O degradado centro velho da capital paulista conquista um local que dignifica a história de sua imensa população periférica, o Museu das Favelas, instalado no Palácio Campos Elíseos, casarão que, por mais de um século, representou a elite econômica e política de São Paulo.
“Este museu significa a reconquista do centro pelos pobres que foram sempre expulsos das áreas que se tornavam centrais. É para mostrar nossa potencialidade, trocar ideias, ficar à vontade”, define o bibliotecário Sidnei Rodrigues, 44 anos, convidado, pelo perfil de homem negro, para cuidar do acervo de mil exemplares da biblioteca focada em literatura marginal e assuntos da periferia.
Em uma cidade imensa como São Paulo, muitas vezes o centro é o melhor lugar para reunir quem mora nas bordas. Foi assim no surgimento da cultura hip hop, nos anos 80, quando o metrô facilitou o encontro de jovens para dançar na estação São Bento, próxima ao Museu das Favelas.
Quem toca o Museu vem das quebradas
A maioria dos funcionários é constituída de jovens negras e negros moradores da periferia, de bairros como Capão Redondo, Sapopemba, Brasilândia. Também vieram da Região Metropolitana, como Diadema, Osasco e Embu das Artes. Funcionárias que faziam a limpeza do prédio são agora auxiliares da administração.
Cicero Silva, falante orientador de visitas, 22 anos, foi recrutado em São Mateus, zona Leste, distante mais de 20 quilômetros do centro. A oportunidade de trabalho incentiva mudanças pessoais, como voltar à escola. Ele está concluindo o Ensino Fundamental.
Além das exposições e de cursos de empreendedorismo, uma das ações do Museu é buscar visitantes nas periferias, gratuitamente. Um ônibus faz o traslado. A reportagem presencia a chegada de 30 crianças e jovens de Sapopemba, a maioria nunca tinha entrado em um museu.
Oportunidades para os periféricos
Um jovem casal que visita a biblioteca nunca tinha entrado em um museu. Julia Andrade, 19 anos, de Mogi das Cruzes, e Jonathan Henrique, 21, de Suzano, leem juntos o livro sobre a história do grupo Racionais MC´s – concidentemente, no dia anterior, os rappers tinham dado uma aula aberta na Universidade de Campinas (Unicamp).
O namorado esta no Museu para ser contratado como programador. Ele é autodidata. “Gostei bastante do local. É muito conhecimento. Vou passar para os meus pais quando chegar em casa”, diz Henrique.
Museu das Favelas muda percepções
O livro Novos Rumos da Comunicação Comunitária no Brasil, a ser lançado amanhã, terá exemplares doados para a biblioteca do Museu das Favelas. O acervo deve ser aumentado com obras compradas diretamente de autoras e autores periféricos. Vou resumir em uma palavra: representatividade”, diz Weverton Martins, 24 anos, monitor.
Apesar de pouco tempo de funcionamento do Museu das Favelas, quatro meses, o funcionário Weverton Martins está marcado por uma visita. Na chegada de um grupo de jovens, diante da suntuosidade do local, com colunas revestidas de ouro, Martins ouve: “não vejo nada de favela neste local”.
Na saída, a percepção do visitante havia mudado: “Esse palácio é meu, porque meus ancestrais fizeram este lugar”.
Serviço
Lançamento do livro Novos Rumos da Comunicação Comunitária no Brasil
Local: Museu das Favelas
Av. Rio Branco, 1269 – Campos Elíseos, São Paulo
8 de abril, 16 horas
Entrada gratuita
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