Coletivos de mulheres do Distrito Federal promoveram o Ato “Mulheres sem medo”, na entrada do Parque Olhos D’agua, na Asa Norte, em Brasília. A mobilização, que aconteceu no último sábado, 14, foi uma resposta à tentativa de estupro de uma mulher que caminhava no local, no 6 de dezembro e foi perseguida e atacada, segundo informações, chegou a ser levada para a mata, mas, resistiu e o agressor fugiu.
O Parque Ecológico Olhos D’agua, foi criado pela Lei 556 de 07/10/93 e conta com 28 hectares dentro da área que compreende as SQN 413 e 414 e SCLN 414 e 415. A área dispõe de pistas de caminhada, tendas de massagem, academia ao ar livre, quiosque, banheiros e espaço para leitura, onde acontecem rodas de choro, aulas de capoeira, yoga, dança circular e outras atividades socioculturais da comunidade local.
Participaram da mobilização, ativistas em defesa dos parques, moradores da região, frequentadoras do parque, representantes do Coletivo Filhas da Mãe, do Sindicato dos Professores do DF- Sinpro e o deputado distrital Gabriel Magno (PT). O grupo se concentrou no portão principal do parque porque os seguranças do local não permitiram a entrada com faixas e cartazes com palavras de ordem: “Queremos mulheres sem medo” “Por mais segurança para as mulheres do DF”, “Direito de ir e vir” “Não é um caso isolado”.
No interior do parque, próximo à entrada principal, duas viaturas da empresa terceirizada de segurança e quatro agentes permaneceram no local, até o início da chuva e a dispersão do grupo de manifestantes no final do ato pacífico.
A ativista pelos parques e frequentadora do parque Madalena Rodrigues reivindicou maior segurança na área. “Eu ouço há mais de um ano que esse parque precisa de vigilância motorizada e isso depende do IBRAM, de licitação, mas, o tempo passa e não temos até hoje, isso faz muita falta para a segurança das mulheres, principalmente, e de milhares de frequentadores”, afirmou.
A dirigente do Sinpro Leilane Costa defendeu a participação política das mulheres e o direito à cidade. “Nós mulheres temos o direito à cidade, a andar com segurança. Nós precisamos que os parques, as ruas sejam bem iluminados, que tenham segurança e principalmente que nada aconteça contra nós mulheres. É preciso garantir segurança, ter política de conscientização da importância e da valorização de nosso cuidado. Estamos aqui hoje, mas, é importante que mais mulheres se somem a essa luta por segurança em todos os outros espaços do Distrito Federal”, conclamou.
Sociedade da violência
O último Anuário Brasileiro de Segurança Pública, de 2023, apontou 74.930 casos de estupro no Brasil, destes 76% foram estupros de vulneráveis (contra pessoas incapazes de consentir, seja pela idade, menores de 14 anos, seja por alguma enfermidade ou deficiência). As principais vítimas foram do sexo feminino (89%), negras (57%) e crianças de até 13 anos (60%).No ano passado, o Distrito Federal teve 322 estupros e 574 estupros de vulnerável, apontando um aumento de 8,9% em comparação com 2022.
Para Cosette Castro, do Coletivo Filhas da Mãe, vivemos numa “sociedade da violência” contra pessoas negras, indígenas, periféricas e principalmente, mulheres que sofrem todos os dias diferentes tipos de violência, assédio e preconceito. “ Temos de sair da sociedade da violência, falar todos os dias, dessa violência que atinge as mulheres, estar nas ruas juntas, se manifestar todos os dias e temos várias formas de fazer isso. “ afirmou. O coletivo, que existe há 5 anos, promove atividades em defesa dos direitos das mulheres, como a segunda caminhada contra a violência de gênero que acontece no Parque das Garças, Lago Norte, domingo (15) a partir de 9h.
O Instituto Brasilia Ambiental-Ibram informou à imprensa que está se empenhando para dar agilidade a contratação de um posto de ronda motorizado de forma a prestar serviços ainda melhores de monitoramento da área.
Políticas Públicas
Segundo o deputado distrital Gabriel Magno (PT) em 2024 houve um aumento de mais de 27% das denúncias de violência contra a mulher no Ligue 180, foram mais de 680 denúncias de casos de estupro e mais de 20 casos de feminicídio, além dos casos que não são denunciados.
Para o parlamentar, não há investimento na segurança e estrutura no Distrito Federal por falta de priorização da vida das mulheres no território. “Casos como este, em locais de lazer, alertam a toda a população, mas infelizmente esta é a realidade em vários outros espaços do DF. Falta investimento em educação, em segurança especializada nos locais públicos, iluminação pública nesses espaços, campanhas de combate à violência, criação de protocolos para evitar os casos de violência e garantir caso aconteça que as denúncias possam ser feitas e sejam resolvidas.”, afirmou.
Fotos : Claudia Correia e Jorge Monicci