Erica Hilton, Carolina Iara, Linda Brasil, Duda Salabert e Dani Balbi, da esquerda à direita, são as 5 mulheres trans eleitas em 2022. Foto: Gui Mohallem
Linda Brasil (PSOL-SE), Erika Hilton (PSOL-SP), Lunna da Silva (PSB-MG) e Duda Salabert (PDT-MG). Felizmente, a lista é maior, e inclui, por exemplo, Dani Balbi (PC do B), primeira deputada transexual da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
Esses são os nomes de algumas das mulheres que contribuem para a TRANSformação do sistema político brasileiro, ampliando o espaço e a visibilidade trans em um congresso marcado historicamente pelo preconceito e exclusão de minorias, como a comunidade LGBTQIAP+.
O aumento do espaço conquistado por elas na democracia brasileira pode ser caracterizado pela ampliação crescente da presença e participação de mulheres trans e travestis na política. No último período eleitoral, foram 70 candidatas – 35% a mais em relação às eleições de 2018, segundo a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Cinco foram eleitas.
A política para as mulheres trans e travestis é considerada como uma – ou a única – forma de mudar toda estrutura transfóbica existente no país. A equiparação da transfobia ao crime de racismo e a incorporação das mulheres trans na lei Maria da Penha são um reflexo da importância da presença delas no sistema político para o alcance de direitos e aumento da visibilidade.
Meta é acabar com distanciamento da política
“Para mim, o que me dá mais gás é saber que a minha história pode servir de inspiração, de motivação para outras mulheres trans, travestis, negras, mulheres da periferia, que sentem isso que eu sentia, que era um distanciamento da política”, afirma Linda Brasil, deputada estadual de Sergipe.
Para ela, durante muito tempo as mulheres transexuais estiveram – e ainda estão – à margem do sistema político do país. Por isso, a presença delas nas cadeiras dos parlamentos é essencial para o combate à discriminação e garantia da representatividade trans na sociedade.
Violência é grande e inaceitável
Por outro lado, observa-se um dilema: apesar da maior presença das mulheres trans e travestis na política, a violência contra os transexuais cresce no país. Segundo a ONG Trangender Europe, o Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. Foram 96 mortes em 2022, mais que o dobro do índice do segundo colocado, o México.
Além disso, no território nacional, de acordo com a ANTRA, os transexuais são as pessoas que mais sofrem com abandono familiar, desemprego, possuem menor escolaridade, menor expectativa de vida e maior dificuldade no acesso ao ensino superior.
Discriminação mesmo dentro das casas legislativas
No sistema político, as dificuldades não são menores e a discriminação é constante. Em 23 de fevereiro deste ano, Lunna da Silva, vereadora de Pompéu, município de Minas Gerais, foi vítima de transfobia enquanto participava da votação de um projeto na Câmara da cidade.
Na situação, o presidente da Câmara Municipal de Pompéu, Normando José Duarte (PDT) empregou pronomes masculinos para se referir à Lunna, utilizando “senhor” repetidas vezes.
“No início tinha muitos olhares, gestos, maneiras de falar. Você que já sofreu violência a vida inteira sabe quando é preconceito ou não. O que ela está fazendo aqui? Eles se perguntaram assim, só que não tão publicamente como fez o atual presidente da câmara de Pompéu”.
Ao ser questionada sobre suas vivências de mulher trans parlamentar, a vereadora alega que “vinha sofrendo calada, e por ser uma pessoa do social, que lida com crianças, não queria manchar meu mandato com esse tipo de denúncia”, afirma Lunna.
Mudar o sistema político por dentro
Apesar da luta e repressão que as mulheres trans e travestis sofrem nas casas legislativas, a presença delas na política é vista como um ato de resistência. Através delas, a visibilidade, a representatividade e o alcance de direitos para a comunidade LGBTQIAP+ são aumentados.
“Eu já sofri bastante. Aqui na minha cidade fui humilhada, espancada, todo tipo de ato eu já passei, mas naquela época eu não conhecia a lei. Agora não, agora eu estou dentro da casa do povo e produzindo leis para o povo. Então eu conheço as leis. Sei cobrar e buscar meus direitos. A política para mim é uma das coisas mais bonitas, quando bem feita. A política pode transformar toda a comunidade“, diz Lunna da Silva.
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