Nesta sexta-feira, 18 de agosto, acontece um ato público em defesa da deputada estadual Marina do MST (PT), às 18h30, no Armazém do Campo, na Lapa, centro do Rio de Janeiro.
Além do ato de hoje, no próximo dia 27 de agosto, às 13 horas, está marcado outro ato em defesa da deputada, em Lumiar, na mesma praça onde Marina do MST foi atacada por bolsonaristas.
O ataque aconteceu no último dia 12 de agosto. A deputada foi agredida na cidade de Lumiar, 7º distrito do município de Nova Friburgo (RJ). Um grupo de bolsonaristas atacaram verbal e fisicamente a equipe da Marina do MST com chutes, empurrões, garrafas e latas, numa afronta à democracia.
Tudo começou porque em 9 de agosto a parlamentar anunciou nas redes sociais a prestação de contas do mandato aos seus eleitores, denominado Plenária Territorial, no município de Nova Friburgo.
Em seis meses, a equipe de Marina foi a dez municípios do estado realizando prestações de conta e atividades culturais, sendo o último município Volta Redonda, no dia 5 de agosto.
Vereador chama população contra deputada
Foi quando começaram as notícias falsas baseadas em desinformação ou má fé direcionada. O vereador José Carlos Schuab, eleito pelo Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) em 2022, na sessão legislativa do dia 10 de agosto, usou o púlpito para incitar a população e os agricultores contra a realização da Plenária Territorial de Marina do MST no 7º e 5º distritos do município, Lumiar e São Pedro da Serra, respectivamente.
“Recebi hoje a informação da população de Lumiar, que está muito preocupada, de que sábado marcaram uma reunião lá com Marina do MST. Será que vão montar um acampamento lá na praça de Lumiar e já começar as invasões? Será que Lumiar tem tantos hectares de terras improdutivas que o MST tá de olho?”, disse o vereador.
A presença do MST não estava agendada em Nova Friburgo. Ocorreria somente a visita do mandato popular de uma deputada eleita com mais de 44 mil votos no estado do Rio de Janeiro, cumprindo o dever legislativo de prestar contas aos seus eleitores.
Deputada esclareceu motivo da visita, mas não adiantou
Na publicação no Twitter dia 11 de agosto, um dia antes, diante das ameaças recebidas, Marina do MST tentou esclarecer as razões da visita que faria no dia seguinte:
“A gente não vai a Friburgo ocupar latifúndio de ninguém, inclusive porque a cidade é referência no que a gente defende: o pequeno agricultor. 96% das propriedades são de pequenos produtores que colocam comida de verdade na mesa dos brasileiros. Friburgo dá aula para o Brasil.”
Segundo a deputada, ela iria “prestar conta das ações do nosso mandato, para levar as conquistas que duas cooperativas da cidade terão o Programa de Aquisição de Alimentos, do governo federal, que trabalha para ajudar o pequeno produtor”.
Não adiantou. A partir de então, correu a falsa notícia de que o MST acamparia em Lumiar e iniciaria ocupações em propriedades. Essa mentira ampliou-se para discursos de ódio e, sobretudo, em convocatória à população para expurgar a presença do MST no local.
Provocadores locais entram em cena
Nesse contexto de guerra armada, entra em cena um personagem muito conhecido da região, o agricultor Jailton Barroso Eller, que ganhou noticiário nacional em 2022 quando foi alvo de mandado de busca e apreensão a pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Ele era investigado por crimes de posse irregular de arma de fogo e incitação ao crime. Motivo: uma série de áudios gravados e divulgados pelo agricultor no aplicativo de mensagens do Instagram enaltecendo a resistência armada do ex-deputado Roberto Jefferson.
Na sexta-feira, dia 11 de agosto último, Jailton parece ter voltado a reincidir no mesmo caso de incitação, e novamente por áudios. Ele se identifica nos dois áudios veiculados em grupos do aplicativo WhatsApp que se tornaram o estopim das agressões que ocorreriam no dia seguinte, 12 de agosto.
Áudios mentem sobre visita da deputada
Referindo-se ao MST, ele disse que “não podemos nem devemos aceitar esse movimento aqui na nossa região. Eu sugiro e convoco a todos do 5º e 7º distrito a estarem em Lumiar a partir do meio-dia. Não adianta só as lideranças, só eu da Ação Rural ir, o Sérgio Gasolina de Lumiar ir, Paulo Betinho aqui de São Pedro, o povo tem estar junto. Nós é que vamos ocupar aquela praça e vamos impedir que aconteça aquela tal de plenária”, convoca o agricultor.
No segundo áudio, ele continua: “Eu tô arrumando um grupo, do local. Quem? Nós moradores, eu tô entrando em contato com o pessoal da Associação de São Pedro [Associação de Moradores e Amigos de São Pedro da Serra], a Associação de Agricultores Familiares do 7º distrito [São Pedro da Serra], nós tem aqui a Ação Rural“.
Para legitimar a ação, ele se ancora novamente na falsa informação de que o MST ocupará propriedades, seja imóvel urbano ou rural: “isso é casa, imóvel que tiver largado aí, [“o MST”] pula pra dentro e depois tá ruim de tirar”. E continua: “Então a coisa é séria e eles estão investindo na região. O imóvel que compraram lá é em torno de R$ 2 milhões”. Segundo a equipe do mandato da Marina do MST, esta informação é mentirosa.
Associação nega participação nas agressões
Jailton Barroso Eller é diretor da empresa Ação Rural de Lumiar, co-fundador do Sindicato dos Agricultores Familiares de Nova Friburgo e da Associação dos Trabalhadores Rurais de São Pedro da Serra.
Trata-se de uma liderança local com altíssima capilaridade e influência política, também porque já foi presidente da Associação de Moradores de Amigos de São Pedro da Serra (AMASPS).
A AMASPS, em nota, disse que “não possui qualquer vínculo com o ocorrido no Distrito de Lumiar no último sábado 12 de agosto de 2023, a qual não fomos convidados oficialmente para o evento. Representamos todos os moradores e trabalharemos sempre em prol da comunidade sãopedrense”.
Deputada pediu segurança policial
Beatriz Mendonça, advogada de Marina do MST, relatou que assim que informadas dos áudios e as seguidas ameaças que se seguiram nas redes sociais, acionaram a equipe jurídica que enviou ofícios para a 151ª Delegacia de Nova Friburgo e para o 11º Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da Polícia Militar do distrito de Lumiar.
Foram solicitados que fosse resguardado o direito da utilização da praça pela deputada e das pessoas interessadas em participar do evento de maneira organizada e segura. Destacou-se a função parlamentar de encaminhar assuntos de interesse do segmento social e da região que a elegeu.
Dia 12, quando acontecem as agressões
Sábado, dia 12, havia duas atividades da Plenária Territorial programadas. Às 9 horas da manhã houve a Plenária Centro, no Sindicado dos Bancários de Friburgo. Segundo Nota Pública da Marina do MST, divulgada em redes sociais, a reunião da manhã transcorreu tranquilamente junto a moradores, agricultores e entidades agrícolas.
Às 14h30 haveria o segundo encontro, a Plenária Lumiar, marcada para acontecer na Praça Levi Aires Brust, em Lumiar.
“Assim que chegamos em Lumiar, fomos hostilizadas e xingadas. Tentamos iniciar o evento em respeito às pessoas que foram nos ouvir e debater os pontos de interesse da localidades, mas iniciaram as agressões físicas e atiraram pedras, ovos, garrafas e latas contra nós”, afirma a mesma Nota Pública.
As dezenas de vídeos que circularam nas redes sociais foram retumbantes confirmadores desta Nota. Marina e sua equipe se postaram com moradores e agricultores locais num coreto situado na Praça Levi Aires Brust. Foram cercados por um grupo de aproximadamente 200 moradores que xingavam, atiravam objetos e acabaram por os empurrar para fora do coreto.
Prestação de contas acontece, apesar das agressões
Apesar dos ofícios enviados pelo setor jurídico do gabinete da deputada Marina do MST, policiais e viaturas do Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da Polícia Militar de Lumiar só se apresentaram ao local depois de consumada a confusão. Transferiu-se, então, a Plenária Territorial para o pátio da DPO.
“Mesmo em condições adversas, realizamos nossas atividades nas dependências da DPO. Mesmo com as tentativas bolsonaristas de nos impedir de falar, não arredamos o pé, resistimos e fizemos a nossa plenária em Lumiar. Dialogamos com mais de 60 pessoas dispostas a debater a política da região e a defender a democracia”, defendeu nas redes sociais a deputada depois do ocorrido.
Um morador de Lumiar que preferiu não se identificar, estava entre os resistentes na DPO e relatou que “tinha gente da associações de Agroecologia, da Casa dos Saberes, dos Pontos de Cultura, havia vários coletivos, como coletivos de mulheres, e foi tudo muito produtivo apesar do tumulto”.
No entanto, ele alerta: “Naquele momento, os manifestantes estavam totalmente fora de controle, o nível de agressividade altíssimo. Certamente, tinha gente armada lá eu vi gente com facões, pedras, Porque aqui tem sujeito que não sai de casa sem uma arma. Poderia ter acabado em tragédia com certeza”.
Repercussão e apoio à deputada
Depois do caso de Lumiar, as redes sociais foram tomadas de uma enxurrada de postagens de vídeos de lideranças e personalidades públicas em apoio a Marina do MST. Foi lançada uma campanha Tô com Marina do MST, através da página marinadomst.com.br, onde é divulgado um manifesto de apoio, com mais de 50 mil assinaturas desde o dia 13 de agosto.
O jurídico do mandato da deputada Marina do MST, entrou, na sexta-feira, 11 de agosto, com uma representação junto ao Ministério Público Federal, “porque as ameaças e fakenews divulgadas via aplicativos de mensagens demonstram ameaças à ordem jurídica e ao regime democrático”, disse advogada da deputada.
Providências contra agressões estão sendo tomadas
No domingo dia 13 de agosto, a deputada Marina do MST realizou uma live com a presença de dezenas de lideranças de movimentos sociais e parlamentares. Nela, anunciou a formação de um Grupo de Trabalho entre advogados e escritórios, como a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia, a OAB e as assessorias jurídicas de vários mandatos, a fim de tomar as devidas providências para a responsabilização.
Em 15 de agosto, a advogada Beatriz Mendonça informou que, em consequência da representação junto ao Ministério Público, “o GT de Violência Política de Gênero do Ministério Público Eleitoral representou à Procuradoria da República no Município de Nova Friburgo, para tomar as medidas apuratórias criminais cabíveis”.
Sobre o vídeos do vereador José Carlos Schuabb (PRTB), a deputada, na live, afirmou: “Nós estamos fazendo uma carta de repúdio a esta ação deste vereador à Câmara Municipal de Nova Friburgo. Este vereador teve 497 votos no município de Nova Friburgo, e eu tive 737 votos no mesmo município. Então, é uma política tão desrespeitosa de impedir que eu exerça o meu dever como deputada estadual”.
Várias pessoas que participaram do tumulto já foram identificadas.
E nesta sexta-feira, dia 18 de agosto, Beatriz Mendonça da assessoria jurídica do gabinete da Marina do MST atualizou que já foi protocolado junto a 151.a Delegacia de Nova Friburgo e à DECRADI – Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, do Rio de Janeiro, um dossiê baseado em denúncias anônimas de moradores de Lumiar.
Em Lumiar, RJ, como em 8 de janeiro, em Brasília
A violência política manifestada em Lumia revela uma continuidade das arregimentações políticas em disputa ainda no espectro das eleições do ano passado. Assim, como houve um 8 de janeiro na Praça dos Três Poderes, em Brasília, Lumiar teve o 12 de agosto na Praça Levi Aires Brust.
Do mesmo modo que em Brasília houve incitadores punidos e outros ainda investigados pelo Ministério Público e Polícia Federal, Lumiar tem o seu Jailton Eller, que foi investigado ano passado e é réu em processos na justiça por incitação ao crime, além de outros moradores.
Segundo o Censo 2022 do IBGE, Nova Friburgo tem uma população de 189.937 pessoas. Porém, o distrito de Lumiar tem, no máximo, 5.000 habitantes. São Pedro da Serra, 3.612 habitantes. Nestes pequenos locais é onde a convivência política é mais difícil.
A apuração dos votos do segundo turno das eleições presidenciais de 2022, segundo o site do TSE, contabilizou 68.371 votos para Jair Bolsonaro, ou 59,44% do total de Nova Friburgo. Já Lula (PT) representou 40,56% dos eleitores e recebeu 46.661 votos.
Bolsonarismo trouxe agressividade à cena política local
Uma moradora de São Pedro da Serra, que prefere não se identificar por ser conhecida no local, afirma que “está estranho, tenho um pouco de receio, com as pessoas agressivas assim, dá medo”.
Ela que se declara uma “nativa de esquerda“, e diz que “no tempo em que eu participava das associações lutava-se sem violência pelos direitos dos nativos. Agora, com a chegada do bolsonarismo no nosso país, as coisas mudaram por aqui. Falta de tolerância, mais da direita aqui”.
A própria trajetória do Jailton é exemplar. Para ela, “quando ele era presidente da Associação dos Moradores e Amigos de São Pedro da Serra, que eu fazia parte, ele tinha um discurso bonito de luta justa. Mas com o passar do tempo vi ele partindo para o radicalismo e aí perdi o contato por questões de ideologia”.
Há um aspecto de cultura política local elucidado por ela: “eles estão se organizando da seguinte forma: a população da terra é bem preconceituosa com os de fora. Mesmo que estas pessoas estejam aqui há mais de vinte anos na comunidade, com sítios e chácaras, são consideradas forasteiras” .
Para lideranças políticas, população é pacífica e foi induzida
Cláudio Damião, liderança histórica do Partido dos Trabalhadores de Nova Friburgo, ex-sindicalista e ex-bancário, acredita que “foi uma violência que mancha a imagem do distrito. A população de lá é pacífica, são pessoas boas, trabalhadoras, são pessoas amantes da paz, não são pessoas agressivas. Elas foram induzidas a uma atitude violenta. Eles devem ser criminalmente responsabilizados”.
O deputado federal Glauber Braga (PSOL), que é friburguense, tem visão semelhante. Na live da Marina do MST, afirmou que “uma parte daqueles que tocam esta política de ódio, ou que se deixaram envenenar pelas notícias falsas não representa a posição do conjunto de moradores e moradoras de Nova Friburgo, Lumiar e São Pedro. Inclusive, têm uma força de esquerda que é forte, é punjante lá”.
O deputado fez um convite: “em pouquíssimo tempo atrás eu estava lá. Na mesma Praça em que você esteve, dialogando com moradores, fazendo prestação de contas. Marina eu queria muito o seu retorno no município de Nova Friburgo numa grande mobilização, a gente quer te receber da forma como você merece”. Marina aceitou.
A trajetória de Marina do MST
Lúcia Marina dos Santos, nasceu em 10 de agosto de 1973 em Cascavel (PR), filha de boias-frias que trabalhavam nas lavouras. Seus pais foram expulsos de Barbacena pela concentração fundiária que os forçou a migrarem para o sul. Assim Marina se forjou no trabalho rural.
Trabalhou na colheita de café quando o pai conseguiu comprar um pedacinho de terra em Guaraniaçu (PR). Porém, devido a um empréstimo bancário, perderam a terra e foram para na periferia da cidade. Aos 10 anos de idade, preocupada em estudar e se formar, entra para um convento de freiras franciscanas ligado às Comunidades Eclesiais de Base.
Em 1989, aos 16 anos, ao acompanhar um padre numa missa realizada num acampamento sem-terra com mais de 300 famílias e quase 2 mil pessoas, que Marina conheceu o MST. Após o fim da liturgia, Marina disse ao Frei: “Frei, o que eu quero lá no convento tá aqui. Eu vou ficar”. E ficou.
Em 1996, deixa o Paraná e se instala em Campos dos Goytacazes (RJ), quando testemunhou pela primeira vez a condição de trabalho análogo à escravidão. Formou-se em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
É mestre em Geografia, numa parceria da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) com a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). Entre 2006 e 2011, coordenou o escritório nacional do MST, em Brasília (DF).
Entre 2014 a 2017 atuou na coordenação internacional com a Via Campesina. Atualmente, é da Direção Nacional do MST no setor de Frente de Massas e foi eleita em 2022 deputada estadual no Rio de Janeiro pelo Partido dos Trabalhadores (PT) como Marina do MST.
SERVIÇO
Ato Público em Defesa do MST, dos Movimentos Sociais e das Parlamentares – Elas ficam!
Dia 18 de agosto
Local: Armazém do Campo. Av. Mem de Sá, nº 135, Lapa, Rio de Janeiro.
Horário: 18h30.
ATO EM DEFESA DA MARINA DO MST EM LUMIAR
Local: Praça Levi Aires Brito, Distrito de Lumiar, Município de Nova Friburgo, Rio de Janeiro
Data: 27 de Agosto de 2023.
Horário: 13hs.
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