Mergulhe no mar do silêncio. O burburinho ininterrupto e doentio já consumiu demais tua atenção, já tencionou demais o teu amago, já subtraiu energias vitais do teu brio.
Cerre os lábios, concentre o foco no que está vivo ou fixado ao seu redor.
A derrota veio, mas não para ficar. Os invasores penetraram, mas não para ficar.
Tudo vai depender de ti e dos teus similares e dos teus diversos.
Mergulhe no Rio dos Olhos, relaxe as pálpebras, e deixe a tua passiva retina assimilar o anfiteatro das córneas.
O Tempo é vasto e requer variedade de posturas e reinvenções do estar e do agir.
O fluxo das coisas todas em choque exige ponderação e cálculos intuitivos não-matemáticos.
Mudar o mundo é uma espécie de ganância. Altere o em volta e acredite na viralização.
Mas não agora. Mergulhe no mar do silêncio. Todo voo multicor exige casulo.
Você vai precisar engravidar, gestar só então parir. Mergulhe nas horas, nos dias, nos meses, nos anos, nas décadas, nos séculos, nos milênios e, num segundo inesperado, ansiosamente aguardado, o Tempo da Mutação irá roncar os seus motores.
Cerre os lábios, firme o foco, ouça a harmonia estranha das esferas invisibilizadas.
Reencontre o poder do sonho e da memória.
Mundo é o entorno das pálpebras. Tudo que já foi permanece e te cerca e te desafia, te constrange, te acolhe, te define e, também, molda tuas formas para o escape.
Deixa secar o rio dos hábitos, dos gestos repetidos e das agonias obrigatórias.
Mergulhe no oceano do silêncio e aguarde a hora boa do encantador desmergulhar.