Mais da metade das mulheres mortas em decorrência de complicações na gestação em todo o estado do Rio são negras, jovens e de baixa escolaridade. É o que afirma o estudo sobre mortalidade materna do Data.Labe, o laboratório de dados da favela da Maré. A pesquisa cruzou informações de quase mil mulheres que morreram antes, durante ou após o parto.
Por meio da análise do Banco de Dados do Sistema Único de Saúde entre os anos de 2009 e 2013, a pesquisa concluiu que quase 70% das mortes nesse período são de mulheres negras. Mais de 45% tinha idades entre 19 e 29 anos, e cerca de metade delas não havia concluído o Ensino Fundamental, sugerindo também que a morte pós-parto atinge majoritariamente mulheres pobres.
“O número elevado de mortes maternas desse perfil ressalta uma escassez ou uma ineficiência de políticas públicas voltadas para mulheres, especialmente para mulheres negras, que possuem um acesso limitado à saúde, não apenas por serem moradoras da periferia, mas pelas dificuldades que enfrentam também. Muitas delas lidam com a gestação sozinhas e, ao mesmo tempo, têm que estar no mercado de trabalho para sustentar a família”, explica Vitória Lourenço, residente responsável pela pesquisa do Data.Labe.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a maior parte dos óbitos maternos está relacionada a causas evitáveis, apontando uma relação entre gestão de políticas de saúde e mortalidade materna. Mais da metade das mulheres investigadas morreram um ano após o parto por problemas relacionados à falta de detecção de doenças e à má avaliação dos riscos da gestação pelo Sistema de Saúde. Dois terços dos casos (66%) ocorreram dentro da capital do Rio de Janeiro.
A professora e moradora da Maré Jacqueline Oba, 25 anos, temeu virar estatística antes do nascimento da filha. “Como mulher e negra, eu passei boa parte da minha gestação com medo dessa realidade. Mesmo obtendo toda a informação do mundo, na hora, dificilmente a gestante consegue interferir no que acontece com ela”, explica a jovem mãe de Kehynde Mahin, de três meses.
Os três principais hospitais onde mais morrem mulheres negras no Rio estão localizados em regiões periféricas, nas zonas Norte e Oeste.
Publicado na edição de Outubro de 2016 do Jornal A Voz da Favela