Na mesma semana em que a Assembleia Legislativa do Rio praticamente enterrou o projeto das UPPs ao reduzir seu orçamento 2018 para apenas R$ 10 mil, moradores do Morro dos Tabajaras e Cabritos relatam arbitrariedades e abusos por parte de policiais da UPP local. Além de tiroteio em horário escolar, um caminhão do Corpo de Bombeiros teria sido impedido de entrar na favela para apagar um incêndio e um carro da Light não pôde subir o morro para fazer reparos, deixando a comunidade sem luz por três dias. Policiais militares também são acusados de invadir casas e furtar pertences de moradores.
Na segunda-feira, poucos minutos de troca de tiros resultaram num curto-circuito em fios de alta tensão na localidade conhecida como Cantão. O incêndio se intensificou em uma das escadarias de acesso à rua e, apesar disso, a entrada do Corpo de Bombeiros teria sido impedida por policiais da UPP Tabajaras / Cabritos. Fontes locais afirmam que um deles disse se tratar de área de risco e que “todo mundo tem que morrer lá dentro mesmo”. Em decorrência desse mesmo curto-circuito, grande parte da favela ficou sem luz. A Light também foi impedida de subir o morro para efetuar os reparos.
O presidente e a diretora da Associação de Moradores, José Augusto Ribeiro e Vânia Ribeiro, contaram à reportagem da Agência de Notícias das Favelas que precisaram buscar pessoalmente tanto o Corpo de Bombeiros quanto a Light para que pudessem entrar na favela, aproximadamente uma hora e meia depois de iniciado o fogo, em meio ao desespero de quem tentava apagar as chamas. O problema é recorrente, apesar de o comandante responsável pela área negar que a UPP tome esse tipo de atitude: “Toda vez que a gente marca reunião com os órgãos públicos, a gente tem que buscar essas pessoas na ladeira porque elas alegam que a Unidade de Polícia Pacificadora não deixa eles subirem”, explica Vânia.
Devido ao tiroteio da manhã de quarta, a visita da Light, agendada para fazer os reparos necessários na rede, foi cancelada e só aconteceu na quinta, após três dias sem luz.
Acusações de invasão e roubos a residências durante operação
Na quarta-feira, 13, os moradores das duas comunidades foram surpreendidos com uma manhã de intenso tiroteio, como há algum tempo não se ouvia. A Polícia Militar subiu o morro em mais uma operação policial realizada no horário de entrada das crianças na creche, mesmo momento em que a maioria dos trabalhadores circulava pela favela em direção ao trabalho. A primeira troca de tiros começou aproximadamente às 7 h da manhã e durou mais de uma hora.
Fotos e vídeos divulgados na internet mostram o estado das casas após a operação – policiais teriam invadido algumas sem a presença dos proprietários nem mandado de busca e apreensão. Há relatos até do roubo de pertences. Um morador que pediu para não ser identificado afirma que teve a sua casa violada por PMs enquanto trabalhava. Segundo os vizinhos, roupas, calçados e um computador teriam sido levados por eles, que saíram do imóvel com duas mochilas cheias.
– Os policiais estiveram no beco onde a gente mora e tentaram entrar em um monte de casas. Uma delas foi a minha. Eles entraram e reviraram tudo, sujaram tudo e roubaram um monte de pertences meus. Fora os documentos que também estavam numa mochila minha, roubaram pertences dos mais variados possíveis.
O morador afirma ainda que tentou fazer registro de ocorrência no Comando de Polícia Pacificadora (CPP), mas que foi orientado pelo responsável a ir para a sede da própria UPP – que, por sua vez, afirmou que ele devia voltar ao CPP. Desgastado com os transtornos e o jogo de empurra, ele desistiu da denúncia.
Segundo o comando da UPP Tabajaras / Cabritos, “prestadores de serviço da empresa Light, na noite de 07/12, procuraram à Unidade para informações sobre a localidade conhecida como Cantão, a fim de realizarem a restauração/manutenção da rede elétrica. Os policiais informaram se tratar de área de confrontos, e da impossibilidade de acompanharem o serviço, quando os funcionários da Light decidiram retornar na manhã seguinte para executarem o trabalho”, que afirma ainda que “Até o momento, nenhuma denúncia chegou àquela UPP sobre policiais impedirem o Corpo de Bombeiros de apagarem incêndio na região”.
Procurada, a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros não se pronunciou até o fechamento desta matéria.
Atualização – 11h30: A assessoria do Corpo de Bombeiros afirma que não localizou o registro de acionamento do CBMERJ para o local e a data informados.