Uma simples caminhada pelas ruas do bairro Anjo da Guarda, na periferia de São Luís-MA, é suficiente para esquecer que enfrentamos a pandemia do conhecido novo coronavírus.
Dados da Secretaria de Saúde atualizados deste sábado, 5, mostram que o bairro com maior número de casos é o Turu, localizado em uma área considerada nobre de São Luís, com 499 casos confirmados. Na zona periférica da capital, os números de infectados também são elevados. Cidade Operária, Anjo da Guarda e Vila Embratel têm, respectivamente, 261, 215 e 168 casos da doença.
Ainda de acordo com esse boletim da Secretaria de Saúde, em todo o Maranhão, já foram diagnosticadas 157.844 pessoas com a Covid-19, sendo que 3.499 morreram e 145.823 estão recuperadas. Na capital foram confirmados 18.979 casos e registrados 1.205 mortes.
Apesar dos esforços de pesquisadores em todo o mundo para desenvolver uma vacina contra o coronavírus, as medidas de prevenção mais eficazes até o momento são o uso de máscaras, a higienização das mãos com álcool em gel ou água e sabão e o distanciamento físico e social. Adotar essas recomendações pode salvar vidas.
Segundo a médica infectologista Maria dos Remédios, 57, apesar do estado do Maranhão viver um momento de redução da taxa de contágio, ainda não está na hora de abandonar os métodos preventivos. “A gente sabe muito bem que a doença mata, então o que nos resta é a prevenção”. A médica ainda explica que usar a máscara pode ajudar mesmo se houver contágio. “Se duas pessoas estiverem usando máscara (a que está portando o vírus e a que não está), a que não está com o vírus ao pegar essa doença, recebeu uma quantidade de vírus menor do que a que não estava com máscara”. Maria dos Remédios alerta que entrar em contato com menos vírus evita que os sintomas da Covid-19 sejam mais severos. “Quanto maior a quantidade de vírus que você recebe, maior a chance de você desenvolver sintomas mais graves”, explicou.
O mecânico John Araújo, 25, morador do bairro da Gancharia, conta que quando está trabalhando, não usa o equipamento de proteção devido ao incômodo. “Nem todo tempo dá pra tá usando máscara porque sufoca um pouco também. Se a gente for ficar usando máscara o dia todo não dá, sufoca.” O jovem que não faz parte do grupo de risco, mas mora com familiares idosos, diz que chega a inclusive dispensar o uso da máscara.” Eu só uso pela manhã um pouco, mas depois eu dou um tempo e tiro, porque incomoda. Tem dias que eu acabo nem usando,” admitiu.
Já a universitária Lucélia Almeida, 23, prefere não arriscar. Mesmo morando sozinha no bairro do Anjo da Guarda, e não fazendo parte de nenhum grupo de risco, a estudante do curso de Biblioteconomia conta que se sente mais segura para trabalhar usando máscara, já que trabalha diretamente com o público em um centro cultural de São Luís. “Todas as vezes que vou sair de casa, principalmente para o trabalho, sempre utilizo máscara. Uso para proteger a mim e aos outros, mas principalmente devido às recomendações vindas de órgãos que tratam da saúde,” afirmou.
Aglomeração nas praias
A quantidade de pessoas nas praias da Grande Ilha gera preocupação, isso porque desde que o lockdown – decretado pelo governo do Maranhão no mês de maio – teve fim e a flexibilização do isolamento social passou a aumentar gradativamente, muitos ludovicenses voltaram a frequentar praias sem usar máscaras e cumprir as regras de distanciamento recomendadas. Um caso de grande repercussão em todo o estado foi a aglomeração na Península (região localizada na área nobre da capital, próxima à praia Ponta D’Areia), no fim do mês de julho.
Circularam nas redes sociais fotos e vídeos de pessoas aglomeradas em rodas de samba. Após os flagrantes, equipes da Vigilância Sanitária do Maranhão e de São Luís interditaram um estabelecimento por descumprimento de medidas sanitárias. Confira no vídeo.
Apesar disso, um mês depois desse caso, a presença de banhistas na faixa de areia das principais praias da capital continua, bem como o desrespeito às medidas decretadas pelo governador Flávio Dino (PCdoB) em maio. O decreto N° 35831 determina a obrigatoriedade do uso de máscaras em espaços públicos e privados.
Jovens no Centro Histórico
Flagrantes publicados na internet mostram centenas de jovens e adolescentes aglomerados no Centro Histórico de São Luís, como acontecia em todos os finais de semana antes da pandemia. Nesse caso o que chama atenção é, mais uma vez, a falta do uso de máscaras pelos jovens presentes no local. As imagens refletem a interpretação que muitas pessoas têm sobre a Covid-19: a ideia de que a doença não atinge pessoas jovens e saudáveis.
Sobre esse assunto, a infectologista Maria dos Remédios ressalta que ninguém está imune ao coronavírus. Apesar das formas graves serem mais comuns em pessoas que são de grupo de risco, quem não faz parte deles também precisa de cuidados para evitar a Covid -19. “Em uma menor proporção, é claro, essas pessoas que não são de grupo de risco, que são jovens, podem morrer de Covid”, afirma Maria dos Remédios. Ela também explica que quem já teve a doença não significa que esteja com imunidade, por isso, todos precisam adotar as recomendações. “É importante falar também que as pessoas que já tiveram Covid-19 podem se infectar novamente e tanto adoecer, quanto transmitir”, alertou.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative: https://