Demanda nas periferias por transporte por aplicativo aumentou durante a pandemia - Foto: Divulgação 99
Demanda nas periferias por transporte por aplicativo aumentou durante a pandemia - Foto: Divulgação 99
Demanda nas periferias por transporte por aplicativo aumentou durante a pandemia - Foto: Divulgação 99
Demanda nas periferias por aplicativo de transporte aumentou durante a pandemia – Foto: Divulgação 99

O novo coronavírus trouxe algumas mudanças de hábitos, uma delas foi a maneira como as pessoas se deslocam pelas cidades. Com medo de utilizar transportes públicos lotados e de se contaminarem, muitas delas têm dado preferência a outros meios de locomoção, como caminhadas e automóveis.

Nas periferias do Brasil, o transporte por aplicativo ganhou força durante a pandemia, tendo um aumento de 54%, de acordo com o levantamento “Como as periferias se reconectam com a cidade”, realizado pela 99, empresa de tecnologia e mobilidade urbana.

A pesquisa foi realizada em julho e agosto com 2.612 moradores de bairros periféricos do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Manaus. Para 40% dos entrevistados, a escolha por esse meio de transporte foi feita para evitar aglomerações e contaminação pelo coronavírus.

Rafael da Costa Silva, morador da favela da Galinha, em Inhaúma, zona norte do Rio de Janeiro, foi um dos que passaram a usar mais os apps de transporte durante a pandemia. “Tenho que trabalhar e uso o app para me locomover, sobretudo, com meu filho pequeno para a casa da babá e consultas médicas”, diz ele.

Sem opção de home office

Assim como Rafael, muitos dos participantes da pesquisa não conseguiram cumprir o isolamento social. Quase um quarto dos entrevistados precisou sair todos os dias para trabalhar (19%) desde março. Em São Paulo, esse percentual foi ainda mais alto (22%) e o Rio de Janeiro foi onde as pessoas tiveram que se deslocar menos para trabalhar (17%). Outros 32% afirmaram já ter voltado para as ruas nos últimos quatro meses anteriores à pesquisa, ou seja, antes do período de flexibilização.

Mesmo diante do aumento da utilização dos apps, os deslocamentos para o trabalho nas capitais pesquisadas ainda são realizados majoritariamente por transportes coletivos (ônibus, trem e metrô). Os carros por app respondem por 34% do uso.

Na capital carioca, os moradores das periferias se deslocam para o trabalho usando mais o ônibus (38%) e apps de carro (34%) do que trem/metrô (17%) durante a pandemia. O principal fator de decisão na escolha pelo app é o tempo do trajeto. Em São Paulo, é o valor total do deslocamento.

Dayse Barros dos Santos, moradora de Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, é profissional de Recursos Humanos e até teve a opção de home office, mas prefere se deslocar diariamente para o trabalho durante a pandemia. “Tenho crianças pequenas e, como moro pertinho do trabalho, achei melhor ir trabalhar na empresa porque em casa não teria sossego. Não necessariamente precisaria usar transporte para me deslocar, mas uso 99, a corrida é curta e a tarifa é mais barata”.

Para atividades rotineiras, o preço é o maior fator de decisão para o deslocamento. A comodidade ganha mais relevância em ocasiões como lazer e visita a amigos e familiares. O app por carro se revelou como uma alternativa mais segura de transporte durante a pandemia para 40% dos entrevistados.

Gráfico mostra a mundança de frequência no uso de meios de transporte nas capitais SP, RJ e SSA
Gráfico mostra a mundança de frequência no uso de meios de transporte nas capitais SP, RJ e SSA

“Os resultados comprovaram que, ainda mais do que antes, segurança é um requisito importante para a escolha do modo de transporte. Democratizar o acesso das pessoas às cidades também passa pela garantia de que se sintam seguras do ponto de vista de saúde pública. Apesar da preocupação com a segurança, o preço ainda é um fator decisivo na escolha. Por isso, nos adequamos e desenhamos novos produtos, como o 99Poupa, que é uma opção até 30% mais barata que o 99Pop, para que as pessoas possam se movimentar em horários alternativos e fazer integração com outros modos de transporte em segurança, sem que pese no bolso”, explica a diretora de Comunicação da 99, Pâmela Vaiano.

Enquanto houve um aumento nas viagens realizadas pelo quartil mais pobre das cidades pesquisadas, as corridas feitas pela parcela mais rica caíram, entre os meses de fevereiro e agosto, como revelam os dados da 99. Essa diferença pode ser explicada pelo fato das pessoas com maior poder aquisitivo poderem aderir mais ao home office pelo tipo de trabalho que exercem.

Comércio local fortalecido

A maioria dos moradores das periferias brasileiras (84%) afirma que sofreu impacto econômico significativo em suas finanças e que passou a realizar mais compras e serviços perto de casa durante a pandemia. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em maio, a taxa de desocupação do país no primeiro trimestre do ano foi de 12,2%, com aumento de 1,3 pontos percentuais em relação do quarto trimestre de 2019, quando ficou em 11%.

De acordo com o levantamento, mais da metade dos entrevistados (56%) concentram suas compras em seus bairros, um hábito anterior à pandemia e que ganhou mais força no período de isolamento social. A preocupação com o sustento do comércio local, apontada por 92% dos respondentes, é um fator influenciador desse comportamento.

Assim como as formas de deslocamento nas cidades, o consumo nas regiões periféricas também mudou com a pandemia.

As compras pela internet ganharam mais espaço no cotidiano das pessoas e tiveram um salto expressivo em todas as cidades. Em São Paulo, por exemplo, antes do coronavírus, apenas 4% dos moradores costumavam fazer compras em lojas on-line. Durante a pandemia, esse número pulou para 24%. No Rio de Janeiro passou de 2% para 21%.

A pesquisa ainda revelou que dentro do próprio bairro, a maioria das pessoas se desloca a pé (65%), com carro por app (45%) e com ônibus (19%) para atividades, como compras, serviços, trabalho, saúde e visita a amigos e parentes.

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