14 de março de 2020. Dois anos de um assassinato que ainda intriga o País. Dois anos de um crime ainda sem resposta: quem mandou matar Marielle? Menina pobre, negra, da favela, que nasceu e se criou no Complexo da Maré, no subúrbio carioca, em meio a injustiças e desigualdades sociais, decidida a mudar a sua própria história e a de tantas outras pessoas de favela. Marielle Francisco da Silva, a vereadora Marielle Franco, dedicou a própria vida a apoiar quem mais precisava e pagou com a própria vida o preço da luta por justiça.
Na noite de 14 de 2018, após sair de um encontro com militantes feministas no centro da capital carioca, Marielle seguia de carro pelas ruas do Estácio, área central do Rio de Janeiro, quando ela e o seu motorista Anderson Gomes foram alvejados e mortos.
Um ano depois, em 12 de março de 2019, a policiais civis e promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro prenderam o policial militar reformado Ronnie Lessa, 48 anos, e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 46, suspeitos de participação no crime. Segundo investigações, Ronnie Lessa teria efetuados os disparos de dentro do carro dirigido por Élcio Queiroz, em perseguição ao veículo onde estava o alvo, a vereadora Marielle.
Os dois continuam presos. No começo desse mês, eles tiveram os sigilos fiscais e bancários quebrados pela Justiça do Rio de Janeiro, em decisão da 1ª Vara Especializada de Combate ao Crime Organizado, que determinou também o sequestro de bens de Lessa e a quebra dos sigilos de outras cinco pessoas suspeitas de serem “laranjas”.
Pouco antes do crime, Marielle havia assumido a relatoria de uma comissão formada pela Câmara Municipal do Rio para acompanhar a intervenção federal. Vereadora eleita em seu primeiro e única disputa eleitoral com 46.502 votos, ela foi a quinta mais votada da cidade nas eleições de 2016 e teve sua carreira política marcada pela defesa dos direitos humanos. Era formada em Sociologia (PUC-Rio), onde estudou com o apoio de bolsa integral, e fez mestrado em Administração Pública na Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua dissertação teve como título “UPP: a redução da favela a três letras”.
O crime, uma execução, gera revolta pela perda de uma ativista tão importante e pela falta de elucidação. É dever das autoridades dar resposta a sociedade e solucionar esse caso e apresentar as motivações. Marielle foi morta para ter o seu trabalho de investigação barrado e sua voz silenciada. Voz que falava pelo povo e contra esquemas de corrupção que ela investigava.
A moça pobre da favela, após ter sua vida interrompida, passou a ganhar ainda mais voz. Hoje, grupos e organizações sociais se mobilizam e dão continuidade ao seu trabalho e luta, em favor do bem comum. Marielle, apesar da partida forçada, segue cada vez mais presente.