Mais um domingo, céu azul! Como sempre, o maldito cigarro entre os dedos. No ar, cheiro de café. Na rua, poucos ruídos, manhã acordando… Enquanto os minutos caminham lentamente, resgato memórias de tempos de espera, tempos de fuga, de incertezas, vida de foragidos, caminhantes, vagando por aí à espera do milagre: a liberdade. E, Evoé, ela veio!
“Novos rumos se apresentam, novas possibilidades se anunciam… Enquanto aqui no meu retiro, lendo, fumando, continuo esperando o tempo passar, acreditando no ser humano e no seu direito à felicidade.
As lembranças chegam e eu as digito em arquivo à parte para que elas possam somar-se a outras e começarem a ter forma, corpo…
Não é fácil lembrar… Às vezes, nos magoa, nos oprime, que dirá em tempos difíceis, quando o exercício da fé se faz numa necessária constância. Mas as histórias são feitas das dualidades dos sentimentos, das memórias nem sempre agradáveis, porém, que nos traduzem e nos revelam.
De onde, estou vejo o céu. Estrelas me olham e eu desejo a liberdade como resposta.
E, enquanto as memórias se colam, vou fingindo fazer poesia…
E continuo a montar e a desmontar palavras…
Procurando uma certa sonoridade, uma estrura correta.
Sigo, cigarro aceso, noite alta, lua encoberta, céu sem estrelas…
Lembrando Florbela Spanca, finjo fazer versos, brinco com as palavras, enquanto, no negrume celeste, a lua luta entre pesadas nuvens para espiar o passar das horas.
Às vezes, penso em ti
Às vezes, penso em ti…
Quando a brisa invade o quarto com seu cheiro de mar,
Quando a lua impera prateada sobre a cama.
Penso em ti…
Quando as nuvens formam brancos flocos, algodão doce, sob o azul do céu.
Quando as estrelas cintilam, pequenos brilhantes em noite sem lua.
Penso em ti…
Quando o sono não chega e a cabeça navega…
Quando a brisa marinha invade o quarto pela janela.
Penso em ti…
Com alegria sincera,
Com saudade discreta,
Com ternura e respeito.
Penso em ti…
Como lembrança agradável dos vinte,
Como confirmação das escolhas que fiz.
Penso em ti…
Como experiência feliz,
Como aprendizado e amor.
Penso em ti…
Sem mágoa,
Sem culpa,
Sem pena.
Com saudade sincera,
Com respeito real,
Com carinhosa saudade.
Às vezes, penso em ti…
E quando penso, me alegro,
E quando me alegro, me lembro…
Do carinho, da esperança, da juventude.
(25/03/2009)”