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Aconteceu na última quinta-feira (18), um ato para reivindicar a volta do auxílio emergencial no valor de 600 reais até o final da pandemia e vacinação universal pelo SUS, entre outras pautas.

O evento aconteceu nos 26 estados do país, no Distrito Federal e no Congresso Nacional, promovido pela Coalização Negra por Direitos, articulação nacional que reúne mais de 200 entidades do movimento negro brasileiro.

Essas entidades reunidas na Coalizão Negra foram às ruas para mostrar aos governos municipais, estaduais e especialmente ao governo federal, a indagação e exigência por Vacina para todas e todos pelo SUS e por um Auxílio Emergencial minimamente digno.

A vacinação no país anda em marcha lenta graças a inoperância do governo federal em conseguir doses de vacinas e insumos necessários para sua produção e aplicação. Segundo dados do projeto “Our World In Data”, da Universidade de Oxford o Brasil, se continuar no ritmo de vacinação atual, só conseguirá vacinar 70% da população – que é o mínimo estimado para que a pandemia seja controlada no país segundo Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz – em 2024.

Já o auxílio emergencial de 600 reais foi pago pela última vez em dezembro, deixando milhões de brasileiros e brasileiras em situação de extrema vulnerabilidade neste início de ano. Segundo estudo do economista Daniel Duque da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o fim do auxílio vai empurrar 30% da população da brasileiro para a pobreza e 9,7% para a extrema pobreza.

Essa situação calamitosa de aumento da desigualdade social no país já pode ser observada em diversas favelas e periferias pelo Brasil, onde a fome voltou a ser uma cruel realidade. Outro estudo, dos economistas Naércio Menezes Filho, Bruno Komatsu e João Pedro Rosa, mostra que o auxílio emergencial para 70 milhões de brasileiros reduziu o índice de Gini, que mede a desigualdade de um país, para menos de 0,50 pela primeira vez na história do Brasil, chegando a marca de 0,47 (quando mais perto de 1 mais desigual, quanto mais perto de 0 menos desigual).

A população negra é a mais afetada pela pandemia da COVID-19 no Brasil e no Mundo, tendo uma taxa de mortalidade maior que a população branca. Isso se dá não por uma predisposição do vírus, mas sim pelo racismo e as desigualdades no acesso a saúde.

De acordo com Emanuelle Góes, doutora em saúde pública pela Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do Cidacs/Fiocruz sobre desigualdades raciais e acesso a serviços de saúde. “O que a pandemia tem evidenciado é o que vários estudos já mostravam em relação ao maior prejuízo da população pobre e negra ao acesso da saúde. A covid-19 encontra um terreno favorável porque essas pessoas estão em um cenário de desigualdade de saúde e de precarização da vida”. Declaração foi feita em entrevista para a BBC News Brasil em Londres.

A doutora ainda explica que “Isso tudo tem relação com o sistema em que a gente vive, com o racismo”, e aponta como, por causa do racismo estrutural, pessoas negras têm piores condições de vida.

Observando essa realidade o movimento negro brasileiro resolveu dar uma resposta a altura e cobrar dos governos uma solução para esses problemas, pressionando as casas legislativas nas 3 esferas (municipal, estadual e federal). O ato do dia 18 foi um dos maiores atos que o movimento negro já organizou, com abrangência nacional e com incidência no Congresso.

No Rio de Janeiro, diversos movimentos, organizações e coletivos se reuniram no final da tarde em frente a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – ALERJ e fizeram um ato simbólico com faixas, cartazes e pratos vazios para denunciar a volta da fome para diversas famílias.

O Ato também contou com a leitura do manifesto da Coalizão Negra por Direitos e por intervenções de representantes dos movimentos presentes e de parlamentares como a Deputada Estadual Renata Souza (PSOL) e da Vereadora Tainá de Paula.

A Coalizão Negra por Direitos foi fundada em novembro de 2019, em São Paulo, para promover incidência política nacional e internacional com o objetivo de enfrentar o racismo e defender direitos da população negra brasileira.