Se cada vez mais mulheres estão se colocando em diversas posições e ocupando espaços, certamente o rap é uma das trilhas sonoras do empoderamento feminino. No Brasil, ícones como Damas do Rap, Nega Gizza, Negra Li e Dina Di (morta em 2010 por conta de uma infecção hospitalar) começaram a abrir esse caminho nos anos 90. Hoje, Karol Conká, Tassia Reis, Flora Matos e Drik Barbosa lotam casas e causam na internet. Mas também há uma nova geração que circula pelas favelas e periferias do Rio, propagando suas rimas e a cultura hip hop através do olhar feminino.
“Ser MC no Rio ou em qualquer lugar não é fácil para nós mulheres, mas estamos aí na correria fazendo e valorizando nossa luta”, afirma Gabriela Vieira, a Negabi. Moradora de Padre Miguel, Zona Oeste do Rio, ela atua na cena há oito anos e lança seu próximo clipe, “Acorda aí”, ainda este mês.
Para Aika Cortez, o machismo é uma das maiores adversidades dentro da cena: “É um atraso para o hip hop e para o desenvolvimento social, sendo que o objetivo é justamente o de empoderar e dar voz às periferias”, opina a MC, que prepara música para trilha sonora de documentário e o EP de estreia, Babylon princess. Organizadora da Batalha Plano A, que abre espaço para mulheres no hip hop e integra coletivos de rap como o Olola Fa e Lado A, Thais Bueno concorda: “Aquela história de que você tem que ser duas vezes melhor quando é negro duplica quando você é uma mulher negra. Nunca foi segredo o fato de vivermos em um país machista e racista”, explica a moradora de São Gonçalo.
Apesar de tudo, não faltam planos e ambições. Yas Werneck é moradora de Anchieta e está há seis anos em atividade. Ao longo da caminhada, percebeu que unir a melodia da voz ao rap fazia sua música chegar a mais pessoas: “Hoje em dia, pessoas de todas as idades ouvem o som. Não existe limites”. Após lançar o EP Hexagonal e ver a faixa “Coméki” reverberar nas pistas e no YouTube, a rapper promete lançar mais clipes e participações em outros trabalhos.
Melodia também não falta na música de Carolina Lopes, mais conhecida como Lorac (Carol ao contrário) Lopez. “Não me considero tanto rapper ou MC. Lido mais com R&B. Amo cantar e passar energia positiva nas minhas letras”, explica a jovem de São João de Meriti. Com influências que vão de Rihanna a Elza Soares, a cantora prepara para 2017 seu EP de estreia, Beija-flor lilás. Recentemente, Lorac lançou dois singles: “Bem te vi” e “Meia noite”, com participação do rapper Flôres.
Batalha do Real
A Batalha do Real, clássico duelo de MCs que já revelou grandes nomes como os integrantes do Cone New Diretoria, é celeiro de novas caras femininas do rap carioca. É o caso de Thaina Denicia, ou simplesmente Thai Flow. A MC, que começou a carreira no grupo Minas de Fato, venceu a primeira edição da Batalha do ano passado e pretende seguir carreira solo em 2017. “Vou abraçar as oportunidades que estão por vir. Ser campeã de uma batalha com peso na história do rap nacional não tem preço”, afirma Thai, que é da Zona Norte do Rio, mas foi abraçada pela Baixada Fluminense.
Samantha Zen também é cria da Batalha do Real. A jovem de Niterói participou da temporada 2016, gravou uma faixa com outros MCs da Batalha e tem circulado por grandes eventos com a BdR Crew. “Neste ano, teremos surpresas. A cena já cresceu muito e estamos trabalhando muito para que possamos ser o mais produtivas possível”, conclui.