No dia 06 de fevereiro, semana na qual iniciaram as aulas na rede de ensinos fundamental e médio, a polícia militar do Rio de Janeiro resolveu fazer uma mega operação contra a suposta guerra às drogas.
Quem não mora em favela ou nunca testemunhou essas operações, não tem noção do que é um clima de guerra. Sim, são aqueles terríveis caveirões circulando pelas ruas e atirando por becos e vielas; aquele monte de policiais querendo matar todo mundo, pois para os mesmos e a sociedade brasileira em geral, morador de favela é tudo bandido.
O saldo dessas operações é sempre o mesmo: meia dúzia de armas apreendidas, mais uns simbólicos papelotes de maconha, cocaína e crack, e o pior, acabam com a vida da população preta e pobre. Ontem, foi isso, mataram um adolescente de 13 anos. Mais uma vida se foi, mais uma mãe teve seu peito arrancado, dor essa que jamais será sanada. Sem contar os moradores que foram atingidos pelos projéteis.
A naturalização da violência dos nossos corpos negros é um processo muito perverso, pois é aceito que nos linchem, nos estuprem, nos matem. Precisamos falar sobre o racismo no Brasil. É urgente, se trata de manter vidas.
A escravidão deixou heranças e cada povo tem a sua: para os brancos, ainda que não sejam diretamente culpados desse holocausto, herdou-se o patrimônio financeiro e a tranquilidade de ir e vir pelas ruas sem medo de ser abordado pela polícia como suspeito. Para os negros, herdou-se a rua, pois em seguida à abolição, fomos desamparados por todos aqueles que nos sequestraram e nos roubaram; fomos compor as favelas. Sim, desde a escravidão é normal nos açoitar, nos prender, nos matar. E hoje, assistimos a atualização desse feito.
Não obstante, dia desses, estava circulando pela rua buscando atrações para descansar a mente e, de repente, nos deparamos com uma situação de linchamento. Imediatamente, nos envolvemos (eu e o grupo de mulheres negras que estavam comigo) e separamos. E, para a nossa tristeza, tivemos que levar o garoto para a polícia militar (o acusavam de furto de um celular) para evitar um homicídio. Quando chegamos à polícia, a indagação foi: “quem irá registrar a ocorrência?”. Olhamos uns para os outros e vimos que quem estava ali, era quem quis evitar a morte do garoto. Ou seja, não houve roubo, era apenas o racismo expresso por meio do ódio que (grande) parte da população tem pelo povo preto.
Todos os dias vemos discursos de ódio contra a molecada, que está no varejo de drogas nas favelas, daqueles que furtam cordão e celular na rua, pedem a morte da população negra, mas esquecem que os maiores ladrões e culpados de compormos a população pobre são os brancos que vieram da Europa sequestrar, roubar e nos escravizar. Os verdadeiros ladrões são engravatados!
Precisamos, urgentemente, desmascarar o racismo, entender quem realmente rouba esse país e dizer chega à violência contra o nosso povo. Chega de operação nas favelas. Não é lá a origem do tráfico de drogas e de armas. Chega de linchamentos, chega de estupro e toda violência às mulheres negras. Vidas negras importam, sim. E você, o que está fazendo, diariamente, para somar nessa luta contra o racismo?