Card da campanha #MulheresNegrasAmamentam

A fim de buscarem visibilidade na SMAM – Semana Mundial do Aleitamento Materno, um grupo de mulheres negras lançaram uma hashtag para promover o movimento. A SMAM é considerada como veículo para promoção da amamentação. Ocorre em 120 países simultaneamente, sempre de 1° a 7 de agosto.

A Aliança Mundial de Ação pró-Amamentação (WABA) define, a cada ano, o tema a ser trabalhado na SMAM, lançando materiais que são traduzidos em 14 idiomas. “Capacite os pais e permita a amamentação, agora e no futuro!” é o slogan da SMAM 2019. O tema tem como objetivo enfatizar a importância do envolvimento de todos os familiares próximos, e não apenas da mãe, para que seja possível o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida e de forma complementar até os dois anos de idade, no mínimo.

Contudo algumas mulheres perceberam que não haviam mulheres negras amamentando pela hashtag oficial da SMAM (#SMAM19). Paralela a essas inquietações, a doula Chenia d’Anunciação, também integrante desse grupo de mulheres negras de todo o Brasil, questionou um card de uma mesa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia – UBFA, onde seria abordado o tema Violência Obstétrica:

“E não foi surpresa que a única negra que constava na mesa era a negra do cartaz, em posição análoga ao que se trata: violência obstétrica; porque a negra estava feliz e sorridente num tema tão sério”, relata. Foi então que Chenia questionou o fato de não haver negras na mesa, sobretudo sobre dados epidemiológicos, sobre mortalidade materna, ligada diretamente à violência obstétrica da população negra”.

Devido ao questionamento da doula, uma das palestrantes lhe cedeu o lugar de fala na mesa, e a situação foi pautada no grupo de uma rede social de troca de mensagens intitulado Negras no SIAParto (um grupo de profissionais negras do Brasil que prestam assistência ao parto, que estiveram no Simpósio Internacional de Assistência ao Parto, em

Chenia dAnunciação, formanda em enfermagem, doula há 9 anos, slinguista há 10, fundadora do Doulas Pretas, que busca prestar assistência às mulheres negras periféricas, e do Coletivo Lumiar, que tem o objetivo de formar novas doulas

setembro de 2018), onde, coletivamente, tiveram a ideia de criar uma hashtag vinculada à hashtag oficial da SMAM, para que aparecessem nos feeds fotos de mulheres negras amamentando. “Até se você der uma pesquisada em sites de pesquisa sobre amamentação, você não acha imagens de mulheres negras nesses momentos, então a partir disso surgiu a hashtag”, pontua Chenia.

Slide da apresentação de Chenia dAnunciação, sobre violência obstétrica no recorte étnico

“Participei da mesa falando sobre o que é violência obstétrica, uma fala focada na mortalidade materna, e como a violência obstétrica desencadeia a mortalidade materna a partir do momento que essas mulheres têm menos consultas de pré-natal, essas mulheres têm exames negligenciados, essas mulheres têm menos analgesia na hora do parto, elas sofrem mais procedimentos dolorosos e invasivos no momento do parto, elas são negligenciadas, as suas dores, as suas queixas”, denuncia Chenia.

Card corrigido (com nome de Chenia), que resultou na campanha #MulheresNegrasAmamentam

Uma nova roda acontecerá dia 15/08, às 14 horas, na Escola de Medicina da UFBA, Avenida Reitor Miguel Calmon, s/n, Vale do Canela, Salvador-BA. Evento gratuito.