Uma aula de participação cidadã e consciência ecológica marcou o aniversário de 22 anos do Parque das Garças, à beira do lago Paranoá, na ponta da península do Lago Norte, em Brasília. A programação incluiu roda de diálogo, dança, música, ThaiChi Chuan, diversões infantis e exposição do Coletivo Linhas da Resistência reunindo moradores da região, frequentadores, especialistas e parlamentares.

O evento que aconteceu no último domingo (20), contou com as participações da deputada federal Érica Kokay (PT), a professora Maria do Carmo Bezerra (UnB) membro do Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan), o presidente da Associação de Moradores do Lago Norte Antônio Matoso e lideranças de entidades ambientalistas.

Crédito: Cláudia Correria

O debate pautou o Plano de Ocupação para a Unidade Especial 4 – Polo 1 do Lago Norte, aprovado, de forma unânime, em reunião extraordinária do Conplan.

O plano estabelece que o Lago Norte terá um novo local para esportes aquáticos, lazer e gastronomia na orla do Lago Paranoá e prevê empreendimentos com atividades comerciais, industriais, institucionais e de serviços, com estacionamento, transporte náutico e restaurantes.

Entre os moradores, frequentadores e membros do Movimento em Defesa do Parque das Garças há consenso sobre os impactos socioambientais prejudiciais ao lazer da comunidade e ao ecossistema.

O movimento tem realizado ações para impedir a concretização do plano e viabilizar a alternativa de incorporar essa área ao parque.

Foi criado um abaixo assinado, segue o link, https://www.change.org/p/salve-o-parque-das-gar%C3%A7as ,que já passa de 20 mil assinaturas, sendo 12.896 virtual e 4.500 assinaturas em meio físico. A área de 53.184,95 m² prevista no plano é localizada no Setor de Habitações Individuais Norte (SHIN), nos trechos 15 e 16, ao lado do Parque Ecológico das Garças.

Crédito: Cláudia Correria

O Governo do DF reconhece o uso da área pela comunidade e alega que o espaço possui infraestrutura precária e sem serviços disponíveis em seu entorno imediato.

A geóloga Cristina Maffra, frequentadora da área, apontou muitos impactos cumulativos no meio biótico que podem gerar efeitos desastrosos para toda a cidade como o desequilíbrio ecológico com o afugentamento dos animais, a redução do conforto térmico com a supressão vegetal e a impermeabilização de 6.200 m2, a poluição das águas do lago com resíduos e a propagação do som em toda a região, gerado por eventos.

“A impermeabilização interfere negativamente no bem estar climático, é um impacto cumulativo sério. Outro impacto que está sendo desconsiderado é o sonoro, estudos mostram que o impacto do som produzido por eventos tão próximo ao lago é grande porque ele se propaga mais em meios aquosos. Esse impacto atinge toda a cidade, não podemos aceitar isso para fins comerciais, existem outras áreas que podem ser vitalizadas sem desmatar”, afirmou.

Patrimônio ambiental

O Parque Ecológico das Garças é um dos parques públicos de Brasília numa posição paisagística privilegiada, com vista para o Eixo Monumental através da lâmina d´água que banha o lado sudoeste da península, considerado um santuário de pássaros, com cerca de 100 tipos de aves identificadas.

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A bióloga Marisa Mamede, que integra o movimento comunitário, fez um histórico da luta dos moradores há 15 anos contra as ameaças que a Área de Proteção ambiental- APA do Parque das Garças sofre. “Desde 2002 ao ser criado, o parque não tem plano de manejo participativo, o Instituto Brasilia Ambiental- IBRAM desmarcou a audiência pública que ouviria a população, o plano é de alto risco. A área tem acesso democrático, sem conflitos, é um bem público, um patrimônio ambiental, não podemos aceitar nenhuma exploração comercial”, defendeu.

Crédito: Cláudia Correria

Ela ressaltou a resistência da comunidade que utiliza o parque como lazer e criticou a falta de diálogo com o poder público que se recusa ouvir às manifestações contrárias ao plano.Segundo o movimento, a proposta da Terracap trará obstrução da paisagem, desmatamento, erosão e impermeabilização do solo, fuga de animais silvestres e desequilíbrio ambiental, poluição sonora e, visual e ambiental, aumento do tráfego de veículos e ocorrências de insegurança.

As propostas defendidas pelo movimento incluem a incorporação da área prevista no plano para a ampliação do parque, a elaboração do plano de manejo do parque com a participação da comunidade, a realização de audiências públicas e o posicionamento do Ministério Público frente ao plano.