Desafios da realidade da Diáspora Afro Brasileira nos territórios tradicionais e periféricos na terra das palmeiras.
Mais uma bela aurora no infinito horizonte desponta, rompendo o véu da madrugada, enquanto na quebrada a rainha preta, há algumas horas ainda sonolenta, sentada a beira da cama, põe-se a contar as poucas moedas que restam na esperança de que sejam suficientes para comprar os pães, ovos e ao menos 1 botijão de água potável, para garantir o banho dos “pirraias” e mandá-los a escola limpos, e mesmo com a falta de água que já soma um mês, garantir o mínimo de dignidade.
Nas comunidades periféricas brasileiras as mazelas são bem parecidas, senão iguais, principalmente no tangente a parcela que corresponde 56% da população do Brasil.
Olhando para os últimos levantamentos e resultados das pesquisas, os dados das violências evidenciam o cenário de violação e extermínio, e trazem números que nos colocam a pensar quando constatados.
A maioria dos homicídios cometidos pela força de segurança policial, os corpos são negros que tombam; no sistema prisional brasileiro são mais 657,8 mil presos, para cada grupo de 3, 2 são corpos negros, correspondendo a um total 64% da comunidade carcerária no Brasil.
Nos lares de famílias negras, 54,7% não tem assegurados acesso a saneamento básico: como serviço de esgotamento sanitário, abastecimento de água potável e coleta de lixo. Na educação são significativos os avanços, a cada 10 alunos que passam de ano no ensino médio 7 são negros, situação dissonante na perspectiva do acesso a vida acadêmica, onde embora tenhamos garantido 25% das vagas, esse percentual não é acessado, nos deixando evidente a falta de oportunidade e a má qualidade do processo formativo.
Não tem como negar, é das oligarquias de nomes e sobrenomes brancos e racistas a responsabilidade sobre os efeitos dessa realidade, tendo em vista que nos têm como seres inferiores.
É resultado dessa condição, o impacto direto em nossa auto estima, comprometendo e deixando em estado de vulnerabilidade, com a destruição das nossas vidas. E mesmo com toda resiliência e resistência crescente da comunidade negra brasileira, na perspectiva de ocupar espaços políticos estratégicos, nos poderes, na base comunitária, universidades, conselhos políticos, mídia, legislativo, academia de letras, poder executivo, enfim todos ambientes importantes para assegurar direitos, seguimos no enfrentamento, é preciso ressignificar os nossos valores ancestrais, culturais e nossa identidade
Em determinado ambiente, de maneira direta e enfática, Exú se expressou,” Não podemos admitir e aprovar os nossos mergulhados em um mar infinito de delírios materiais, desvirtuando e desconfigurando a espiritualidade ancestral “, revelando o quanto ainda estamos desarticulados, e a sensação é de estarmos dentro dos porões escuros das Naus, desnorteados e sem condições reais de comunicação entre os iguais.
É preciso “anegrar” a consciência negra Brasileira, e isso significa fazermos toda trajetória nos permitindo vivenciar as memórias e acessarmos as dores dos nossos ancestrais, que sofreram todas as intempéries e violações nas garras dos assassinos colonizadores, algozes dos povos originários e responsáveis pelo sofrimento e diáspora destes e do povo preto.
Oferece pipoca para o seu Orixá, ele vai gostar, dançar e girar levando todas as mazelas para bem longe.