres de Cajazeiras, Coletivo de Mulheres do Calafate, Rede de Mulheres do Subúrbio, Associação Papo de Mulher, Casa Marielle Franco Brasil, Coletiva Mahin Organização de Mulheres Negras, Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas – RENFA Bahia e Sindicato das Domésticas da Bahia.
As falas das entidades presentes indicaram a diversidade de pautas envolvida no combate à violência de gênero e o alinhamento político nas lutas.
Cristiane Santos denunciou a violação de direitos que atinge as mulheres. “A nossa luta é coletiva, somos nós mulheres negras que somos abatidas quando os jovens negros são mortos, quando não tem vaga nas creches, é preciso garantir os direitos da primeira infância, combater o racismo e a intolerância religiosa nas escolas”, destacou.
Ela dirige a Associação de Mulheres Koxerê, criada em 2007, com mulheres da comunidade de Mussurunga que se sentiam excluídas do mercado de trabalho pela situação de vulnerabilidade social. Nas atividades da entidade e dos movimentos sociais em Salvador sua família sempre está presente.
Representando a Marcha Mundial de Mulheres Lili Marinho enfatizou a unidade dos coletivos em torno de uma agenda política comum em defesa da Democracia e o legado das mulheres ancestrais que lutaram pela Independência da Bahia.
A RENFA denunciou a política de combate às drogas e o racismo que criminalizam e encarceram as mulheres negras e a Seção Sindical dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia- ADUNEB chamou atenção para o protagonismo das mulheres na luta sindical dos trabalhadores e trabalhadoras por direitos sociais e ao trabalho digno.
Bordado político democrático
Durante o trajeto da marcha, o mesmo do cortejo do 2 de julho, data cívica da Independência da Bahia, em meio a manifestações culturais com grupos de percussão e dança dois painéis bordados em tecido chamaram atenção com frases como “Respeita as minas”, “Sororidade” “Mulheres no poder” “Meu corpo, minhas regras”.
Eles foram feitos coletivamente através de rodas de bordado político, promovidas com o apoio da pesquisadora independente Maria do Rosário Borges que viaja por alguns países. No Chile existe um grupo de mulheres que usa a técnica arpillera que borda para protestar e falar das suas vidas cotidianas. “Essa experiência me estimulou fazer rodas de bordado político. Cada bordado é feito por uma pessoa, em geral em praças, feiras, comunidades, com o pessoal da Universidade Federal da Bahia-UFBa, o Movimento dos Sem Terra-MST, onde me convidam, a gente escolhe um tema”, explica.
Os painéis expostos na marcha foram produzidos por mulheres da Marcha 8M há alguns anos e a técnica é simples, baseada na ideia de “escrever com linhas”, a partir da livre expressão de pensamento de cada participante, do diálogo coletivo sobre temas que impactam a vida de cada um.