Milton Ribeiro nomeia mais um presbiteriano no Ministério da Educação

Inez Borges é mais uma presbiteriana nomeada no Ministério da Educação - Reprodução blog pessoal
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, nomeou na última sexta-feira, 21, como assessora especial com salário de R$ 13 mil, Inez Augusto Birges, religiosa defensora da adoção de princípios bíblicos no ensino, com críticas a conteúdos de livros didáticos e à Base Nacional Comum Curricular.

Em seu currículo consta que ela é doutora em ciência da religião e mestre em educação cristã. Religiosa, presbiteriana como o ministro, realiza palestras em igrejas e eventos voltados a educadores a partir de temas como “Retorno aos princípios bíblicos da educação” e “Cosmovisão & educação”.

Seu site informa que ela tem se dedicado à pesquisa nas áreas de educação, cultura e governo “a partir de uma perspectiva que integra a visão bíblica, histórica, filosófica e política”. Não há registro de experiência em políticas públicas.

Inez Borges deu palestra este mês durante evento online da igreja Presbiteriana da Penha, em São Paulo, quando, ao citar a pandemia do novo coronavírus que matou mais de 110 mil pessoas no Brasil, disse que a crise ainda maior: “Vivemos uma crise mundial de autoridade, uma crise mundial em relação a governo, e nós precisamos retornar aos princípios bíblicos de governo, precisamos entender o que é o Reino de Deus”.

Em outra palestra, “Retorno aos princípios bíblicos da educação”, em setembro de 2018, a assessora do MEC crítica a menção a quilombolas em livro didático e à Base Nacional Comum Curricular, que prevê os direitos de aprendizagem na educação básica.

Ainda há críticas ao que seria a pedagogia atual e um suposto movimento internacional de dominação cultural. O argumento, repetido por partidários do Movimento Escola sem Partido e por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, é de que haveria uma ação de dominação de esquerda na educação mundial e que isso colocaria em risco valores de família defendidos pela Igreja.

“Há um plano de emburrecimento, plano de escravização, um plano de domínio mundial, por meio da educação, por meio do sistemas educacionais internacionais. A Base Nacional Comum Curricular não é Base comum, é Base Internacional”.

Grupos religiosos empreenderam campanha durante a elaboração da Base Nacional para suprimir trechos que citam o compromisso para a “igualdade de gênero”. O governo Michel Temer excluiu menções.

Para Inez, a Igreja se desinteressou pela educação e deixou que o “estado assumisse todas as etapas”. Ela afirma que, com o ensino laico, não guiado pela Igreja e família, educa-se a partir de “princípios nacionais” e que, segundo ela, tem relação com a liberação do aborto. “E nós estamos sendo chamados por essa definição de pedagogia a mandar nossas crianças (à escola) com 4 anos, obrigatoriamente”, diz.

Inez Borges coordena uma entidade, a Andapef (Associação Nacional de Defesa e Apoio aos Pais na Educação dos Filhos), que publicou materiais de ataque à Base. O documento estimularia, segundo a organização, a “ideologia de gênero”, termo nunca usado por educadores. Andepf tem entre suas ações o curso “ComVocação”, que busca analisar documentos oficiais da educação brasileira. O conteúdo se debruça no projeto de Direitos Humanos e na Base Curricular.

Após crises envolvendo os ex-ministros da Educação, ambos de perfil ideológico, Bolsonaro colocou no MEC um evangélico. Uma forma de encerrar a confusão criada por Weintraub e agradar a base religiosa do governo.

O historiador, teólogo e filósofo Gerson Leite de Moraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, explica que a laicidade do estado, valor expresso desde a proclamação da República, é um ganho da sociedade e se ampara na ideia de não haver monopólio religioso para nenhum grupo.

“A partir do momento em que há liberdade de todas as religiões exercerem seus credos, coloca-se a religião no espaço da privacidade, da família, da igreja”, diz. “Se a religião tenta de alguma maneira passar disso, corre o risco de se transformar em um movimento tirânico”. Para ele, a educação tem papel fundamental na laicidade do estado.

Na última terça-feira, 18, Milton Ribeiro já havia nomeado para o Conselho Nacional de Educação o teólogo Alysson Carvalho, ligado ao Instituto Presbiteriano.