Edmilson Ventura
Essa história é marcada
por sorte e muitas coincidências. À quinze dias atrás,passava pela
feira da Rua do Lavradio, quando encontrei Ricardo Freitas, um velho
amigo, que me apresentou Francisco Buiddolt, brasileiro de 25 anos,
que desde os nove anos mora em Bordou na França, com os pais adotivos.
Francisco estava de férias no Brasil, Já tinha passado por São Paulo,
Salvador, quando decidiu vir ao Rio. Hospedado na casa do professor
Ricardo Freitas, amigo de seus pais adotivos, que acompanhou o processo
de adoção de Francisco e ganhou outra missão: Ajudar a encontrar
a família biológica de Francisco, que não fala nada de português.
O primeiro passo foi solicitar autorização judicial para ter acesso
aos arquivos do orfanato em que ele ficou acolhido durante os nove anos
antes de ser adotado. No momento da abertura dos arquivos, além da
historia, estava lá também o nome de sua “mãe biológica” e o
endereço: Av. Borges de Medeiros nº 699 bloco 7 apto 311. Nesse momento,
Ricardo Freitas, me telefona e pergunta o endereço do conjunto habitacional
Cruzada São Sebastião (local onde nasci e mora minha família). Confirmado
o endereço, este me pergunta se conheço alguma Arlete. “Várias”
respondi. Qual o endereço? Dito, concluí se tratar de uma velha conhecida.
Ricardo então me pergunta se lembrava do”gringo” que me foi apresentado
na feira, e fala da história dele, entregue em 1984 na maternidade
do hospital Miguel Couto para adoção pela suposta mãe, Arlete. Chocado
com a história, marcamos de nos encontrar e eu ir no endereço
á procura de Arlete e saber da disponibilidade dela reencontrar o “filho”.
Fui ao apartamento, enquanto eles me aguardavam na praça de alimentação
de um shoping próximo, lá chegando, não havia ninguém em casa. Ao
sair, encontro ela e a filha, Sheila. Cumprimento Arlete e Sheila e
digo ter um assunto delicado para falar. Ela diz que posso falar ali
mesmo. Pergunto se lembrava do filho que deixou para adoção em 84
no Miguel Couto. Ela empalidece enquanto Sheila transtornada grita
dizendo que quem teve filho em 84 foi ela e não a mãe, e se volta
revoltada para a mãe indagando como ela pôde fazer aquilo, pois
sempre acreditou que o filho não tinha morrido.
Eu sem entender direito
o que acontecia, surpreso com o desenrolar da história e preocupado
com a saúde daquela senhora, que desfalecia enquanto a filha a acusava
de omitir o filho por vinte e cinco anos .Fui questionado por Sheila,
que desorientada, contava ter sofrido um aborto e que a criança foi
levada com ela para o hospital, e que lá ela apenas foi informada que
a criança teria morrido. Mas que ela nunca viu corpo, nem funeral.
Perguntava onde estava o filho, e dizia querer vê-lo .Na certidão
encontrada nos arquivos do abrigo, Arlete estava como mãe de Francisco,
e não Sheila . No dia seguinte, intermediei o encontro de mãe e filho.
Cenas de emoção, que contagiou á todos os presentes no reencontro.
No sábado, dois dias após a descoberta, Francisco foi a Cruzada para
conhecer a avó Arlete e toda a família. A cruzada estava em festa
para receber seu mais novo filho. Dezenas de moradores observavam e
se emocionavam com a história típica de novelão. No domingo, depois
de almoço em família numa churrascaria de Copacabana, Francisco se
despediu rumo à Europa, com a certeza de retornar em novembro.