Vejo vários moradores da periferia adotarem o discurso da extrema-direita, levantado pelo Deputado Federal Jair Bolsonaro, como possível solução para nossos problemas, em especial de segurança pública. Apegam-se a soluções rápidas e “fáceis” para problemas longos e que nos amedrontam. A dúvida que fica e que trago para nossa mesa é, esse tipo de solução pensada pela extrema-direita também nos alcançaria nos guetos?
Das soluções dadas pelo deputado uma das que mais me chamam a atenção seria liberar o porte de arma para todo “cidadão de bem”. De início, o conceito “cidadão de bem” é muito relativo e vago, confesso que eu duvido muito que inclua o cidadão preto e favelado, o estereótipos do suspeito que é abordado pela Polícia e assusta os moradores de bairro nobre. Como imaginar que alguém que já é perseguido culturalmente por ser visto como violento e perigoso, vai ser permitido portar uma arma de fogo legalmente?
Imagine comigo a seguinte cena em que um rapaz periférico quer o tal porte de arma. Um rapaz, negro, 27 anos, atualmente auxiliar de estamparia, nível médio completo porém sem curso superior, sem profissão definida. Esse rapaz vai chegar a Polícia Federal, órgão responsável por permitir o porte, na posse de seus documentos e uma conta da Telemar com endereço da Rua Amaro Rangel, número 24, Jacarezinho, Zona Norte carioca. A mesma favela onde policiais da UPP e varejistas do tráfico de drogas entraram em confronto diversas vezes este ano. Você, caro leitor e leitora, consegue imaginar que a esse rapaz seja permitido o porte legal de arma de fogo?
Convenhamos, com o mínimo de senso de realidade, isso não é política social para pobre, preto e favelado. Além do alto custo financeiro que já exclui a maior parte dos nossos, acrescente o peso de todo a divisão, racismo e preconceito de classe que são a base da nossa sociedade, é irreal pensar que um favelado consiga o famoso “porte de arma para defender sua família dos bandidos”. Isso é coisa para playboy ver e conseguir, meu amigo. E não adianta achar que vai enganar a Polícia com o endereço da sua Tia na Tijuca. Moreno claro não é branco e Tijuca não é Zona Sul, acredite, você não vai conseguir um porte de arma com essa cor e esse CEP.