Motoboys derrapam na crise da pandemia e morrem cada dia mais

Entregador faz equilibrismo na marginal paulistana - Foto da internet
A combinação de isolamento social, comércio fechado e menos trânsito nas ruas criou o ambiente ideal para a estatística do Infosiga, serviço do governo de São Paulo que mapeia acidentes na capital e acaba de divulgar o aumento de 47,3% de mortes de motociclistas nos no últimos dois meses, em relação a março/abril do ano passado. Em números absolutos, foram 56 mortos contra 38. As razões apresentadas são fáceis de entender: quem trabalhava no comércio antes da quarentena, na falta de opção melhor, virou motoboy de aplicativo, um dos raros mercados de trabalho em expansão. A remuneração é bastante variável e atrelada à quantidade de entregas.
Se de um lado o mercado de delivery cresceu com a população dentro de casa e os bares e restaurantes fechados, de outro entregadores mais antigos acusam queda de até 80% no faturamento, o que tentam compensar através de mais viagens, mais velocidade e riscos maiores e ainda inspiram os novatos a imitá-los. Com as ruas esvaziadas, os motoboys formam um contingente de motos de potência e manutenção diversas circulando à toda pela “pauliceia desvairada” de Mário de Andrade. Tão desvairada que tomando unicamente março deste ano e o mesmo mês de 2019 o aumento de motoqueiros mortos nas ruas foi de 87,5%.
Técnicos de trânsito experientes e taxistas calejados nos cruzamentos da cidade afirmam que “motoboy costumava respeitar semáforo, ou dava uma meia trava e seguia em frente”. Mas de dois meses para cá quase ninguém obedece luz vermelha e a maioria sequer olha para os lados nos cruzamentos.
A Prefeitura de São Paulo firmou um termo de cooperação com empresas de entrega por aplicativo no ano passado, com medidas de segurança para os motociclistas, no qual elas assumiram o compromisso de não estipular metas e prazos de entrega, “visando a segurança dos condutores”.
A Uber Eats afirmou orientar entregadores sobre as regras de trânsito e disse que eles estão cobertos por seguro contra acidentes.
O ifood disse que os entregadores “são independentes”, mas têm seguro contra acidentes pessoais desde o final do ano passado.
A Rappi também oferece seguro e afirmou que orienta os entregadores sobre regras de trânsito e a usarem equipamentos de proteção pessoal. O mercado de trabalho dos entregadores por aplicativos, até há uns meses pouco regulado, agora segue uma espécie de “lei da selva” onde sobrevivem os mais rápidos e menos preocupados com a segurança. As empresas sabem bem disto, mas e daí?