Eu poderia iniciar esse texto falando de como a favela onde nasci e fui criada é linda é tranquila. O quanto o Morro do Turano é um lugar maravilhoso de se viver. Mas, desta vez, não vou falar isso, assim como falei no meu primeiro texto que escrevi para ANF. Desta vez, vou contar, sim, mais uma história sobre o Morro do Turano, mas não sobre o passado, e, sim, do presente que estamos vivendo, confinados, isolados, apreensivos, preocupados e porque não dizer, amedrontados e apavorados por conta da pandemia do coronavírus.
O Morro do Turano é uma das maiores favelas da Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, com cerca de quase 20 mil moradores, sendo considerado um complexo de favelas, devido à sua dimensão. Ele fica localizado entre os bairros da Tijuca e do Rio Comprido, que são considerados “áreas nobres”, pois possuem um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) relativamente bom em relação a outros bairros da região.
E como a maioria das favelas, independentemente de tamanho, o Complexo do Turano também tem muitos e sérios problemas de infraestrutura, saneamento básico, luz, abastecimento d’água, dentre outros tantos. E eles praticamente triplicaram nesse período de pandemia. O isolamento e distanciamento social estão mostrando o quanto o nosso país é desigual, e a enorme quantidade de cidadãos que vivem na extrema pobreza, em total estado de miséria. Mostrando que em pleno século XXI, era virtual, com o mundo todo (ou quase todo) digitalizado, ainda existam pessoas que são totalmente excluídas da vida moderna, vivendo praticamente de forma quase que primitiva. E esta triste e cruel realidade que muitos preferiam não enxergar, foi totalmente escancarada após ser decretado pelo Ministério da Saúde, por prefeitos e governadores o confinamento, afastando uma grande parte da população de seus empregos ou trabalhos e de suas atividades cotidianas para evitar o aumento do contágio pelo vírus.
O fechamento de grande parte do comércio, a retirada dos vendedores ambulantes das ruas, e o afastamento do trabalhadores domésticos de suas funções, foi revelando aos poucos que o Brasil não estava – talvez nunca esteve – preparado para uma crise tão gigante como esta. E para comprovar que o país é totalmente despreparado para lidar com os problemas existentes e os que surgem “inesperadamente”, as escolas, creches e universidades tiveram que fechar obrigatoriamente, deixando centenas de milhares de alunos em casa, sem aula presencial, passando então a serem aplicadas à distância, via internet. Todos os estudantes, da educação infantil aos universitários, estão tendo aulas online. E como acredita o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, os alunos podem agora estudar onde quiser e como quiser.
Educação também é uma necessidade básica, somada a tantas outras. Mas, e agora, como o governo iria fazer para suprir todas elas, para milhões de brasileiros? Como iriam agir no combate a crise da pandemia se o atual presidente não apresentou, durante sua campanha eleitoral, planos para governar gerenciar crises já existentes e previsíveis? Pois ainda estavam pensando em voz alta, em alguma coisa para conter a crise econômica, que se arrasta por alguns anos.
Não, o Presidente Jair Bolsonaro não estava preparado para presidir e administrar o Brasil com problemas cotidianos, e vem claramente demonstrando que é totalmente despreparado para lidar com o enormes problemas desta natureza. E como ele disse; “e daí”? E daí, é que por falta de competência e de vontade de fazer algo pelo povo, Bolsonaro transferiu suas responsabilidades para prefeitos e governadores que, por sua vez, as transferiram para a ponta mais fraca da corda, que são os líderes comunitários. Pois são os Presidentes de Associações e Ativistas Sociais das favelas e periferias que estão lutando, falando de forma corriqueira, “se virando” como dá e como podem, para garantir pelo menos mínimo do básico para que as pessoas fiquem em casa e evitem proliferação do vírus.
O “é daí”? do presidente não somente está pesando em cima de médicos, enfermeiros e todos da área da saúde, como também pesa também em cima de líderes comunitários e em toda população que vive nas favelas e nas periferias Brasil afora. Pois, essa população é a base dessa imensa pirâmide, que foi erguida com muita luta, suor, sangue, lágrimas de tristeza, angústia, humilhação e desespero, com umas certas doses de muita alegria e diferentes tipos de fé em abundância.
Sendo assim, isto posto, conversei um pouco com dois dos líderes comunitários do Complexo de Morros do Turano, para saber deles como fazem para se protegerem contra o coronavírus, tendo eles que saírem de suas casas para ajudar aos mais necessitados da comunidade. O Presidente da Associação de Moradores, o Sr. Gilson Rodrigues, e o Ator e Ativista Social Evandro Machado falaram como está sendo luta deles e da equipe formada por eles, para enfrentar dentro da favela, a crise causada pela pandemia da covid-19.
A equipe, que foi denominada de Turano Contra o Coronavírus (TCC), percorre todo o Morro do Turano fazendo distribuições de cestas básicas, hortaliças, material de higiene e limpeza, álcool em gel e máscaras protetoras. Eles também orientam os moradores quanto aos cuidados no combate do Coronavírus.
Então, quis saber dos líderes “como surgiu a ideia de fazer uma ação social popular dentro do Morro do Turano?” O Presidente Gilson me respondeu que após uma reunião que participou no Palácio Guanabara, percebeu que o governo não iria fazer nada pelas favelas mais uma vez, a não ser promessas e promessas, e notou que havia ali muitas lideranças que estavam perdidas.
[…] “eu vim para comunidade pensando como é que vou fazer, e pensei bem e decidi, vou reunir todo mundo do Complexo. Todo mundo que faz trabalho social na favela, para a gente fazer um grupão, porque, sozinha, associação nenhuma vai conseguir passar por essa pandemia. E não vai conseguir passar mesmo, pois a gente não sabe nem quando isso vai parar”.
Com isso em mente, o Presidente Gilson chamou todas lideranças do Turano, reuniu-se para começarem a promoverem ações sociais dentro da favela, pois, segundo ele diz, cada um fazendo sua parte sozinho não iria dar certo, o momento era de união. Era cada um fazendo sua parte sim, mas, unidos no combate ao Coronavírus e à crise causada pela pandemia.
E pondo em prática aquela velha frase que diz que “a união faz a força”, o grupo TCC já doou nesse período de isolamento 1.799 cestas básicas a famílias do Morro do Turano. Mesmo falando com orgulho e um certo ar de alívio por ter conseguido pôr em prática o que pensou e decidiu fazer para ajudar a manter as pessoas em casa, Gilson Rodrigues não esconde a preocupação por não saber quando tudo isso vai passar. Quando tudo se normalizará? A equipe conta com as contribuições de alguns comerciantes locais, algumas pessoas, até mesmo da própria comunidade que podem, ou ainda podem ajudar.
E para aumentar sua preocupação, mais uma troca de ministro da saúde, deixando o país à deriva em meio a pandemia.
“A gente vê o país dando cabeçada, um país sem comando. E com isso a gente vê países muito sofisticado do que o nosso, morrendo gente pra caramba, imagina o nosso, que não tem nada para poder segurar, e os caras só pensando em eleição, só pensando em parte política? E nós estamos assim, cada um por si, Deus por todos” …
Um país totalmente desgovernado, com cidadãos desiludidos, e a equipe TCC do Morro do Turano, é uma entre as milhares espalhadas pelo país afora para enfrentar a crise e tentar se proteger da contaminação. E parafraseando o Presidente Gilson, “essas equipes são barreiras para tentar segurar pessoas, que muitas vezes chegam até elas chorando por não ter o que comer e para alimentar seus filhos”.
E como disse anteriormente, as três esferas do governo transferiram suas responsabilidades com a população das favelas para os líderes comunitários. A luta para sobreviver à pandemia está entre os mais pobres, os mais humildes. Em meio a tudo isso, a única coisa que era previsível é que os mais vulneráveis ao vírus letal seriam estes, que já sofrem com diversos outros males.
Mas, sendo o Turano uma favela tão grande, como eles fizeram para administrar toda essa ação social? Segundo o presidente da associação, foi montado um “gabinete de crise” dentro da comunidade, no espaço onde funcionava uma igreja evangélica, que foi cedido por Carlos Eduardo, também é voluntário, para que eles possam atender a todas as pessoas e tratarem dos problemas do dia a dia, que não param de surgir. Durante a entrevista, Evandro Machado entregava uma cesta básica, produtos de higiene e limpeza para uma moradora do Morro do Salgueiro que perdeu sua casa num incêndio. Ela perdeu todos os seus pertences, e sua família, que é do Morro do Turano, foi até a associação pedir ajuda para a moça, que estava visivelmente desolada.
Enquanto Evandro entregava a cesta à moça, o restante da equipe a ajudava colocar em um carro as outras doações que recebera de outros moradores da comunidade. Durante alguns minutos, Gilson Rodrigues, interrompe sua fala, pois conseguira, depois de horas tentando, contatar a Defesa Civil para ir até o local verificar a situação, e também agendar para ela reaver seus documentos, assim que tudo voltar a funcionar.
Eu quis saber se eles também estão auxiliando as pessoas quanto ao Auxílio Emergencial. O presidente da associação de moradores me diz que quando a associação é procurada, o secretário Alan Lima dá o suporte necessário no que é possível. Mas, as duas lideranças concordam entre si e relatam que dentro da favela há pessoas que não possuem aparelho de celular para poderem se cadastrar para receberem o Auxílio. Estas, por não pertencerem ao mundo virtual, já têm seus cadastros reprovados, não terão que aguardar a longa demora na análise e nem ficarão aglomeradas nas enormes filas da Caixa Econômica Federal.
[…] “mas, isso aí não é fácil para as pessoas que às vezes não têm nem um ‘bing ling’ dentro de casa pra fazer uma ligação” …
Gilson Rodrigues
Voltando mais uma vez lá no início do texto, como havia dito, século XXI, ainda existem pessoas que não possuem um aparelho simplesinho de telefone em casa, muitas das que possuem têm uma enorme dificuldade de manusear, pois só usam o aparelho exclusivamente para fazer ligações, como era até poucos anos atrás. Pessoas que estão totalmente fora do mundo virtual. E a pandemia não causou tudo isso. Essa situação sempre esteve entre nós, só ficou mais exposta. E como disse o ator Evandro Machado, a briga é interna, é dentro do governo, pois ainda há muita roubalheira, prisões de secretários, superfaturamento de materiais e obras. E isso levou o ator e ativista social fazer um desabafo:
[…] “cara, dá a porcaria do auxílio, coloca lá no sistema, tem conta, vai cair na conta, pronto e acabou. Depois o governo estuda, vê quem é, quem pegou a mais devolva, é assim que funciona e pronto. Só que não, tem gente que até hoje ainda não conseguiu receber o auxílio” …
Algo que deveria ser tão simples, mas o governo prefere não facilitar e complicar cada vez mais as vidas das pessoas, levando-as ao desespero. A demora faz com muito mais famílias dependam, ainda, do auxílio dado pela equipe TCC, pois, como já dizia o saudoso Herbert de Souza, o Betinho; “quem tem fome, tem pressa”.
Mas, não é só o governo federal a torturar as famílias mais necessitadas, pois a Prefeitura do Rio, não está deixando por menos. O governo municipal ainda não entregou a grande maioria dos cartões alimentação a que os alunos da rede de ensino têm direito. Os cartões estão retidos nas escolas, pois muitos responsáveis não conseguiram ainda se cadastrarem no site para poderem retirá-los.
É a era digital! A Prefeitura do Rio se atualizou, se modernizou, mesmo tendo um modelo arcaico de ensino, com escolas sem nenhuma estrutura, ainda faltando tudo: desde o giz – pois ainda usam – ao professor, pois este já está afastado das escolas municipais há muito tempo por conta da má política de educação do Município.
E com as escolas e creches municipais fechadas por conta da pandemia, o ensino à distância tão sonhado pelo atual governo federal passou a ser aplicado no Município do Rio. Os alunos, desde a Educação Infantil ao último ano do Ensino Fundamental, estão tendo aulas onlines. Mas, como tudo por aqui só funciona mesmo no papel, os exercícios enviados pelas unidades via internet devem ser impressos para que os alunos possam estudar, gerando mais um gasto para os responsáveis. São dezenas de trabalhos escolares para imprimir, E como fazer, se muitos ainda não conseguiu receber o Auxílio Emergencial e nem o cartão alimentação da prefeitura? E os alunos que não possuem celular em casa, como irão fazer para pegar os exercícios? Seus pais não têm um aparelho simplesinho, ou um ‘bing ling’, como disse o Sr. Gilson Rodrigues, para solicitar o auxílio, quiçá para os filhos estudarem.
Estes problemas absurdos não são de alunos da rede pública de ensino do interior do Nordeste ou dos confins do estado de Amazonas. São problemas de muitos alunos daqui do Morro do Turano, que está localizado em uma das áreas nobres da cidade do Rio de Janeiro. Uma favela cercada de tecnologia por todos os lados, mas que não chega para todos. Mas, se o Prefeito Marcelo Crivella não garantiu o cartão alimentação para as crianças se alimentarem, iria garantir ensino? Coisa que durante toda sua gestão não fez.
[…] “pela lei, cada aluno que estuda numa creche deveria ganhar 100 reais, pois é o que o município gasta com essas merendas. Só que o dinheiro já está em caixa, é numa turma de 35; 25 alunos, só 5 receberam, 10 receberam … e então porque, se o dinheiro existe? Então porque que não chega”?
Evandro Machado
O Prefeito Crivella poderia explicar o porquê da não distribuição dos cartões, já que o dinheiro está disponibilizado em caixa. Essa demora na entrega faz com que cada vez mais as famílias necessitem de ajuda. E tanto Evandro quanto o Presente Gilson, afirmam que, caso tudo isso demore muito mais a passar, não sabem como irão fazer para manter as famílias, pois eles contam também com ajuda de voluntários e de doações.
E no caso dos voluntários, eles próprios estão na mesma situação que a de muitos dentro da favela: contam com a ajuda também do TCC para suprir algumas de suas necessidades. Como é o caso do voluntário Flaviano Fernandes, que foi demitido da empresa que trabalhava e ainda não pôde assinar a rescisão contratual. Não consegue sacar seu FGTS, muito menos dar entrada no Auxílio Desemprego e, com isso, não tem direito ao Auxílio Emergencial. Ele ainda consta como trabalhador registrado, ou de carteira assinada.
Flaviano tem três filhos, todos matriculados em creches municipais. Não receberam nem a cesta básica prometida pela prefeitura e nem o cartão alimentação prometido pela Prefeitura. Como foi cortado do Bolsa Família dias antes do isolamento, está sem recursos, contando com a ajuda de sua esposa, que e professora. Além de ajudar nas distribuições das cestas básicas, também contribui na informatização do projeto, com a divulgação para solicitarem doações, entre outras coisas.
[…] “eu não tenho bolsa família, aliás, fui cortado dias antes da pandemia. Na turma do meu filho tem 15 ou 20 crianças, apenas 6 foram contempladas com o cartão” …
Mas, os problemas escolares dos alunos do Morro do Turano, não dizem respeito somente à rede municipal. A voluntária Luana Maria relata um caso de uma vizinha sua que tem uma filha que é aluna do colégio Fundação Bradesco. A jovem cursa o 2° ano do ensino médio, está tendo aulas onlines como todos os estudantes. Ela precisa ficar conectada 8h diárias, para contar a presença, mas estuda pelo celular da mãe, que não nenhum aparelho de última geração, e uma bateria que não suporta tanto tempo. A menina acaba sendo desconectada do sistema e se prejudicando. Sem contar as inúmeras impressões dos exercícios. Sua mãe ainda não conseguiu receber o Auxílio Emergencial para que possa imprimir seus trabalhos.
Vale lembrar que a Fundação Bradesco é uma instituição filantrópica, mantida pelo próprio banco, que é um dos fortes e gigantes do país. No ano de 2019, o Banco Bradesco teve um lucro líquido recorde, totalizando 25. 887 bilhões de reais. Sendo assim, não é possível que não pudessem diminuir a desigualdade social entre os alunos de suas escolas nesse período de quarentena.
Não poderiam tirar parte deste imenso lucro para distribuir tablets, mesmo sendo dos modelos mais simples, para seus estudantes? Disponibilizar exercícios onlines, sem a necessidade de gastarem aquilo que não têm, com impressões? Muitos de seus alunos são moradores de favelas localizadas próxima à escola. Muitos deles também trabalham para ajudar a se manter e estão sem poder trabalhar também. Como estes estes estudantes do ensino médio irão prestar o ENEM e concorrer em pé de igualdade? A Fundação Bradesco é classificada como uma das melhores escolas da região e também uma das muito bem estruturadas, mas a pandemia não deixou de expor a enorme desigualdade social que há entre seus alunos. A ganância em lucrar cada vez mais sempre em prioridade nesse país.
Não ouvi nenhum relato de Evandro Machado, do Presidente Gilson Rodrigues e sua equipe sobre a situação dos alunos do estado que moram no Turano. Mas, deduzo que não seja nem um pouco diferente das outras instituições. Mas, ouvi de ambos que o Governador Wilson Witzel prometeu 700 cestas básicas para serem distribuídas entre as famílias mais necessitadas do Complexo do Turano. Mas, elas ainda não chegaram. Todos os dias eles entram em contato com os responsáveis, ouvindo apenas mais promessas.
É tudo muito absurdo, desumano é cruel. Os governantes repassam suas responsabilidades, sem dar nenhum tipo de recurso, obrigam mães, pais e responsáveis de alunos a escolherem entre alimentar seus filhos ou dar estudos a eles. Muitos deles, diferente do Presidente Jair Bolsonaro, fingem se importar com a saúde, com educação, com a segurança, com as necessidades básicas em geral do povo. Eles também dizem “é daí”? para toda população, negando direitos constituídos. Dizem “é daí”? deixando pessoas infectadas pelo coronavírus morrendo nas filas dos hospitais.
O Presidente Gilson me conta que preferiu não dar mais notas de falecimento através do auto falante da associação, pois teria de fazê-lo por diversas vezes durante o dia. Relata que só numa semana foram de 6 a 8 pessoas falecidas no morro, que ele presume ser em alguns casos, vitimadas por Covid-19. Evandro Machado completa dizendo que, pelos sintomas, pode-se dizer que estas pessoas morreram contaminadas, mas não foram tratadas.
Eles também reclamam da demora da Defesa Civil para ir fazer recolhimento dos corpos. Dias antes a essa entrevista, uma senhora próximo ao núcleo havia falecido é ficou três dias dentro de casa. “Este também é um dos problemas que a associação tenta resolver, auxiliando os familiares nesse momento tão difícil”. Dizem eles.
Segundo especialistas da área da saúde, o coronavírus age com muito mais força no organismo quando o indivíduo já tenha alguma doença pré-existente. Falando no sentido figurado, o Brasil e o Município do Rio possuem diversos problemas pré-existentes. Portanto, não foi a pandemia que causou a crise, ela sempre existiu. O que a Covid-19 fez, foi agravar ainda mais o nosso quadro clínico.
Nossas tragédias e desgraças cotidianas que ficaram expostas com a pandemia. A solidariedade e a empatia também estão em evidência no Turano. Evandro conta como foi as primeiras doações e por onde começou. Confessa que, mesmo ele sendo “cria do morro”, não andava mais por toda favela e não lembrava direito como era algumas partes. Quem o ajudou nisso foi um de seus voluntários Charles Oliveira, que subiu junto com outros companheiros até as partes mais altas do morro com alimentos para fazer distribuições e acabou descendo com cerca 20 famílias cadastradas para receberem as cestas básicas. Charles diz que foi até o Pedacinho do Céu é Tanque com uma ideia, mas, ao chegar lá, viu que era necessário muito mais do que pensou.
[…] “a gente teve a ideia de ir lá, eu Léo é o Marcelinho … marquei com ele lá na Raia é fomos lá … nessa, a gente levou um caderno e uma caneta. A gente não tinha cesta básica ainda, a gente tinha uma caixa d’água, com vários alimentos soltos” …
Andaram por quase todas áreas do alto do Morro do Turano cadastrando famílias e no dia da entrega cada membro da equipe subiu com duas cestas básicas cada para fazerem a distribuição. Até mesmo Luana Maria, única integrante feminina do grupo no dia. Ela diz que mora há muitos anos no Turano e não conhecia aquela área, e que foi preciso subir com a equipe TCC numa ação social para conhecer o local onde mora. Ela confessa que ficou impressionada e admirada.
Luana é diarista e, como todos, também está sem trabalho, contando com a ajuda da equipe. Ela diz que começou a fazer trabalho voluntário após uma depressão no início da quarentena, pois não sabia como iria fazer para pagar o aluguel e sustentar seus filhos. Ela ajuda fazendo a comida para todos, pois os voluntários ficam lá no centro de distribuição o dia todo.
Todos contam com orgulho da experiência de ter feito o mínimo por quem precisa. Jocimar Vieira fala que ficou dois dias com dores nas costas, mas sente-se gratificado. Charles Oliveira lamenta por não ter conseguido cadastrar mais pessoas, devido à quantidade reduzida de cestas que foram sido disponibilizadas.
O Governos Federal, que está preocupado apenas com a economia do país, deixou todos os cidadãos brasileiros largados à própria sorte. Transferiu, como já disse antes, suas responsabilidades para governadores de Estados e aos prefeitos. Estes, pensando em eleições, fizerem politicagem, transferiram estas mesmas responsabilidades de amparar e dar auxílio aos mais necessitados para os líderes comunitários, que estão encarando a pandemia da maneira que podem.
Os líderes do Complexo do Turano – Presidente Gilson Rodrigues é Evandro Machado – confessam que não sabem como irão fazer caso o Auxílio Emergencial seja liberado somente até o mês de julho e pandemia durar até setembro. Eles solicitam àqueles que conseguiram receber o auxílio que deixem as cestas para aqueles que não receberam – por diversos motivos já citados. Evandro também diz que pretende continuar com o projeto, pois pessoas necessitadas dentro da favela, infelizmente, sempre irão existir.
Costumo dizer, “que estamos todos na mesma tempestade, mas não no mesmo barco, pois nem todos possuem embarcações com total capacidade para suportar a ventania”.
“Que as pessoas, mais uma vez, aprendam votar e vejam bem a situação da sua comunidade. Que as pessoas fiquem em casa, para não dar essa glória para o governo. A gente vai tentar fazer aqui o que for possível para ajudar e fazer o que tiver ao nosso alcance”.
Gilson Rodrigues – Presente da Associação de Moradores do Morro do Turano
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