Mulheres se afastam dos estudos e do trabalho para cuidar da família e saúde, são menos convidadas para pesquisas internacionais e quase não participam da gestão de universidades e financiamentos.
A presença das mulheres nas universidades públicas e particulares é um fenômeno crescente no Brasil nos últimos dez anos. Maioria nos cursos de técnicos, graduações, mestrado, doutorados e residências médicas, as mulheres avançam contra as barreiras históricas da exclusão feminina nos estudos. Durante 327 anos (1500 – a 1827), a educação brasileira era exclusiva para homens, sendo as primeiras mulheres alfabetizadas por missões jesuíticas e somente em 1875 foi criada a Escola Normal da província que possibilitou mulheres se profissionalizarem na carreira do magistério, que na época destacava conhecimentos morais, religiosos e “boas práticas no lar.” O curso de magistério não era considerado ensino superior e tinha uma evasão muito alta por causa de gravidezes e da divisão sexual do trabalho. O acesso ao ensino superior só foi possível em 1881, quando Ambrosina de Magalhães ingressou na faculdade de medicina no Rio de Janeiro e formou-se em 1887 na Bahia. Além de todas as barreiras morais (casamento, filhos, lugar da mulher no lar e serem “consideradas divinamente feitas para família) outra barreira que as mulheres enfrentaram foi a falta de escolas preparatórias para mulheres, uma vez que a maioria dos municípios só tinham escolas de alfabetização com a permissão de lecionar para mulheres. O ensino só foi aderir a igualdade de gênero em 1941, nove anos após o direito do voto feminino no Brasil, a partir da Lei nº 4.024/61, que “foi garantida equivalência de todos os cursos de grau médio, abrindo a possibilidade para as mulheres que faziam magistério de disputar os vestibulares”. Ou seja podemos dizer que somente a partir de 1960 as mulheres começam a ter presença no ensino superior brasileiro.
Hoje somos maioria nos cursos superiores e pós graduação mas ainda enfrentamos as mesmas barreiras de exclusão do século XV. De acordo com a pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) realizada em 2015, as mulheres representam 59,5% do corpo discente nas instituições de ensino superior federal e ainda segundo o estudo representam 54,7% da evasão das universidades, 68% dos casos em decorrência da maternidade. Em contra partida a pesquisa “Violência contra a mulher no ambiente universitário” conduzida pelo Instituto Avon e DataFolha, 2015 afirma que apenas 4% das mulheres que engravidam durante a graduação terminam seus cursos no tempo previsto, enquanto 88% dos homens que se tornam pais durante a graduação concluem o curso no tempo previsto. Das mulheres que se tornam mães enquanto estudam apenas 38% voltam as universidades e demoram em média 3,5 anos para retornarem aos estudo de ensino superior, já os pais universitários 97,2 % concluem seus estudos com intervalos de cursos trancados entre 1 e 2 anos. O sistema patriarcal também age nas diversas violências que acontecem dentro das universidades, ainda segundo estudo “Violência contra mulher no ambiente universitário” 72% das universitários já sofreram ou presenciaram machismo dentro das universidades.
Além do sistema patriarcal, o machismo institucional também afeta diretamente a permanência e incentivo a pesquisa científica. Segundo o relatório da editora científica Elsevier, de 1995 a 2015 as mulheres assinam 67% das publicações acadêmicas produzidas no país. Mas mesmo com a maioria das publicações ainda há desafios para representações femininas nos degraus mais altos das pesquisas .Dos 15.161 pesquisadores brasileiros que recebem a bolsa de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) –– paga aos cientistas que mais se destacam em suas áreas –– 5.388 são mulheres (35,5% do total). Somos poucas também entre os pesquisadores seniores do órgão (que representam o mais alto grau na hierarquia): 42 de 161. Há áreas –– como engenharias, ciências agrárias e linguística –– sem nenhuma mulher como pesquisadora sênior.Outro problema é a baixa presença de mulheres em cargos de gestão acadêmica. Das 68 universidades públicas federais, apenas 19 (28%) têm reitoras.
Esses números expressam papéis sociais impostos as mulheres e falta de regulamentação e políticas públicas como licença maternidade e paternidade (inclusive para cientistas), redistribuição das tarefas domésticas e quebra de dogmas e estereótipos femininos, como mulher não tem pulso firme, ou suas pesquisas são menos importantes, suas rendas complementar para o lar ou aptidões “divinas” para cuidar da família. Em tempos de desmontes das pesquisas e tecnologias, as mulheres são duplamente afetadas, a produção cientifica não pode acabar o que deve acabar é o machismo instrucional, as diferenças de gênero e a obrigação dos trabalhos domésticos e familiares serem quase exclusivos das mulheres. Precisamos incentivar a equidade de gênero e meninas e mulheres a produzirem e respeitar suas pesquisas. Afinal não há pesquisa e nem trabalho que não possa ser feito por mulheres.