“Vadeia Sinhá e Sinhô, vadeia Iaiá e Ioiô. Vadeia quem tem axé pra vadiar”…
Embalados pelo axé da música vadeia Sinhá e Sinhô, aconteceu na tarde do dia 06/10/2018 na Praça do Farol de Itapuã, um dos pontos turísticos de Salvador, mais uma edição do Movimento Vadeia Sinhá e Sinhô. Tendo em sua composição a professora de capoeira Paula Brito, 32, as alunas formadas Josélia Maria, 31, Virgínia Souza, 23, Mayne Queiróz, 19, e a não praticante de capoeira – mas que acredita no evento e sempre ajuda para ele ocorrer – Jucione Pereira, 32, o movimento surgiu da necessidade em mostrar que as mulheres são capazes de organizar eventos assim como os homens e dar oportunidades a elas.
Idealizado pela aluna formada Josélia – na época instrutora de capoeira – o Vadeia Sinhá e Sinhô foi criado em abril de 2016 com a intenção de a mulher atuar nos movimentos que envolvem a capoeira de forma igual a dos homens, tendo como objetivo promover a cultura através da capoeira, das danças populares e mantendo as heranças ancestrais. Insatisfeita ao ver a maioria dos eventos e palestras sendo realizados por homens, assim como a frente da bateria eles e quase nunca as mulheres e/ou a falta de respeito ao passar na frente delas enquanto elas esperavam no “pé do berimbau” para jogar, juntou-se a outras organizadoras para mostrar que a capoeira não é feita só por homens.
Sinhá e Sinhô, pronomes de tratamento que eram utilizados pelos negros no tempo da escravidão para se dirigirem aos seus senhores, são empregados com outro sentido, ou seja, são usados para mostrar que a atividade é para homens e para mulheres independentemente de cor, idade ou opção sexual.
O Vadeia Sinhá e Sinhô completou agora em 2018 dois anos, mas quem ganhou o presente foi quem esteve no local e aproveitou a boa energia em um lugar agradabilíssimo regado a brisa do mar e a vista de um dos mais belos pontos turísticos de Salvador, o Farol de Itapuã.
Alongamentos, dança e capoeira com o gostinho de quero mais não chamou a atenção apenas de quem participava das atividades,mas também dos que passavam pelo local e ficaram admirados pelo acontecimento em praça pública falando que o evento deveria acontecer mais vezes onde ocorreu.
Previsto para começar às 16 horas, o Vadeia Sinhá e Sinhô contou com a presença da professora de capoeira do grupo Origem Capoeira Jubenice Oliveira, 35, (Bibinha como é conhecida nessa arte) que mais uma vez contagiou a todos com sua energia e seu sorriso radiante. Bibinha, vencedora na categoria feminina do campeonato de capoeira Red Bull Paranauê realizado no dia 03/03/2018 no Farol da Barra, que também é formada em dança pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), ficou responsável por ministrar a aula de dança envolvendo de crianças a idosos, de mulheres a homens quebrando outro preconceito imposto pela sociedade – ou seja – que homem não pratica dança.
“Quando eu venho para cá ministrar uma oficina e poder fazer com que todos façam parte disso – homens, mulheres e crianças – é muito bom, é uma sensação muito boa e isso serve de combustível para continuar o trabalho”, afirma Bibinha.
Ao ser questionada a respeito da importância dela enquanto mulher ter participado do Red Bull Paranauê, Bibinha fala que o mais precioso de tudo não é somente seu crescimento enquanto pessoa do sexo feminino e capoeirista, mas sim em poder fazer outras pessoas crescerem através disso. Para Bibinha é uma grande responsabilidade, pois recebe várias mensagens de meninas e mulheres do mundo elogiando-a, dizendo que se sentem motivadas e querendo ser iguais a ela.
Segundo Jubenice, que participou de quatro edições do evento, o movimento é de grande importância para o crescimento de todos os capoeiristas que estiveram no local, principalmente pelo fato da organização ser gerada por mulheres, fortalecendo assim a capoeira feminina e mostrando que elas são capazes de gerir, organizar, liderar e promover atividades com manifestações culturais dentro do celeiro da capoeira, Salvador.
“Acredito que isso motiva e contagia outras mulheres a continuarem a caminhada sabendo que é possível sim organizar, liderar e promover atividades”, ressalta Bibinha.
O fato das organizadoras serem detalhistas diferenciam-se dos homens que são simplistas ao realizarem os eventos como afirma Éder Pereira, 36, professor do grupo Eu Capoeira – o qual ressalta ainda que é um dos melhores eventos de capoeira realizado em Salvador.
“Elas se apegam aos detalhes, apegam-se a coisas que muitas vezes não enxergamos. Do ponto de vista geral, às vezes, as organizadoras se saem melhor que os homens, até porque diferentemente de nós homens elas conseguem ter uma visão detalhada e atender bem as pessoas em tão pouco tempo a frente da organização do evento”, destaca Éder.
Esse movimento é uma prova que as mulheres merecem respeito e são tão capazes quanto qualquer homem e a prova disso é a participação de capoeiristas de ambos os sexos não só na roda de capoeira como também na aula de dança puxada pela professora Bibinha.
O Vadeia Sinhá e Sinhô dá certo porque os amigos sempre estão presentes para fortalecer o evento e ajudar de alguma forma, seja contribuindo com uma água, frutas ou até mesmo emprestando instrumentos que compõem a bateria da roda de capoeira.
Após as atividades realizadas durante a tarde e uma roda de capoeira que encerrou o evento com muito axé às 19 horas, os participantes puderam repor suas energias com frutas e sucos, diferentemente das outras edições que contavam com um gostoso feijão preparado pelas organizadoras.
O Vadeia Sinhá e Sinhô preocupa-se também com o social realizando no outubro rosa um trabalho de conscientização sobre o câncer de mama através de palestras e panfletagens, mostrando assim que o evento não voltado apenas para a capoeira e atividades culturais.
Para o ano de 2019 as organizadoras estão pensando em fazer algo maior para agregar mais palestrantes, mais pessoas e mais conhecimentos aos capoeiristas e não capoeiristas. Embora ainda não tenha nada certo as organizadoras estão trabalhando na ideia para fortalecer o evento.
Que venha 2019 cheio de Vadeia Sinhá e Sinhô, muitas atividades culturais, muita preocupação com o social e muito axé!
“Dê no que der eu vou pegar o meu axé. O axé quem faz sou eu, o axé faz é você”.