A banda Caboclo Mestiço — fundada pelos artistas Alê Maia e Hamilton Tenório, faz música autoral pernambucana, com ritmos da cultura popular, letras, percussões, sopro, cordas, bases orgânicas e eletrônicas e efeitos, nos palcos e nas plataformas digitais, onde está lançando “Maria Índia”. Esta música em homenagem às mestras da Jurema Sagrada é a primeira disponibilizada pela banda no ano de 2024.
Em “Maria Índia”, o Caboclo Mestiço mantém a originalidade de reverenciar o que veio antes, evidenciando a cultura afroindígena e as religiões de matriz africana. A faixa é lançada de maneira independente.
“A música ‘Maria Índia’ é uma celebração para homenagear as mestras Maria do Acais (a primeira) e a sua sobrinha, Maria do Acais (a segunda). Ambas contribuíram para o fortalecimento da prática da tradição religiosa da Jurema Sagrada, e viveram entre os séculos XIX e XX, mais especificamente nas cidades de Alhandra, no litoral sul da Paraíba, e do Recife, capital de Pernambuco, no Nordeste do Brasil”, explica o cantor e compositor Alê.
De raiz indígena, as mestras Marias do Acais foram caboclas que exaltaram a herança ancestral e cultural, seus hábitos e costumes religiosos, sendo referências na construção do sincretismo tão peculiar no Nordeste brasileiro.
“Maria do Acais e a sua sobrinha, também conhecida como Maria do Acais, exerceram o papel de lideranças religiosas da Jurema Sagrada e de suas comunidades, uma vez que atuaram como parteiras, rezadeiras e curandeiras, ambas detentoras de saberes indígenas e da cultura afrobrasileira. Elas, inclusive, foram procuradas pelas pessoas, devido ao conhecimento do poder medicinal das plantas, que precisavam de ajuda num distante Brasil rural”, acrescenta.
A capa de “Maria Índia” é uma obra de arte em ilustração assinada pela artista gráfica pernambucana Carla Almeida, com a adição tecnológica da Inteligência Artificial (IA), além da contribuição de Hamilton Tenório para a definição das fontes. Hamilton assina no Caboclo Mestiço a produção musical/direção executiva, além de ser musicista (teclado, guitarra e beats eletrônicos).
“Apesar de estarmos vivendo a época da música disseminada digitalmente, continuamos acreditando na importância do aspecto visual para a compreensão da ideia de música, artisticamente falando. Acreditamos fortemente nos elementos musicais que definem a estrutura histórica da música no Nordeste do Brasil, e é assim que encontramos as referências que possuímos”, comenta Hamilton.
Musicalmente, “Maria Índia” traz o ritmo da Mazurca, gênero musical predominante da faixa, e dialoga também com o samba de coco e o afrobeat, além da voz feminina de Ceci Medeiros como participação. A música foi gravada nos estúdios HT e Toca do Lobo Records, ambos na cidade de Olinda/PE.
“A parceria entre os instrumentos orgânicos e os eletrônicos utilizados também é destaque na faixa, sendo o ponto forte para a materialização fonográfica dessa estrutura rítmica e harmônica que se apresenta de forma universalizada nesta nova música nossa”, ressalta Hamilton.
Dentro do processo musical, somam-se ao grupo Luiza Lima (trombonista) e Peu Drums (percussionista), que integram a banda atualmente tanto nas gravações como nos shows. Luiza é uma mulher negra, técnica em trombone, formada pelo Conservatório Pernambucano de Música, e professora de música, atuando em diversos nichos artísticos. Peu, musicista da cena musical pernambucana há mais de 20 anos, foi o responsável pela composição dos arranjos de percussão do primeiro lançamento da história do Caboclo Mestiço, entre os anos de 2018 e 2019, com seis webclipes, das músicas gravadas ao vivo, publicados no canal da banda no YouTube. Ele também gravou as percussões de uma das faixas do disco de estreia do Caboclo Mestiço: Sistema Sonoro é o nome do álbum (2023), composto por dez músicas autorais.
A origem do Caboclo Mestiço é acadêmica, a partir do curso de produção fonográfica da Associação de Ensino Superior de Olinda (AESO), onde Alê e Hamilton se conheceram, estudaram e ampliaram os conhecimentos. Hamilton, inclusive, traz para a construção da banda suas vivências com o Lamento Negro (nascido em Peixinhos, Olinda, e 37 anos de história marcada na cultura e na música negra pernambucana) e o Daruê Malungo (arte e cultura negra entre os bairros de Campina do Barreto, no Recife, e Peixinhos, em Olinda).