Desemprego é um problema nacional, mas quando se faz parte de uma minoria, os caminhos para se encontrar vagas são mais tortuosos. Dependendo de que lugar social você se encontra, infelizmente vai enfrentar questões específicas como ser mãe, ou apenas ter a possibilidade de engravidar e não ser contratada pela aversão do capitalismo à licença maternidade. Falando de dados, podemos citar que 48% das mães ficam desempregadas no primeiro ano após o parto.
O desemprego também atinge pessoas trans e negras: apenas 4% das pessoas trans são empregadas formalmente (de acordo com a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), e o desemprego entre negros é superior à média nacional, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua, do IBGE. Maria (nome fictício), 22 anos, moradora do Complexo da Maré, relata que quando procura vagas de emprego coloca em seu currículo que mora em Bonsucesso para ter mais chances e evitar ser vítima de preconceitos. Ao falar sobre suas experiências, enfatiza:
— O preconceito vem de vários lugares, como do racismo estrutural. Existe o medo de o
empregado faltar em dia de operação policial. Também tem o estereótipo de que favelado vai roubar e não pode ser denunciado. Acham que todo mundo que mora aqui é bandido ou tem parente bandido, que vamos dar golpes, que não somos competentes para tais funções. Acho que os empregadores reproduzem muito do que as pessoas do asfalto pensam no geral, no que os policiais pensam quando saem agredindo todo mundo aqui. Uma vez, assaltaram um estabelecimento que a minha irmã trabalhava, bem no dia do pagamento, ou seja, foi alguém de dentro que entregou. Adivinha de quem suspeitaram? Dela, por ela morar na favela e supostamente conseguir ter contato mais rápido. Depois que foram descobrir que havia sido um ex-funcionário, relata a jovem.
Atualmente encontramos programas de empresas, atuação de projetos e ONGs que visam ajudar a inserir minorias no mercado de trabalho, oferecendo cursos profissionalizantes ou sendo a ponte para a contratação. É notável o crescimento desse tipo de incitativa nos últimos anos, mas, infelizmente, ainda não é o suficiente. O número de pessoas que está procurando emprego é maior do que as vagas oferecidas e existe a crítica de que, mesmo nesses programas, quem tiver mais marcas sociais é mais dificilmente chamado. Uma pessoa trans e negra, por exemplo, é mais difícil de ser contratada do que se ela fosse apenas trans.
Isis, 19 anos, moradora de São Bento, periferia de Duque de Caxias, Região Metropolitana do Rio, relata que quando foi entregar currículos com uma amiga que ao contrário dela é branca e magra, a amiga foi chamada e ela não. “Quando você é mulher já é difícil, mas quando você é mulher, negra e gorda, é triplamente pior”, completou.