O termo meritocracia significa conquista através do mérito. Com o argumento de que seria a forma mais justa de se fazer uma escolha, ela está fortemente injetada nas sociedades modernas. A meritocracia é uma forma de organização que sugere que o indivíduo se promova nas diferentes instituições da sociedade seja por esforço individual, por talento, inteligência e/ou competência. A forma como esse sistema afeta os indivíduos que o vivem vem sendo a cada dia mais questionado e discutido, principalmente pela forma como legitima a desigualdade social por onde quer que ela esteja presente.
Enquanto uns acreditam ser a melhor forma de alocar cargos, há quem diga o contrário. Isso porque a meritocracia não leva em consideração os fatores econômicos, culturais, sexuais e sociais nos quais as pessoas pertencem. Basicamente indica que pessoas com privilégios sociais continuem tendo seus privilégios enquanto as pessoas nas posições hierárquicas inferiores permaneçam lá além de serem totalmente responsáveis por seu insucesso. É como se o Governo isentasse sua parcela de culpa na expansão da desigualdade.
A teoria é que a meritocracia aumentaria a produtividade e eficiência dos indivíduos, uma vez que os mesmos se esforçariam mais para alcançar seus objetivos. O problema é que nesse jogo de competição, os que possuem mais poder ou os que tem maiores condições econômicas sempre estariam na vantagem. Um favelado não tem o mesmo conhecimento do que o filho do burguês. Sendo assim, não seria justo coloca-los para competir na mesma vaga, seja ela profissional ou educacional.
O Exame Nacional do Ensino Médio, o famoso Enem é o exemplo perfeito de como esse sistema ocorre no Brasil. O exame anual reforça a ideia de que os alunos com melhor pontuação nos resultados das provas são os que estariam aptos a ingressar na faculdade pública. O que acontecia antes da implementação da Lei de Cotas (Lei Federal 12.711, de 29 de agosto de 2012), era que candidatos que estudaram em escolas particulares e que tinham melhores condições financeiras eram os que tinham uma probabilidade muito maior de ingressar no mundo acadêmico em relação aos candidatos que tenham vindo de uma família pobre e com escolaridade desenvolvida em instituição pública. Com a Lei de Cotas, a ideia é que negros, índios e pessoas com baixa renda tenham mais oportunidades de acesso nas faculdades e que a partir do conhecimento adquirido se elevem nos níveis hierárquicos para assim mudar sua condição de vida. Essa foi a forma que o país encontrou para reparar os mais de 200 anos de escravidão formalizados pela colonização Portuguesa.
O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro discursou diversas vezes sobre como seu governo é abertamente adepto a meritocracia. Segundo Jair, “quem se empenha e se dedica logicamente terá uma vida muito mais tranquila”. Mas certamente, qualquer funcionário do Banco do Brasil que se dedicasse ao máximo para chegar ao cargo de Assessor do Presidente do banco, não teria a menor chance de consegui-lo. E o motivo é simples: apesar de defender o método de conquista através do mérito, o presidente reservou a vaga para o filho de seu Vice-presidente, Hamilton Mourão. Contraditório, não?!
Antes de atribuir alguma conquista através do mérito, repense e investigue as condições dos outros candidatos. O governantes não nos trata de forma igualitária, sendo assim a meritocracia está longe de ser o modelo ideal para organização dos seres.