Mostra Coletiva de Arte Urbana foi interrompida pela Polícia Militar, em Recife

Ativistas e artistas independentes, de vários seguimentos, do Recife, que participaram da Mostra Coletiva de Arte Urbana, em alusão ao Dia Internacional do Grafite, denunciam o abuso de autoridade, entre outras violações de diretos, praticados por Policiais Militares do 16º BPM, na última quarta-feira, 27, com uma programação gratuita, na Rua do Sebo, no Bairro de São José, Centro do Recife.

Segundo depoimentos, os agentes chegaram de forma truculenta, abordagens indevidas de Policiais Militares, do sexo masculino, fazendo revista em mulheres, que estavam no local, confiscaram equipamentos de som e materiais dos grafiteiros, que faziam exposição para o público, com mostra coletiva de 6 artistas de Live Painting, duas rodas de conversa sobre prevenção e adaptação às mudanças climáticas, descarte reciclagem dos materiais usados nas intervenções artísticas, como: latas, latões, pincéis, além do debate dentro de perspectiva do Sindicato dos Graffiti e uma movimentada batalha de tag.

A intervenção artística foi produzida e organizada pela Crew Peste, da loja Cor da Lama, na galeria de artes também do mesmo nome, localizada no mesmo território que aconteceu o evento.

Crédito: Nathê Ferreira

Mas, Recife não por acaso, ou meros incidentes, e sim por casos recorrentes de racismo, feitos em fatos a cidade Mangue Town, ocupa a triste e vergonhosa realidade no ranking como segunda capital mais desigual do Brasil.

O efetivo do 16° batalhão acionado e chegaram com 5 viaturas, com policiais fortemente armados enquadrado artistas e o público geral. Os homens foram colocados no paredão da antiga delegacia da Polícia Civil, com os rostos na parede, revistados, tendo seus pertences revirados de maneira autoritária e modos abusivos, os policiais entraram na loja Cor da Lama e confiscaram latas de tintas sprays da loja e dos artistas.

Ressaltar a ação das mulheres presentes, porque diante das cenas, as mulheres artistas, ativistas amantes das artes presentes diante das cenas de violações, autoritarismo e o perigo eminente de acontecer cenas de violência física, cuidaram de fazer valer a rede de proteção anti facismo, anti racismo e assegurar que quaisquer outras violações e abusos por parte da força de segurança, não passassem despercebidas, ou ignoradas pela opinião pública.

Elas gravaram e transmitiram os diálogos com os policiais, buscando compreender o por que da abordagem, acionando as redes sociais, acionando artistas, a mídia independente, advogadas (os) e ativistas de modo geral, garantiram a integridade física dos demais artistas que estavam emparedados sem qualquer possibilidade de diálogo para compreender a ação policial e o que de fato estava acontecendo.

Observação: No dia 27 de Março se comemora também o dia Internacional do Teatro e do Circo, quem sabe a PM foi acionada para fazer valer um roteiro qualquer de drama, trágico e comédia. Em Recife desigual e Racista. Entretanto, para calar a boca do racismo, viva o mundial do grafite.

A organização do evento emitiu uma nota, confira.

“Viemos denunciar a ação desproporcional da Polícia Militar (alguns indivíduos estavam com farda do Gati). Eles chegaram ao local mandando que todos os homens encostassem na parede Mostraram aquele despreparo típico da polícia quando se depara com a cultura negra. Isso é histórico no nosso país, o funk, o brega, a capoeira, o maracatu , o afoxé já viveram isso!. Cerca de 40 homens negros foram retirados do seu lazer, do seu momentos diversão, de aquisição de bens imprescindíveis para nosso trabalho, como latas de spray, para simplesmente passar pela maior violação de direitos que o movimento hip hop viu em um evento no centro da cidade dentro de pelo menos dez anos”. A nota representa a categoria de grafiteiros e artistas de rua no Recife e coletivos: Nathê Ferreira e Fil, do Kardume, e Naara, do Point Bomb Recife; Shell Osmo, Inay, Bubu, Mila Barros, do Coletivo Pão e Tinta; Mamah, Johnny e Peste Negra, da Cor da Lama; Pajé, do Px Produções;

Cor da Lama, Coletivo Pão e Tinta, Pixe Girls, Point Bomb Recife, Px Produtora, Kalunga Project, ColetivaS, Cores Femininas, Kardume, Osmo Crew, entre outros.

Crédito: Nathê Ferreira

Confira na íntegra a nota da Polícia Militar:

“A Polícia Militar reitera seu compromisso e respeito com os preceitos legais que regem o Estado democrático de direito e esclarece que eventos públicos de natureza cultural, para serem realizados, necessitam de autorização prévia da Prefeitura Municipal e da emissão de suas respectivas licenças de uso de solo, plano de limpeza e sonorização, além da comunicação, pelos organizadores do evento, aos órgãos de segurança pública como a Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. Através do 16º BPM informamos ainda que, nesta quarta-feira (27), na rua do Sebo, no bairro de São José, Centro do Recife, aconteceu a “Mostra Coletiva de Arte Urbana” com a participação de cerca de 80 pessoas reunidas, sem as devidas autorizações e sem o conhecimento dos órgãos de segurança pública. A partir de denúncias de pichação em edificações no centro do Recife e, não havendo nenhuma informação sobre o citado evento, foram deslocadas viaturas e realizada a abordagem policial ao público presente”.

Na mesma nota, a PM ainda afirmou que:

“Ressaltamos que, em análise preliminar das imagens veiculadas nas redes sociais e, a partir dos relatos, não foi verificado excessos ou violência policial na ação do efetivo do 16° BPM, responsável pelo policiamento na área. Até o final da ocorrência, nenhum dos participantes presentes se apresentou ao policiamento como organizador do ato ou proprietário do material apreendido. A partir da ausência dos responsáveis, o material apreendido foi entregue, mediante boletim de ocorrência, à delegacia da área. Lembramos que possíveis irregularidades cometidas por servidores civis e militares da SDS podem ser informadas à Ouvidoria Geral da SDS através do 0800-0815001 ou pelo (81) 31835298. O cidadão também pode ir pessoalmente na Ouvidoria, que funciona no prédio em frente à Secretaria de Defesa Social, na Rua São Geraldo, 110, no Bairro de Santo Amaro. Ou ainda pelo e-mail ouvidoria@sds.pe.gov.br”.

Por fim, a corporação concluiu o poscionamento dizendo que:

“Quaisquer segmentos da sociedade que queiram realizar eventos na região central do Recife, além de procurar os órgãos responsáveis pelas autorizações, também podem manter contato com o comando do 16° BPM, através do e-mail: 16bpmp3freicaneca@gmail.com e pelo telefone 31811780”.