– Segura ela e mete a porrada!
– Tem que raspar a cabeça dessa garota pra ela aprender!
Enquanto eu ouvia os gritos vindos da rua, pude avistar uma mina correndo, puxando o cabelo, estapeando e jogando no chão a sua “rival”. O motivo da briga? O moleque mais popular da escola. Isso rolou por volta de 2000, tínhamos uns 13 anos, mas poderia ter acontecido ontem.
Desde sempre, e ainda hoje, as mulheres são colocadas em situações de rivalidade. Não basta toda a competividade comum ao mundo capitalista. Nós, mulheres, somos ensinadas e programadas para a rivalidade: diminuir a outra para nos exaltar.
Como assim?
No último dia 20 de julho, foi comemorado o Dia do Amigo. A avalanche de posts comemorativos me fizeram refletir sobre amizade entre mulheres. Somos bombardeadas por mensagens que nos dizem que mulheres são fofoqueiras e podem roubar nossos companheiros a qualquer momento. Existe um imaginário popular de que é melhor ter a amizade apenas de homens. Qual é o masculino de “falsiane”?
A mídia a todo tempo nos coloca em disputa e rivalidade. Como não lembrar, por exemplo, de Xuxa e Angélica, Rihanna e Beyoncé, Ivete e Claudia?
Isso começa antes que a gente aprenda a falar. As histórias infantis trazem a imagem da disputa entre mulheres, principalmente quando o “Príncipe Encantado” é o prêmio. Quem não lembra da Madrasta da Cinderela, que colocava as irmãs contra a gata borralheira numa corrida louca para encontrar um bom marido?
Enquanto, entre os homens, a fraternidade é ensinada desde cedo, nós, mulheres, ainda estamos no início dessa jornada. Embora sororidade, enquanto empatia e companheirismo entre mulheres, seja uma palavra em ascensão, ainda precisamos avançar. Sororidade é também não fazer um julgamento prévio de outra mulher apenas por definições feitas através de estereótipos.
Afirmações preconceituosas, como “mulher não é amiga de mulher” ou “ela vai roubar seu homem”, são comuns ao repertório feminimo. Essas lendas, em cima de questões fúteis, nos colocam sempre na linha da vulnerabilidade, inclusive emocional.
Viver um relacionamento abusivo, por exemplo, pode se arrastar por um longo período por estarmos sozinhas. Afinal, mulher não é amiga de mulher, e qualquer uma que tentar se aproximar de uma vítima desse tipo de relação pode ser vista como invejosa, recalcada ou ameaça.
Nós, mulheres, só iremos nos libertar desses preconceitos quando entendermos que quase tudo o que nos ensinaram é errado e nos traz problemas. Competitividade feminina não é rivalidade feminina. Não deveria ser.
Vamos juntas!
Não existe uma resposta. Cada uma precisa escrever a sua forma de não reproduzir o machismo por trás da rivalidade feminina. Duas coisas são certas: é preciso exercitar e buscar todos os dias.
O projeto AutoestimaDiva nasceu da minha necessidade de dizer a outras mulheres que elas não eram as únicas a passarem por situações difíceis na vida, como relacionamentos conflituosos e perdas. Seja em palestras ou na internet, busco construir uma rede de mulheres fortes e empoderadas emocionalmente.
A escritora Babi Souza criou um coletivo quando percebeu que as mulheres poderiam se ajudar em situações de perigo. No livro e nas redes do Vamos Juntas?, é possível compartilhar histórias e ouvir outras mulheres.
Pra finalizar a reflexão, a jornalista Gabriela Anastácia, fundadora do Papo de Empreendedora, nos enviou uma lista de coletivos em prol de mulheres como forma de nos lembrar que juntas somos bem mais fortes:
Camtra Casa da Mulher Trabalhadora
Elas da corrente
Nuvem Panapaná
Bloco Toco-Xona
Coletivo de Mulheres Bertha Lutz – IFRJ
Bloco Mulheres Rodadas
MAE – Movimento Autoestima
Espaço Terapêutico Psicopretas – Coletivo de psicólogas negras para mulheres negras
Plano de Menina