Em meio ao subdesenvolvimento e consequentemente às diferenças sociais vividas pela maioria da população brasileira e mundial, nos deparamos com uma sociedade que só enxerga e trata o outro de forma excludente. O que não é por acaso. Segundo a sociedade capitalista, imperialista, é preciso que uns tenham mais acesso, oportunidades e direitos do que outros. Isso significa, em termos práticos, que muito poucos – se considerarmos a proporção de ricos e pobres no mundo – serão aqueles que terão acesso irrestrito a bens e serviços. E é exatamente este restrito grupo que comandará as coisas, como acontece desde a fundação do capitalismo no mundo.

E os meios de comunicação, são os grandes apoiadores dessa sociedade do capital, pois é por meio deles também que se aliena, é por meio deles que se influencia toda a sociedade, seja na vida política, na vida pessoal, etc. O seu papel é o de mostrar sempre a versão do capital, estar sempre contra os trabalhadores, os movimentos sociais e o desenvolvimento equilibrado e justo do país. Ela é uma comunicação que favorece e sempre favorecerá a minoria rica. Eu, como moradora de favela, vejo esta exclusão midiática de perto. Quantas vezes a mídia fala o que realmente existe nas favelas? Quantas vezes mostrou, ou mostra, que ali existem pessoas trabalhadoras, estudantes, gente que quer apenas seu direito de viver? A mídia quando entra na favela é só para cobrir assuntos ligados à violência, isso quando ela relata a verdade do que ocorreu. E isso, nada mais é do que mais uma forma de influenciar a população. Com isso, as pessoas acabam reproduzindo conceitos preconceituosos sobre o morador de comunidade. Os que moram fora, dizem que somos vagabundos, sujos, violentos, entre outras coisas mais. Há uma generalização, todos os meninos são vistos como bandidos, e todas as meninas são vistas como vagabundas, além de relatarem que todos os moradores de favela são preguiçosos, que só não conseguem estudar, trabalhar e etc. porque não são interessados.

Isto não é verdade! Seguramente mais de 90% dos moradores de favelas nada mais fazem do que trabalharem, do que tentarem sobreviver todos os dias. Tudo isso, toda essa reprodução de conceitos que são mostradas nos meios de comunicação fazem com que a maioria das pessoas não respeite o que realmente somos. Muitos moradores não assumem morar em comunidades por conta do preconceito existente e disseminado na sociedade. Exemplo disso é na hora da procura por emprego. É difícil nessas horas você dizer que é morador de comunidade. Pois muitas das vezes, você nem recebe o telefonema de confirmação de currículo.

Nossos governantes, aqueles que votamos de quatro em quatro anos, não nos atendem. Todos sabem que dentro das favelas, há diversos problemas, seja o de habitação, de saúde, de educação, de saneamento básico, e aquele que é considerado o mais grave: a violência. Mas, eles nada fazem para resolver estes problemas, pelo contrário, o que se percebe é que por suas atitudes excludentes, reproduzem o que toda a sociedade acha. Põem caveirão – (veículo blindado usado pela polícia nas incursões em favelas) para “resolver” o problema de segurança, põem Postos de Saúde, sem nenhum preparo de atendimento, nos oferecem escolas precárias. As faculdades públicas deveriam estar lotadas de estudantes de classe baixa, mas estão cheias de pessoas que podem pagar a instituições particulares. Além disso, o Estado apóia ainda a entrada de Ong’s nas favelas, com o discurso de salvar mais um pobrezinho, mais um favelado.

Até quando vamos ter que agüentar isso, até quando vamos tapar nos olhos para isso tudo, até quando vamos aceitar essas injustiças, até quando vamos ter que clamar pelo direito à vida?

Outro exemplo da injusta segurança e da desonesta mídia que temos, é o caso de Matheus Rodrigues, menino de 8 anos, que há um mês foi assassinado pela Polícia Militar na porta de sua casa, no Complexo da Maré, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro. E isso não aconteceu apenas com o Matheus não, todos os dias ocorrem isso em nossas comunidades, todos os dias nos deparamos com esta dura e cruel realidade. Há três anos, morreu Renan Rodrigues, de 3 anos. Há aproximadamente quatro anos, morreu Carlos Henrique, de 11 anos, todos eles crianças e inocentes. Eram meninos que queriam apenas ter o dinheiro de brincar, de sorrir, de estudar, de sonhar com o seu futuro. Mas os seus desejos, os seus sorrisos, foram todos covardemente enterrados. Isso por causa do precário policiamento que temos, por causa do massacre que é cada vez mais claro em todas as favelas da nossa cidade, do nosso país. Esse massacre é cada vez mais claro quando se trata de pobre, de negro e de favelado, seja em que lugar ele for, seja em que ligar ele estiver. E estes, nunca fugirão disso, sempre carregarão no peito as marcas cruéis e preconceituosas da sociedade. E como já disse, preconceitos estes, que em sua maior parte é reproduzida pela grande mídia.

Gizele Martins

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